Pesquisadores alemães estudaram os efeitos dos grandes declínios de mamíferos — causados por uma guerra civil e pela caça ilegal — na composição das espécies de lagoas de savanas na África. Eles descobriram que a morte de herbívoros de grande porte levou a mudanças significativas dentro desses pequenos ecossistemas de água doce.

O pesquisador Guillaume Demare, da Universidade Livre de Berlim, conduziu o estudo, que foi publicado nesta quinta-feira (29) na revista Global Change Biology, como parte de seus estudos de doutorado.

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A pesquisa de Demare e sua equipe mostra o quão fortemente diferentes ecossistemas estão interconectados, as extensas consequências que o desaparecimento das espécies tem e como as guerras perturbam a natureza a longo prazo.

a) Exemplo de aumento da vegetação de 1992 (amarelo – antes da guerra) para 2014 (verde – depois da guerra), que coincidiu com a perda de grandes herbívoros mamíferos; ambas as fotografias foram tiradas no mesmo local da lagoa no final da estação chuvosa. b) Dados de levantamento aéreo de mamíferos de grande porte (com valores mínimos e máximos) no Parque Nacional de Comoé em 1989 (amarelo – antes da guerra) e 2016 (verde – depois da guerra). Créditos: Global Change Biology (2022)

Eles se concentraram nos anfíbios de savana do Parque Nacional de Comoé, na costa norte do Marfim, África Ocidental, usando dados coletados antes e depois das mudanças no ecossistema.

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“Coletar dados sobre o estado dos ecossistemas, tanto passado quanto presente, é absolutamente essencial se quisermos entender os efeitos ecológicos complexos em nosso mundo em mudança”, diz Mark-Oliver Rödel, pesquisador do Museu de História Natural de Berlim e coautor do artigo.

Os primeiros dados foram coletados na década de 1990. Cerca de 10 anos depois, uma guerra civil eclodiu na Costa do Marfim. Durante esse tempo, o parque ficou desprotegido. Dessa forma, a caça furtiva intensificou-se a tal ponto que o Parque Nacional de Comoé foi declarado Patrimônio Mundial em Perigo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

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Quando os pesquisadores retornaram à área em 2014, notaram que o ecossistema de savanas havia passado por mudanças dramáticas. A vegetação parecia ter aumentado significativamente em todo o parque, incluindo as lagoas que haviam sido amostradas 20 anos antes.

“Há pouquíssimas dúvidas de que essas mudanças na vegetação foram causadas pela perda de grandes herbívoros, como hipopótamos e búfalos”, explica Demare. “Esses animais de grande porte são frequentemente chamados de ‘engenheiros ecossistêmicos’ porque suas atividades moldam ecossistemas inteiros”.

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A equipe liderada por Demare foi a primeira a investigar o impacto da perda de mamíferos herbívoros em pequenos corpos temporários de água, que são fortemente utilizados por esses animais para beber e se banhar.

“Pequenas lagoas temporárias são ecossistemas mal estudados, embora muitas espécies dependam delas para reprodução”, disse Demare. “Mudanças de habitat, como o aumento dramático da vegetação que medimos, foram acompanhadas por alterações significativas nas espécies encontradas dentro delas: algumas se tornaram mais populosas, enquanto outras diminuíram ou desapareceram”.

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Os resultados da pesquisa representam um passo importante para entender melhor as muitas maneiras pelas quais o declínio de grandes mamíferos pode influenciar tanto os ecossistemas aquáticos do planeta quanto os adjacentes. 

“Além disso, a maioria das espécies encontradas em pequenas lagoas efêmeras também tem uma fase de vida adulta terrestre, por isso criam possíveis ligações ecológicas cruciais entre terra e água”, explica Demare. “O próximo passo em nossa linha de pesquisa é elucidar ainda mais o quão importantes são os pequenos corpos d’água para o funcionamento dos ecossistemas aquáticos e terrestres”.

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