Canadá e Estados Unidos estão sofrendo com uma forte onda de calor. Pelo menos 233 avisos de mortes súbitas foram registrados nos últimos dias na província canadense de Colúmbia Britânica. A cidade de Lytton bateu pelo 3º dia seguido o recorde de maior temperatura já registrada no país: 49,5ºC. Com isso, fica a dúvida: como o calor extremo pode afetar o corpo humano?

O Olhar Digital conversou com o médico Jamiro Wanderley, da Unicamp, em São Paulo. O especialista explicou o que pode levar ao óbito das pessoas expostas a um calor alto repentino e como fazer para evitar maiores danos nessas situações.

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Segundo o médico, o corpo humano possui uma boa capacidade de adaptação, tanto em temperaturas altas, como em desertos, quanto em temperaturas mais baixas, como os polos. No entanto, uma mudança brusca em pessoas que não estão acostumadas pode acarretar em problemas mais severos.

“Nessa situação de calor, o principal sintoma é a desidratação. O corpo começa a transpirar mais e precisa de mais líquido. Nesse caso, quem sofre mais são os extremos de idades. Tanto os mais velhos, que as vezes não conseguem pegar água com frequência, quanto os mais novos, que são pequenos e possuem pouca água no corpo”, disse Wanderley.

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Os sintomas da desidratação incluem sede constante, pouca urina, falta de suor, pele e lábios secos. Em casos severos pode levar a uma redução dos batimentos cardíacos e até mesmo febre baixa. Para evitar quadros como esse é necessário repor líquido, tanto com água quanto com isotônicos.

Além da desidratação, o calor excessivo pode dificultar o funcionamento das enzimas no corpo humano. Esse quadro pode levar a uma moleza e até a quadros de desmaio. Isso pode resultar ainda em pressão baixa. O cuidado precisa ser redobrado também com pessoas cardiopatas, devido a baixa frequência cardíaca que as altas temperaturas podem causar.

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“Para evitar isso, é importante tomar cuidado para não ficar tão exposto ao calor, beber bastante líquido, manter o local ventilado e ficar de olho nos sintomas”, finaliza o médico.

A onda de calor extremo pode se tornar recorrente

Na última terça-feira (29), os termômetros em Portland, no estado norte-americano do Oregon, atingiram impressionantes 46°C, a temperatura mais alta registrada no local desde que as medições começaram, em 1940. As temperaturas médias para esta época do ano em Oregon são cerca de 23°C normalmente.

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Segundo o Science News, o calor foi tão extremo que derreteu cabos de energia dos bondes de Portland e fez com que asfalto e estradas de concreto no oeste de Washington se expandissem e rachassem.

Essas altas temperaturas são particularmente perigosas em uma região normalmente fria, pouco acostumada ou preparada para isso, aumentando o risco de mortes relacionadas ao calor e outros riscos à saúde. Os níveis de ozônio na altura do solo, por exemplo, atingiram os mais altos já vistos em 2021, e as reações químicas que formam o gás foram ampliadas por uma mistura potente de alto calor e forte luz ultravioleta.

O meteorologista britânico Scott Duncan fez uma série de posts no Twitter sobre o calor incomum e o padrão do jato que criou aquela cúpula de calor sobre o noroeste do Pacífico.

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“Registros históricos indicam que padrões semelhantes de alta pressão trouxeram ondas de calor para a região”, diz O’Neill. Mas, esse é diferente. “Uma onda de calor severa típica no passado podia levar a temperaturas de cerca de 37,7°C, não 46°C”.

Os EUA atravessam uma seca histórica. Quase a metade do país enfrenta a pior estiagem em 20 anos, chamada de ‘megasseca’ pela imprensa americana. Os dados são de um balanço do Monitor de Secas do país divulgado nesta terça-feira (29). Trata-se de um sistema de informação federal criado para acompanhar esse episódio climático. Escassez de água e o risco de incêndios já afetam 11 estados.

Tudo isso representa muitos perigos para o planeta, principalmente para a saúde humana. Em maio, cientistas relataram na Nature Climate Change que 37% das mortes relacionadas ao calor entre 1991 e 2018 foram atribuídas a mudanças climáticas causadas pelo homem.

“Quando falamos sobre mudança climática, muitas vezes a conversa é um pouco mais abstrata”, diz O’Neill. “ Estamos experimentando isso na prática agora”.

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