Pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Faculdade de Medicina do campus de Ribeirão Preto (FMRP), desenvolveram um robô neurocirurgião para tornar as cirurgias no cérebro de crianças mais rápidas e precisas.

Robô é um braço mecanizado que trabalhará como um guia para os médicos – Imagem: Henrique Fontes/ EESC/Jornal da USP

Por meio do implante de eletrodos no cérebro, é possível fazer o monitoramento de crises de epilepsia em crianças, um dos problemas neurológicos mais frequentes na infância. É um tipo de neurocirurgia pediátrica em que os médicos costumam fazer a maior parte do trabalho de forma manual. 

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Com o auxílio do robô, o procedimento ficará mais prático e ágil, de acordo com o engenheiro Glauco Caurin, professor do Departamento de Engenharia e coordenador do projeto. “O robô conta com câmeras e sensores de distância. Um sistema de inteligência artificial analisa as imagens, os dados captados e mapeia os pontos para inserir os eletrodos. O médico vai ter um guia. Não tem erro. É mais segurança para as crianças que passam por esse tipo de procedimento”.

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Com o implante de eletrodos no cérebro, será possível fazer o monitoramento de crises de epilepsia em crianças, um dos problemas neurológicos mais frequentes na infância. – Imagem: Sutadimages/Shutterstock

Tecnologia alemã

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Para criar a nova tecnologia, os pesquisadores importaram da Alemanha um braço mecânico articulado de última geração com aproximadamente 1,6 metro (m) e 45 quilos (kg), o qual será controlado por códigos computacionais que estão sendo desenvolvidos na EESC. “Estamos aplicando nas cirurgias de cérebro sistemas criados para diferentes áreas e adaptando softwares já disponíveis no mercado, alguns desenvolvidos por universidades brasileiras, para deixar o custo de produção mais barato e, consequentemente, a inovação mais acessível para os hospitais”, afirma Caurin.

Ele explica que, na verdade, o que a gente chama de robô é um braço mecanizado, que tem várias articulações que permitem a esse dispositivo posicionar ferramentas que auxiliam o cirurgião. “Ele consegue ser manipulado e posicionado de forma a carregar as ferramentas que vão ser usadas na cirurgia, próximas da cabeça do paciente.”

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Funcionando como suporte do médico, o robô não irá realizar cirurgias sozinho, apenas servirá como equipamento auxiliar e oferecerá uma segurança a mais. “Quando ele precisar acompanhar ou seguir o que planejou antes da cirurgia, olhando as imagens em 3D do cérebro, ele vai conseguir reproduzir localmente aquilo que deseja com precisão submilimétrica”, acrescenta o professor.

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Também faz parte do equipamento um sistema de imagem 3D que captura a posição do robô, bem como calcula a posição dos equipamentos na cabeça do paciente. “Então, a gente sabe qual a posição precisa da cabeça do paciente para que se possa fazer a inserção de ferramentas. Por fim, tem-se um computador que registra todas essas informações, compartilhando entre o médico, o robô e um software de navegação”, explica Caurin.

Após o procedimento de colocação dos eletrodos, o paciente ficará em observação no Hospital das Clínicas da FMRP por até uma semana. Durante esse período, a equipe vai aguardar a criança ter uma crise convulsiva, para que, a partir dos sinais elétricos emitidos pelos sensores, os médicos consigam identificar a origem da convulsão e planejar com exatidão a retirada da região doente do cérebro.

Ainda não houve teste em seres humanos

Testada em um ambiente que simula o procedimento cirúrgico do início ao fim, dentro de um dos hangares do Departamento de Engenharia Aeronáutica (SAA), a tecnologia ainda não foi aplicada em seres humanos. A estimativa é que, em breve, pelo menos mil crianças atendidas no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto possam ser beneficiadas com o uso da nova tecnologia.

Fonte: Jornal USP