Chimpanzés desenvolvem forma de comunicação à distância

Pesquisadores detectaram um certo comportamento adquirido entre os chimpanzés que pode revelar uma forma de comunicação à distância
Flavia Correia27/05/2025 12h07, atualizada em 28/05/2025 21h16
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Um artigo publicado este mês na revista Biology Letters revela que chimpanzés selvagens da África Ocidental usam pedras para fazer sons, possivelmente como forma de comunicação. A descoberta foi feita por cientistas da Universidade de Wageningen (WUR), na Holanda, em parceria com o Centro Alemão de Pesquisa de Primatas.

Ao longo de cinco anos, a equipe observou chimpanzés em cinco pontos de uma reserva natural na Guiné-Bissau. Usando câmeras escondidas e com apoio de guias locais, os pesquisadores registraram um comportamento curioso: chimpanzés machos batiam pedras contra troncos de árvores, formando pilhas de pedras na base delas.

A líder do estudo, Sem van Loon, mestre em ciências animais pela WUR com especialização em ecologia e conservação da natureza, disse que esse comportamento foi chamado de “percussão assistida por pedra”. Em um comunicado, ela o compara ao tamborilar tradicional, quando os chimpanzés batem mãos ou pés em raízes ocas para emitir sons e se comunicar à distância ou demonstrar força.

Segundo a pesquisadora, há diferenças importantes. No caso das pedras, os chimpanzés fazem sons agudos antes da batida e ficam em silêncio depois. No tamborilar tradicional, o silêncio vem antes – o que sugere que o novo comportamento tem outro propósito.

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Comportamento é aprendido culturalmente pelos chimpanzés

Van Loon acredita que o som da pedra contra a árvore é mais forte e viaja melhor pelas florestas densas. Assim, os chimpanzés podem estar tentando se comunicar com grupos mais distantes, fora da sua convivência direta.

Outro ponto importante é que esse comportamento parece ser aprendido, não instintivo. Os cientistas notaram que chimpanzés jovens imitam os adultos, o que indica uma forma de transmissão cultural entre eles.

Para o professor Marc Naguib, supervisor da pesquisa, isso reforça que a cultura não é algo exclusivo dos humanos. Segundo ele, reconhecer esses comportamentos culturais em animais ajuda a entender melhor a complexidade das espécies e pode influenciar ações de conservação da natureza.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.