Apple amplia a segurança para impedir vazamentos, mas e os direitos humanos?

Histórico criminal limpo, monitoramento de localização em tempo real e mais seguranças estão entre algumas das novas medidas de segurança
Por Rafael Arbulu, editado por Wellington Arruda 26/03/2021 17h55
Imagem mostra a logomarca da Apple ao fundo, bem iluminada e acompanhada de uma silhueta de seu fundador, Steve Jobs
Imagem: hanohiki/Shutterstock
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A Apple promoveu uma série de mudanças na segurança de suas fábricas, a fim de impedir vazamentos de informações sobre iPhones e outros produtos ainda não lançados. As medidas tomadas são bem variadas, indo desde apresentação de histórico criminal limpo para funcionários terceirizados, até o monitoramento ativo de posições de cada colaborador dentro da fábrica.

Desde que o iPhone foi anunciado em 2007, a Apple sempre foi reconhecida por guardar seus segredos com um rigor extremo. Isso mudou com aparelhos já não tão recentes, como do iPhone 4 em diante – todos, objetos de vazamentos bem certeiros que acabam tirando a surpresa dos eventos de revelação dos produtos. Segundo um documento oficial obtido pelo The Information, a empresa quer mudar isso.

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A primeira medida adotada pela Apple refere-se à coleta de informações biométricas de parceiros no chão de fábrica. Impressões digitais e escaneamentos faciais feitos por funcionários da Apple agora estão proibidos, mas essa regra não se estende para trabalhadores da linha de produção – estes, ainda terão que submeter digitais e rostos para registro e confirmação de identidade.

Um segundo parâmetro cita a verificação de antecedentes criminais. Todos os funcionários terceirizados agora deverão apresentar um certificado de que nunca tiveram problemas com a lei, ou não terão mais acesso a partes das fábricas onde produtos não divulgados estejam sendo discutidos ou montados.

Apple muda práticas em fábricas para impedir vazamentos
Medidas de segurança da Apple visam proteger produtos ainda não revelados de serem vazados na mídia. Imagem: CBS/Reprodução

O software dos computadores das fábricas também está sendo alterado, adquirindo a capacidade de monitorar o tempo médio gasto por um funcionário em uma determinada posição antes de seguir para a outra etapa da montagem. Se esse tempo for acima ou abaixo da média por qualquer razão, um alarme notificará o gerente de área para averiguação.

Finalmente, os seguranças de algumas das fábricas deverão manter consigo um registro de acesso onde vão catalogar a movimentação de funcionários entre uma área e outra. Eles também deverão exigir de visitantes uma identificação governamental, e fazer com que as câmeras de cancelas e estacionamentos capturem todos os lados de um veículo que entrar ou sair do local. Também é citado que a destruição de aparelhos descartados seja capturada em vídeo, que será armazenado pela própria Apple por pelo menos 180 dias.

Nova política viola os direitos humanos?

Evidentemente, a Apple pode se reservar ao direito de ampliar as medidas de segurança sobre seus produtos a fim de protegê-los de divulgações não planejadas.

Medidas do tipo, provavelmente, teriam impedido o vazamento do iPhone 4 há tantos anos: na ocasião, um funcionário estava com um protótipo quase finalizado do smartphone em um bar. Por um descuido, ele acabou deixando o aparelho no local, que acabou parando nas mãos de um jornalista Gizmodo nos EUA. Mas esse vacilo veio de um funcionário da própria Apple, e não de um colaborador terceirizado.

A situação, porém, poderia ter um timing melhor: recentes manifestações da Apple mostram que a empresa vinha adotando um discurso amigável aos direitos humanos e de privacidade de seus usuários. Os apps da App Store agora são obrigados a identificar expressamente quais dados do consumidor eles coletam, além da empresa de Cupertino forçar desenvolvedores a pedir pela permissão dos usuários para o monitoramento ativo em caso de apps para o iPhone ou iPad.

As medidas listadas acima, porém, mostram que a empresa está disposta a revogar suas próprias diretrizes em nome da proteção de produtos. A Apple não detalhou se as novas práticas valem, por exemplo, para seus funcionários internos. Sem falar que o armazenamento de informações, dados biométricos e vídeos também toca na proteção à privacidade, algo que a Apple afirma proteger com todas as forças.

Mantendo-se fiel à sua política interna, a Apple não comentou as informações divulgadas.

Fonte: The Information

Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Wellington Arruda é redator(a) no Olhar Digital