Nasa descobre dois novos lagos de água derretida sob o gelo da Antártida

Descoberta revela que outros lagos, já conhecidos, não são isolados e podem fazer parte de uma rede completa de movimentação aquática
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 13/07/2021 12h55, atualizada em 14/07/2021 10h47
Baía Paraíso (Paradise Bay), porto na Antártida Ocidental. Imagem: Wim Hoek/Shutterstock
Baía Paraíso (Paradise Bay), porto na Antártida Ocidental. Imagem: Wim Hoek/Shutterstock
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Um novo estudo conduzido pela Nasa revela a descoberta de dois novos lagos de água derretida sob o gelo da Antártida. A novidade serve para aprofundar ainda mais um conhecimento já antigo da região mais fria do Pólo Sul.

Os cientistas combinaram dados coletados pelo satélite ICESat, lançado em janeiro de 2003, com sua missão subsequente, a ICESat-2, lançada em setembro de 2018. Como a segunda missão contava com um satélite de observação mais preciso do que o seu antecessor, os especialistas conseguiram dados de altitude nunca antes obtidos, levando a novas conclusões.

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Há mais de uma década, a Nasa já havia descoberto lagos na Antártida, quando a análise dos dados coletados pelo ICESat mostraram que as variações na elevação das camadas de gelo na região eram provenientes de movimentos de água sob elas. Entretanto, pensava-se que essas massas de água líquida eram isoladas — uma porção aqui, outra ali.

Em 2007, porém, foi descoberto que os movimentos da água se davam por uma rede subterrânea, com câmaras que se enchiam e se esvaziavam antes que seus conteúdos escoassem para o oceano do extremo sul.

Agora, com a missão ICESat-2, os cientistas conseguiram uma visão mais detalhada dessas conexões, e descobriram dois novos lagos que passaram despercebidos anteriormente. “O ICESat-2 é como se você colocasse um par de óculos após usar o primeiro ICESat — os dados são de uma exatidão tão alta que nós podemos começar a mapear os limites desses lagos pela superfície”, disse o glaciologista Matthew Siegfried, da Escola de Minas do Colorado.

Junto de sua equipe, Siegfried compilou dados do ICESat, ICESat-2 e também do CryoSat-2, um satélite de observação da Agência Espacial Europeia (ESA), contemplando o período de 2003 a 2020, para monitorar lagos subglaciais ativos para compensar as lacunas de tempo do ICESat-2 — basicamente, o tempo que o satélite leva para sobrevoar a mesma área de novo.

“A deformação da superfície por causa dos lagos subglaciais se enchendo e se esvaziando oferece uma das poucas janelas remotamente acessíveis [de estudo] sobre sistemas aquáticos basais. Esses sistemas estão escondidos a até quatro quilômetros [4 km] de gelo e ainda são umas das maiores incertezas físicas na projeção da dinâmica das camadas de gelo”, disseram os pesquisadores em seu artigo. “A altimetria a laser do ICESat-2 não apenas amplia a avaliação dos lagos subglaciais, como também oferece melhor compreensão do processo hidrológico ao capturar detalhes espaciais mais densos e mais precisos”.

As informações corroboram um estudo de algumas semanas atrás, autorado pela glaciologista Helen Fricker (que, aliás, também está envolvida no paper atual), que indicava uma drenagem executada “em questão de dias” no lado leste da Antártida. As descobertas dos dois novos lagos se deram no lado oeste.

Em outras palavras, houve uma movimentação massiva de água sob a camada de gelo. E eventualmente, pensam os cientistas, isso tudo deve escapar para o oceano, reiniciando o processo: “Esses são movimentos que ocorrem sob a Antártida, sobre os quais não teríamos nenhuma pista sem os dados de satélite”, disse Fricker. “Nós estamos lutando para obter boas previsões sobre a Antártida, e instrumentos como o ICESat-2 nos ajudam a observar essa escala processual”.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital