Com pouco menos de três meses desde a chegada de 2021, mais de 28 mil brasileiros morreram de Covid-19 sem passar por uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Isso significa que 38% das vítimas, de um total de 73.105 mortes registradas pelo vírus neste ano, não conseguiram ser internadas, de acordo com dados do Sivep-Gripe.

O levantamento, feito pelo O Globo, considerou óbitos de pacientes diagnosticados com Covid-19 e indivíduos que foram classificados com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não específica — cujos sintomas englobam perda de olfato ou paladar, febre acompanhada de tosse, baixa saturação de oxigênio no sangue, dor de garganta, falta de ar e desconforto respiratório — durante as 11 primeiras semanas de 2021.

Em algumas regiões, a taxa chega a ser ainda mais alta: em Santa Catarina, por exemplo, o número de vítimas de Covid-19 que não passaram pela UTI não baixa dos 53% há quatro semanas. No Rio Grande do Sul, o índice ultrapassou os 50% no começo de março, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro alcançam marcas de 41% e 35%, respectivamente.

Os dados reforçam o colapso do sistema de saúde brasileiro, fato que já era previsto por conta do aumento de casos desde dezembro de 2020 e pela lentidão do Governo Federal em adotar ações para combater a Covid-19 no país. Para se ter ideia, na semana que terminou no último sábado (20), cerca de 727 hospitais brasileiros registraram mais de 50% de mortes de pacientes que não estiveram na UTI.

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“Todo o Brasil está em colapso, e o primeiro sinal é a morte fora do hospital, em casa”, apontou Domingos Alves, cientista da USP de Ribeirão Preto.

Leitos do Hospital Nossa Senhora das Graças totalmente ocupados por conta dos casos de Covid-19
Brasil sofre com superlotação de leitos de UTI por conta da alta taxa de infectados pelo coronavírus. Foto: Hospital Nossa Senhora das Graças/Divulgação

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Situação pode ficar ainda pior

Um outro levantamento feito pelo jornal apontou que, até a última sexta-feira (27), 5.432 indivíduos estão na fila de UTIs para vagas de Covid-19. O problema é que a falta de leitos aumenta o risco de vida dos pacientes e pode ser um agravante para um novo aumento das taxas de mortes diárias.

“É preciso descobrir quantas pessoas estão na fila de espera e por quanto tempo. Elas morrem em ambulâncias, sem testagem, e nem entram nas estatísticas. As mortes por falta de atendimento vão aumentar as médias móveis, vamos passar facilmente dos 5.000 óbitos diários”, reforçou o cientista.

Para piorar, muitos pacientes que precisam de hospitais ficam nas UPAs, unidades de pronto atendimento do SUS, cujas estruturas não foram projetadas para medicina intensiva em massa. E como os hospitais estão superlotados, a transferência para unidades melhores estruturadas dá-se de forma lenta, o que aumenta os riscos de mortes de pacientes com Covid-19.

“Sabemos que, se um paciente muito grave ficar na UPA, sem estrutura adequada, ele vai morrer. Então, se aparece uma vaga o transferimos, tentamos lhe dar uma chance. Ele pode morrer no caminho, ele pode morrer na chegada. Mas a chance de sobreviver ainda que reduzida, é maior do que se ficar na UPA”, afirmou Guilherme Martins, médico plantonista da UTI do Hospital Universitário Clementino Fraga (UFRJ) e da UPA do Engenho Novo.

É claro que novas estruturas, mesmo que improvisadas, podem disponibilizar mais leitos aos enfermos. No entanto, enquanto a disseminação do novo coronavírus não for freada no Brasil, a situação só tende a piorar.

Fonte: O Globo