As novas políticas de trabalho remoto (o popular “home office”) do Google vem causando problemas entre a empresa e seus funcionários, com alguns acusando a gigante da busca na internet de oferecer tratamento especial a funcionários sênior, enquanto a base da pirâmide é forçada a se submeter a cancelamentos de realocação e reajustes salariais mal explicados.
De acordo com Laura De Vesine, uma engenheira de estrutura das páginas do Google na web, as novas normas, previstas para implementação pela empresa em resposta à pandemia da Covid-19, são obscuras. Ela e sua equipe foram notificadas de uma realocação para a Carolina do Norte – algo bem-vindo para ela, já que isso evitaria longas horas de transporte público e preços de aluguel em São Francisco, onde ela está agora.
Entretanto, a mudança viria com 15% de corte em seu salário, em virtude das novas ambientações e o fato de ela trabalhar de casa. Depois, os 15% viraram 25%, sem explicação. Em seguida, a realocação inteira foi cancelada. A situação deixou De Vesine descontente, e ela entregou seu aviso prévio há duas semanas, se demitindo do Google nesta sexta-feira (9).
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“Essa sensação de que eu não posso, de forma realista, deixar a área de São Francisco e continuar trabalhando para o Google foi o suficiente para que eu decidisse ir embora”, disse De Vesine ao CNET. “[É] O fato de o Google não priorizar as necessidades de seres humanos, que as pessoas têm famílias”.
De Vesine não é a única a expor suas tensões com as práticas de trabalho remoto do Google: na última semana, Urs Hölzle, um dos executivos mais antigos da empresa, enviou um e-mail à todos os funcionários, anunciando que ele se realocaria para a Nova Zelândia, trabalhando permanentemente de sua casa.
A medida foi vista pelos funcionários de base como tratamento preferencial por parte do Google, haja vista que, em maio, o CEO do Google e da Alphabet, Sundar Pichai, havia estipulado um modelo híbrido de trabalho, onde todos os funcionários teriam que passar pelo menos três dias de suas semanas dentro do escritório, e o restante, em caráter remoto.
Dentro dessa estrutura, prevista para entrar em funcionamento a partir de setembro, 20% dos funcionários estariam trabalhando remotamente, enquanto outros 20% seriam realocados para escritórios em outras cidades, com revisão salarial e de benefícios refletidas conforme o piso desses novos locais.
Segundo um porta-voz do Google, o pedido de realocação de Hölze foi feito e aprovado em 2020, antes das novas políticas serem criadas. A empresa, porém, não permitiu que o executivo em questão concedesse entrevistas. Isso gerou mais tensão em uma companhia conhecida por funcionários que constantemente criticam suas lideranças: no passado, movimentos organizados por empregados tidos menores atacaram o Google por contratos escusos com o exército, condições de trabalho na China, ações diante de casos de assédio sexual e a demissão injusta de pesquisadoras que questionaram a ética da empresa em projetos de inteligência artificial.
Nos EUA, as campanhas de vacinação seguem em um estado relativamente avançado, embora a retomada completa da economia ainda não tenha sido feita devido a negacionistas se recusarem a tomar as vacinas de imunização contra a Covid-19. As empresas, porém, já lutam para estabelecer novos formatos de trabalho para quando a pandemia acabar no país.
O Twitter e o Reddit, por exemplo, vão adotar um formato completamente remoto, deixando a parte presencial apenas para o que for necessário, como limpeza de escritórios, reuniões administrativas e manutenção de data centers. A Apple também anunciou planos de modelo híbrido ao final de julho.
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