Depois de um ano de desenvolvimento, iniciado em 27 de março de 2020, o Instituto Butantan anunciou nesta sexta-feira (26) a Butanvac, sua candidata a vacina contra a Covid-19. A entidade vai solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no decorrer do dia a autorização para o início dos testes clínicos da fórmula em humanos.

A Butanvac vai usar a mesma tecnologia aplicada na vacina da gripe. A escolha faz sentido: além de essa ser a expertise do Butantan, a opção permite utilizar a estrutura já existente na entidade para a fabricação do novo imunizante. A aplicação em voluntários deve ter início em abril e o instituto espera ter tudo finalizado até julho para distribuir as doses no segundo semestre.

Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica da entidade, ressalta que, neste momento crítico, precisamos de mais vacinas. “Nós sabemos produzir a Butanvac, temos tecnologia para isso e sabemos que vacinas inativadas são eficazes contra a Covid-19″, reforça.

Ovo embrionado

A fórmula tem como base o vetor viral. Funciona assim: os cientistas pegam a proteína spike do novo coronavírus de forma íntegra – ela é a chave usada pelo microrganismo para entrar nas células – e a inserem em um vírus inofensivo.

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Para a Butanvac, o vírus escolhido foi o que causa a Doença de Newcastle, uma infecção de aves que não afeta os seres humanos. Esse aspecto torna a fórmula bastante segura. Depois de pronto, esse agente é injetado em ovos de galinha embrionados – o processo é semelhante ao usado na fabricação das vacinas contra a gripe e contra a febre amarela –, onde se desenvolve bem, já que é um vírus que ataca aves.

Ovos embrionados são usados na produão da Butanvac
Proteína do novo coronavírus é inserida em vetor viral e cultivada em ovos de galinha embrionados. Imagem: yarm_sasha/Shutterstock

Esses ovos, então, ficam incubados por três dias, tempo suficiente para que o vírus se multiplique milhões de vezes. Depois disso, o material é extraído do ovo e processado para que o vírus seja inativado – de modo a tornar o imunizante ainda mais seguro.

Quando esse microrganismo preparado é injetado no corpo humano em forma de vacina, o sistema imunológico o identifica e passa a produzir anticorpos contra ele. A técnica também foi escolhida pela Bio Distributed, uma startup americana que trabalha na criação da vacina universal contra a gripe.

Sergio Siqueira, professor do curso de Farmácia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), fez um infográfico que ilustra o processo de produção da Butanvac. Veja a seguir:

Infográfico Butanvac
Imagem: Sergio Siqueira/Reprodução

Vacina de baixo custo

Como a tecnologia é simples, acredita-se que a Butanvac vai ter custo baixo. “A ideia é que ela atenda a países de baixa e média rendas”, diz Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan. 

Segundo a entidade, devem participar dos testes os grupos que não são considerados como prioritários pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Por enquanto, não há mais detalhes sobre quem pode se voluntariar como participante nem como isso pode ser feito.