Review – ‘Making a Murderer’: a verdade incomoda

Ao longo de 20 episódios, 'Making a Murderer' mostra de forma minuciosa como dois homens foram presos e condenados de maneira injusta
Por Tamires Ferreira, editado por André Lucena 22/04/2021 19h07, atualizada em 23/04/2021 15h44
Making a Murderer
Making a Murderer. Créditos: Netflix/Divulgação
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‘Making a Murderer’ é indiscutivelmente um sucesso do segmento de produções que apresentam casos criminais. A série documental, lançada em 2015 pela Netflix, foi produzida pelas diretoras norte-americanas, Laura Ricciardi e Moira Demos, e conta a história verídica de Steven Avery e Brendan Dassey, tio e sobrinho respectivamente, que foram presos e condenados, de acordo com a série, de maneira injusta. No caso de Steven, sendo pela segunda vez.

Em duas partes, com um total de 20 episódios e mais ou menos uma hora de duração cada, a série mostra de forma extensa e minuciosa a luta do mecânico e do estudante, ainda menor de idade, para provar que não estupraram e assassinaram de forma brutal Teresa Halbach, uma fotógrafa que foi vista pela última vez na casa da família Avery.

Na década de 1980, Steven foi preso acusado de estrupo e, após passar 18 anos na cadeia por algo que não cometeu, conseguiu provar sua inocência, tornando o caso e sua persona famosos e com proporção nacional nos Estados Unidos, principalmente por processar o Estado pedindo uma quantia milionária pelo erro.

A série assume de várias formas o lado dos acusados e evidencia diversos erros na justiça americana. Com uma produção de cerca de 10 anos, ‘Making a Murderer’ acompanhou o caso de perto desde o começo e mostra além do sofrimento e conflito familiar, o desencontro de informações, inclusive, dentro da família, dezenas de provas documentadas, infindáveis testemunhos, estratégias e reuniões de advogados e a gravação in loco de julgamentos conforme o avanço dos processos.

Toda série “true crime” exige um cuidado ao ser assistida e analisada. Com ‘Making a Murderer’ não é diferente. Porém, apesar de ser taxada por críticos como tendenciosa, a produção trabalha com grande volume de documentos factuais e provas que indicam uma possível ação corruptiva da polícia para incriminar Steve Avery, o que na época de seu lançamento deixou algumas autoridades americanas furiosas.

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A série traz diversas verdades possíveis, de diferentes pessoas, que incomodam não apenas um lado, mas todos. A possibilidade de a Justiça errar e escolher continuar errando desestrutura lados não apenas da instituição Justiça, que é algo sensível, mas também de pessoas convictas da sua verdade absoluta, seja ela parte do caso, da família Avery ou apenas uma espectadora. Prova disso é o conflito que a série gerou transformando o caso em algo não apenas criminal, mas político.

De forma mais profunda, o documentário também tenta evidenciar em sua primeira parte o pré-julgamento de alguém antes mesmo dela adentrar as portas de um tribunal, talvez por sua classe social, pela forma como fala e até pela vestimenta e trabalho. Fato muito discutido não apenas nos EUA, mas em todo o mundo. É o famigerado preconceito.

Além de tentar elucidar algumas dúvidas levantadas por espectadores sobre a primeira parte, a segunda temporada de ‘Making a Murderer’ toca em um ponto ainda mais delicado, a mídia e sua influência, levando em consideração o próprio documentário, que levou o caso a conhecimento internacional gerando debates políticos, manifestações e discussões na internet com hashtags pela inocência ou culpabilidade dos acusados.

Com a participação da nova e conhecida advogada de Steven Avery, Kathleen Zellner, a segunda parte torna a série mais densa, já que soma ainda mais provas que inocentam Avery, principalmente pelo avanço da tecnologia. Zellner se torna a principal protagonista, relembrando, de forma positiva e inteligente nas articulações, a personagem da advogada Annalise Keating, interpretada por Viola Davis, da série dramática e misteriosa ‘How to Get Away a Murderer’, de Shonda Rhimes.

O documentário entrega aquilo que pretende, a história de homens possivelmente inocentes. Mas em respeito ao outro lado da história, já que elas sempre têm duas e até mais versões, as diretoras, que se defendem das críticas lembrando ao público que a produção se trata de um audiovisual apenas e não de um julgamento, estruturam na segunda parte da série algo talvez menos “tendencioso” e convidam personagens importantes do caso para contar o seu lado. Entretanto, a equipe não obteve resposta de alguns e diversos pedidos foram negados. A produção fez questão de a cada final de episódio mostrar os nomes das pessoas que não quiseram participar.

Como já mencionado, toda a história tem mais de uma versão e pode ser não apenas contrariada como contada de outra forma. O documentário desperta em quem assiste uma sede de justiça ao mesmo tempo em que faz surgir um sentimento de conformismo e “mãos atadas” em relação ao sistema, já que todos os esforços da Defesa de Steve e Brendan são minados pelo Estado.

Agora, os fãs de ‘Making a Murderer’ aguardam além de uma terceira temporada, outra versão do caso prometido pelo documentarista Shawn Rech e anunciada pela Netflix em 2018. A obra será um tipo de contrapartida do primeiro documentário e já promete grandes reviravoltas, ninguém sabe para que lado.

Tamires Ferreira
Redator(a)

Tamires Ferreira é jornalista formada pela Fiam-Faam e tem como experiência a produção em TV, sites e redes sociais, além de reportagens especiais. Atualmente é redatora de Hard News no Olhar Digital.

André Lucena
Ex-editor(a)

Pai de três filhos, André Lucena é o Editor-Chefe do Olhar Digital. Formado em Jornalismo e Pós-Graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, ele adora jogar futebol nas horas vagas.