‘Making a Murderer’ é indiscutivelmente um sucesso do segmento de produções que apresentam casos criminais. A série documental, lançada em 2015 pela Netflix, foi produzida pelas diretoras norte-americanas, Laura Ricciardi e Moira Demos, e conta a história verídica de Steven Avery e Brendan Dassey, tio e sobrinho respectivamente, que foram presos e condenados, de acordo com a série, de maneira injusta. No caso de Steven, sendo pela segunda vez.

Em duas partes, com um total de 20 episódios e mais ou menos uma hora de duração cada, a série mostra de forma extensa e minuciosa a luta do mecânico e do estudante, ainda menor de idade, para provar que não estupraram e assassinaram de forma brutal Teresa Halbach, uma fotógrafa que foi vista pela última vez na casa da família Avery.

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Na década de 1980, Steven foi preso acusado de estrupo e, após passar 18 anos na cadeia por algo que não cometeu, conseguiu provar sua inocência, tornando o caso e sua persona famosos e com proporção nacional nos Estados Unidos, principalmente por processar o Estado pedindo uma quantia milionária pelo erro.

A série assume de várias formas o lado dos acusados e evidencia diversos erros na justiça americana. Com uma produção de cerca de 10 anos, ‘Making a Murderer’ acompanhou o caso de perto desde o começo e mostra além do sofrimento e conflito familiar, o desencontro de informações, inclusive, dentro da família, dezenas de provas documentadas, infindáveis testemunhos, estratégias e reuniões de advogados e a gravação in loco de julgamentos conforme o avanço dos processos.

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Toda série “true crime” exige um cuidado ao ser assistida e analisada. Com ‘Making a Murderer’ não é diferente. Porém, apesar de ser taxada por críticos como tendenciosa, a produção trabalha com grande volume de documentos factuais e provas que indicam uma possível ação corruptiva da polícia para incriminar Steve Avery, o que na época de seu lançamento deixou algumas autoridades americanas furiosas.

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A série traz diversas verdades possíveis, de diferentes pessoas, que incomodam não apenas um lado, mas todos. A possibilidade de a Justiça errar e escolher continuar errando desestrutura lados não apenas da instituição Justiça, que é algo sensível, mas também de pessoas convictas da sua verdade absoluta, seja ela parte do caso, da família Avery ou apenas uma espectadora. Prova disso é o conflito que a série gerou transformando o caso em algo não apenas criminal, mas político.

De forma mais profunda, o documentário também tenta evidenciar em sua primeira parte o pré-julgamento de alguém antes mesmo dela adentrar as portas de um tribunal, talvez por sua classe social, pela forma como fala e até pela vestimenta e trabalho. Fato muito discutido não apenas nos EUA, mas em todo o mundo. É o famigerado preconceito.

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Além de tentar elucidar algumas dúvidas levantadas por espectadores sobre a primeira parte, a segunda temporada de ‘Making a Murderer’ toca em um ponto ainda mais delicado, a mídia e sua influência, levando em consideração o próprio documentário, que levou o caso a conhecimento internacional gerando debates políticos, manifestações e discussões na internet com hashtags pela inocência ou culpabilidade dos acusados.

Com a participação da nova e conhecida advogada de Steven Avery, Kathleen Zellner, a segunda parte torna a série mais densa, já que soma ainda mais provas que inocentam Avery, principalmente pelo avanço da tecnologia. Zellner se torna a principal protagonista, relembrando, de forma positiva e inteligente nas articulações, a personagem da advogada Annalise Keating, interpretada por Viola Davis, da série dramática e misteriosa ‘How to Get Away a Murderer’, de Shonda Rhimes.

O documentário entrega aquilo que pretende, a história de homens possivelmente inocentes. Mas em respeito ao outro lado da história, já que elas sempre têm duas e até mais versões, as diretoras, que se defendem das críticas lembrando ao público que a produção se trata de um audiovisual apenas e não de um julgamento, estruturam na segunda parte da série algo talvez menos “tendencioso” e convidam personagens importantes do caso para contar o seu lado. Entretanto, a equipe não obteve resposta de alguns e diversos pedidos foram negados. A produção fez questão de a cada final de episódio mostrar os nomes das pessoas que não quiseram participar.

Como já mencionado, toda a história tem mais de uma versão e pode ser não apenas contrariada como contada de outra forma. O documentário desperta em quem assiste uma sede de justiça ao mesmo tempo em que faz surgir um sentimento de conformismo e “mãos atadas” em relação ao sistema, já que todos os esforços da Defesa de Steve e Brendan são minados pelo Estado.

Agora, os fãs de ‘Making a Murderer’ aguardam além de uma terceira temporada, outra versão do caso prometido pelo documentarista Shawn Rech e anunciada pela Netflix em 2018. A obra será um tipo de contrapartida do primeiro documentário e já promete grandes reviravoltas, ninguém sabe para que lado.