Uma planta encontrada na floresta amazônica peruana em 1973 passou todos esses anos ignorada por cientistas, que não conseguiam descobrir a que família ela pertencia. Agora, graças a uma análise criteriosa de seu DNA, pesquisadores não apenas descobriram sua genealogia como ficaram bastante surpresos.

A amostra passou quase cinco décadas no Field Museum, museu de história natural situado em Chicago, Illinois, nos EUA, em um herbário que abriga espécimes de plantas secas, após ser encontrada por Robin Foster no Parque Nacional Manu, no Peru. 

Um espécime de folha e minúscula fruta laranja da planta misteriosa. Imagem: Patricia Álvarez-Loayza

Foster, que é curador aposentado do museu, havia coletado a planta de 6 metros de altura, com pequenos frutos laranja em forma de lamparinas de papel. “Quando vi essa pequena árvore pela primeira vez, enquanto estava em uma trilha na floresta que saía da estação de campo, foi a fruta – parecendo uma lanterna chinesa cor de laranja e suculenta quando madura com várias sementes – que chamou minha atenção”.

Nancy Hensold, uma botânica que trabalhava no museu com Foster, e que ainda está lá, lembra-se dele mostrando a ela um espécime seco da planta há mais de 30 anos. “Vim trabalhar no Field Museum em 1990 e Robin me mostrou esta planta. Tentei identificá-la usando características técnicas ou fervendo os ovários das flores e tirando fotos do pólen, mas depois de tudo isso, ainda não sabíamos muito”, lembra ela. “Isso realmente me incomodou”.

publicidade

No entanto, segundo o site Phys, nem Foster nem Hensold desistiram de desvendar o mistério. “Quando você tem uma planta que ninguém pode colocar em uma família, ela pode cair no esquecimento. Eu sentia muito por ela”, disse a botânica. A equipe acabou conseguindo uma bolsa para estudar a planta, financiada pelo Conselho de Mulheres do Field Museum, e a busca então começou de verdade.

Leia mais:

Não foi possível analisar o primeiro espécime encontrado na floresta amazônica

A equipe tentou analisar o DNA da planta usando os espécimes secos, mas como isso não funcionou, eles pediram a ajuda de Patricia Álvarez-Loayza, uma cientista que trabalha no Parque Nacional Manu e passou anos monitorando a floresta, para que encontrasse uma nova amostra.

Quando os pesquisadores no Field analisaram o DNA da nova amostra, eles ficaram impressionados com o que encontraram. A análise revelou que os parentes mais próximos da planta misteriosa pertenciam à família Picramniaceae, o que era interessante, porque ela não se parecia em nada com eles, pelo menos à primeira vista.

“Olhando mais de perto a estrutura das flores minúsculas, percebi que realmente há algumas semelhanças, mas dadas suas características gerais, ninguém a teria colocado naquela família”, diz Hensold.

Foram enviados espécimes a Wayt Thomas, curador emérito do The New York Botanical Garden e especialista em Picramniaceae. “Quando abri a embalagem e olhei para as amostras, minha primeira reação foi: ‘Que diabos?’ Essas plantas não se pareciam com nada mais na família”, diz Thomas, o principal autor do estudo, que foi publicado na revista científica Taxon. 

“Então, decidi olhar com mais cuidado – uma vez que analisei com atenção as flores minúsculas, de 2 a 3 milímetros de comprimento, as coisas se encaixaram”, disse o pesquisador.

“Enigma de Manu” foi solucionado

Dessa forma, a planta recebeu um nome científico formal, Aenigmanu alvareziae. O nome do gênero, Aenigmanu, significa “Enigma de Manu”, em referência à reserva natural onde foi encontrada. Já o nome da espécie é uma homenagem a Patricia Álvarez-Loayza, que coletou os espécimes usados ​​para a análise genética

É importante notar que, embora a Aenigmanu alvareziae seja nova para os cientistas, ela é há muito tempo usada pelo povo indígena Machiguenga.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!