Em 1994, um terremoto de magnitude 6.7 sacudiu Los Angeles às 4h30 da manhã. Isso provocou um blackout na região e acordou os moradores da cidade. Assustados, muitos ligaram para o serviço de emergência preocupados com uma misteriosa fumaça prateada cortando o céu. Eles estavam vendo a Via Láctea pela primeira vez em suas vidas.
Terremotos não costumam ser experiências muito agradáveis, e aquele de 1994 na Califórnia não foi uma exceção. Foi inclusive, um dos maiores terremotos da história recente a atingir a região, causando 57 mortes, o colapso de edifícios residenciais e comerciais, e danos na infraestrutura local, totalizando um prejuízo de 20 bilhões de dólares.
O terremoto também interrompeu o fornecimento de energia na região, e com pouquíssimos carros na rua nesse horário, Los Angeles ficou completamente às escuras. Após os terremotos, as pessoas são orientadas a saírem de casa por segurança, e ao saírem no meio da madrugada, com a cidade inteira na escuridão, os moradores de Los Angeles se depararam com um céu estrelado de uma forma como nunca haviam visto antes.
Mas como aquele terremoto ou o blackout poderiam ter mudado tanto o céu de Los Angeles? Na verdade, não mudaram. O blackout apenas desligou o escudo que isolava os angelinos do restante do Universo. E esse escudo, nós chamamos de “poluição luminosa”.
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Ao contrário do que parece, o ar não é completamente transparente. Durante o dia ele reflete parte da luz solar tornando o céu azul. Pela noite, ele deveria ser mais cristalino, mas ele acaba refletindo as luzes das nossas cidades e ofuscando as estrelas mais tênues. E esse não é um problema apenas de Los Angeles.
Estima-se que dois terços dos brasileiros vivem sob intensa poluição luminosa e jamais terão o privilégio de contemplar a Via Láctea. Este é um problema global e é inerente ao desenvolvimento econômico. E a poluição luminosa não só nos priva de observar as estrelas, mas também muda o ciclo de vida das plantas, insetos, pássaros e vários outros animais.
Pouco podemos fazer para conter o crescimento dos centros urbanos, mas podemos otimizar a forma como iluminamos nossas cidades. E quando nos afastamos das luzes dos grandes centros, ou durante blackouts como do de Los Angeles, temos a oportunidade de contemplar um céu realmente estrelado, assim como nossos ancestrais enxergavam todas as noites.
Ao desligarmos todas as luzes artificiais à nossa volta, nossa pupila se dilata tornando nossa visão ainda mais sensível. Isso nos permite enxergar facilmente incontáveis estrelas no céu e o brilho leitoso da Via Láctea, além de algumas nebulosas e galáxias distantes.
Agora, gostaria de deixar uma dica: quando for planejar suas próximas férias, considere a possibilidade de, ao invés de ir para uma praia badalada, procurar um hotel ou pousada numa área rural, afastada das grandes cidades. De noite, apague todas as luzes e contemple toda a beleza de um céu verdadeiramente estrelado.
Ao fazer isso, talvez você sinta como muitos angelinos se sentiram durante o blackout de 1994. Como se tivessem dormido moradores de Los Angeles, e acordado cidadãos de um belo e infinito, Universo.
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