Nos próximos meses, a Apple implementará a esperada (e temida) política de privacidade de “transparência de rastreamento de aplicativos“, que permitirá aos usuários decidir se concordam que seus dados sejam rastreados por apps e sites. Na prática, a medida torna o rastreamento mais difícil para empresas que faturam com propaganda direcionada.

O App Tracking Transparency (ATT) exigirá que os aplicativos disparem uma notificação pop-up dizendo que o software “gostaria de permissão para rastreá-lo em aplicativos e sites de propriedade de outras empresas”. A novidade viria com o lançamento do iOS 14, iPadOS14 e tvOS14, mas foi adiada para dar mais tempo aos desenvolvedores.

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As principais prejudicadas serão as data brokers – empresas que coletam, armazenam, processam, compram e vendem dados dos usuários. Elas agregam milhares informações para criar perfis de consumidores que podem ser usados ​​para publicidade direcionada. Um relatório de privacidade publicado pela Apple menciona data brokers que coleta dados de 700 milhões de usuários do mundo todo, construindo perfis que incluem até cinco mil características.

Tela da App Store
Aplicativos que não cumprirem as novas regras da Apple serão retiradas da App Store a partir de 2021. Imagem: ParampreetChanana/Pixabay

Empresas de tecnologia de publicidade, mídias sociais e outras plataformas também coletam grandes quantidades de informações dos usuários. De acordo com a Apple, um aplicativo médio tem seis rastreadores, que na maioria dos casos permitem que terceiros coletem e vinculem dados de muitas fontes diferentes.

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Ou seja, mesmo usando um único aplicativo, o usuário cede dados para vários de bancos de dados diferentes, muitas vezes sem o seu conhecimento. A Apple quer que as pessoas possam escolher se permitem que os aplicativos coletem esses dados, e exibirá nas configurações do aparelho quais apps solicitaram permissão para o rastreamento.

Mercado reage às mudanças nos termos de privacidade da Apple

A mudança na política de privacidade, porém, vem sofrendo diversas críticas por parte de outras empresas. O Facebook, por exemplo, descreveu a ferramenta como potencialmente prejudiciais para as pequenas empresas, enquanto indiretamente beneficia a própria Apple.

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Por muito tempo, a Apple forneceu aos aplicativos um identificador exclusivo, conhecido como “Identifier for Advertisers” (IDFA), que permitia que fabricantes de apps e redes de anúncios sigam as atividades do usuário, usando seus dados para direcionamento de produtos. Mas agora, a empresa exigirá que os aplicativos mostrem aos usuários uma mensagem pop-up para obter seu consentimento para acessar seu IDFA.

O vice-presidente de anúncios e produtos de negócios do Facebook, Dan Levy, argumentou que muitos negócios confiam na publicidade para ganhar dinheiro, e que pequenas empresas podem acabar tendo um corte de mais de 60% nas vendas sem anúncios personalizados.

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Sem a verba de publicidade, desenvolvedores também podem ser incapazes de fornecer aplicativos gratuitos – e terão que recorrer a modelos baseados em assinatura. Para Levy, isso acabará aumentando os lucros da Apple. De acordo com Eric Seufert, especialista em aquisição de usuários, o Facebook pode sofrer um impacto de 7% na receita – uma perda de dezenas de bilhões de dólares – como resultado das mudanças.

Impacto no faturamento

“A Apple pode dizer que está fazendo isso para ajudar as pessoas, mas as medidas claramente visam seus interesses competitivos”, afirmou o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg. A rede social pretende acionar a Justiça, argumentando que a Apple força os desenvolvedores de aplicativo a aceitarem as regras da App Store, mas não faz o mesmo com seus próprios apps.

Mark Zuuckerberg, CEO do Facebook. Imagem: Frederic Legrand/Shutterstock

“As mudanças na ATT da Apple reduzirão a visibilidade das principais métricas que mostram como os anúncios geram conversões (como instalações e vendas de aplicativos) e afetarão como os anunciantes precificam impressões de anúncios”, explicou o gerente de produtos do Google Ads, Christophe Combette. “Dessa forma, os anunciantes de aplicativos podem ter um impacto significativo em sua receita de anúncios do Google no iOS depois que as políticas entrarem em vigor”, completou, em comunicado oficial.

Para ajudar a melhorar as taxas de monetização do iOS, Combette aconselhou que os desenvolvedores devem atualizar para a versão 7.64 do Google Mobile Ads SDK para novos recursos como SKAdNetwork, que é o substituto da Apple para anúncios IDFA direcionados.

“Também encorajamos os anunciantes a monitorar o desempenho e a entrega de todas as campanhas de aplicativos iOS e, se necessário, fazer ajustes nos orçamentos para atingir seus objetivos”, completa o executivo do Google.

Via: ZDNet/VentureBeat/Reuters