Startup russa cria tecnologia que “filtra” satélites de observações astronômicas

Especialistas afirmam que satélites podem atrapalhar monitoramento de corpos celestes: ao todo, por refletirem luz do Sol em excesso
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 25/08/2021 17h58, atualizada em 26/08/2021 11h26
Satelite-CPTEC
Cientistas precisam descobrir se superestimaram o papel da umidade do ar ou subestimaram o quanto o planeta aqueceu. Crédito: Cptec/Divulgação
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Uma startup russa criou a resposta a um problema de muitos astrônomos: uma tecnologia que “filtra” encontros com satélites em órbita, como os da Starlink (SpaceX) e outras empresas, dos resultados de observações astronômicas.

O excesso de satélites da plataforma de internet Starlink é uma preocupação de especialistas das ciências espaciais, que posicionam vários argumentos contrários ao projeto, alegando que ele irá distribuir mais lixo no espaço e comprometer missões espaciais e até refletir mais luz do Sol na Terra, “clareando” a noite e aumentando a nossa temperatura média.

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Esquema demonstrativo do funcionamento do obturador da Stealth Transit: produto é instalado em telescópios e “fecha” suas lentes quando um satélite passa no caminho delas, preservando dados de observações astronômicas. Imagem: Stealth Transit/Divulgação

Desenvolvida pela empresa Stealth Transit, a novidade, de forma resumida, funciona assim: ela monitora o céu por sinais de satélites excessivamente brilhantes, fechando a lente de um telescópio onde esteja instalada quando este interceptar o campo de visão do que está sendo observado, evitando que o satélite estrague a imagem.

Os criadores do recurso afirmam que ele funciona em campos de visão estreitos e médios, deixando de lado lentes de maior porte porque, normalmente, elas são específicas de telescópios espaciais maiores — como o Hubble —, e para atrapalhá-los, seriam necessários vários satélites ao mesmo tempo passando em seu caminho.

A tecnologia já está em testes por parte do governo russo, que contratou a empresa para instalá-la no Observatório das Montanhas do Cáucaso, em Kislovodsk, sudoeste da Rússia. O telescópio ASA 600 já conta com ela em funcionamento.

“O detector da Stealth Transit reconhece as trajetórias de satélites de baixa órbita terrestre, prevendo com exatidão o tempo de trânsito desses satélites à frente da lente do telescópio”, disse o CEO da empresa, Vlad Pashkovsky. “O nosso obturador então interrompe a exposição da câmera para fazer com que o trânsito do satélite lhe seja invisível”.

No começo do ano, a União Astronômica Internacional (IAU) pediu para que a Organização das Nações Unidas impusesse limites às empresas para proteger a qualidade do céu noturno, mas essas coisas levam tempo.

Segundo Pashkovsky, a solução da Stealth Transit serve como um meio termo que atende tanto aos cientistas quanto às empresas, uma vez que o brilho refletido tem mais a ver com o posicionamento dos satélites entre o Sol e a Terra — mas substâncias que diminuem esse brilho podem estragar mecanismos que façam, por exemplo, a captura de energia solar, diminuindo a vida útil dos artefatos das empresas.

“Reduzir o brilho [dos satélites] vai de encontro com o objetivo de assegurar seu desempenho e longevidade”, disse o CEO. “O uso de coberturas que diminuam o brilho perturba o equilíbrio térmico do satélite e reduz a área de impacto das células solares, privando-os de energia”. O CEO concedeu que, eventualmente, os satélites evoluirão para reduzirem seu brilho por conta própria, à medida em que eles vão ficando cada vez menores. 

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital