Em 1994, um terremoto de magnitude 6.7 sacudiu Los Angeles às 4h30 da manhã. Isso provocou um blackout na região e acordou os moradores da cidade. Assustados, muitos ligaram para o serviço de emergência preocupados com uma misteriosa fumaça prateada cortando o céu. Eles estavam vendo a Via Láctea pela primeira vez em suas vidas.

Terremotos não costumam ser experiências muito agradáveis, e aquele de 1994 na Califórnia não foi uma exceção. Foi inclusive, um dos maiores terremotos da história recente a atingir a região, causando 57 mortes, o colapso de edifícios residenciais e comerciais, e danos na infraestrutura local, totalizando um prejuízo de 20 bilhões de dólares.

Viaduto da Golden State Freeway desabou parcialmente durante terremoto
Viaduto da Golden State Freeway desabou parcialmente durante terremoto. Foto: Robert A. Eplett

O terremoto também interrompeu o fornecimento de energia na região, e com pouquíssimos carros na rua nesse horário, Los Angeles ficou completamente às escuras. Após os terremotos, as pessoas são orientadas a saírem de casa por segurança, e ao saírem no meio da madrugada, com a cidade inteira na escuridão, os moradores de Los Angeles se depararam com um céu estrelado de uma forma como nunca haviam visto antes.

Mas como aquele terremoto ou o blackout poderiam ter mudado tanto o céu de Los Angeles? Na verdade, não mudaram. O blackout apenas desligou o escudo que isolava os angelinos do restante do Universo. E esse escudo, nós chamamos de “poluição luminosa”.

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Ao contrário do que parece, o ar não é completamente transparente. Durante o dia ele reflete parte da luz solar tornando o céu azul. Pela noite, ele deveria ser mais cristalino, mas ele acaba refletindo as luzes das nossas cidades e ofuscando as estrelas mais tênues. E esse não é um problema apenas de Los Angeles.

Céu de Nova York iluminado pela poluição luminosa da cidade
Céu de Nova York iluminado pela poluição luminosa da cidade. Fonte: Wikimedia

Estima-se que dois terços dos brasileiros vivem sob intensa poluição luminosa e jamais terão o privilégio de contemplar a Via Láctea. Este é um problema global e é inerente ao desenvolvimento econômico. E a poluição luminosa não só nos priva de observar as estrelas, mas também muda o ciclo de vida das plantas, insetos, pássaros e vários outros animais.

Pouco podemos fazer para conter o crescimento dos centros urbanos, mas podemos otimizar a forma como iluminamos nossas cidades. E quando nos afastamos das luzes dos grandes centros, ou durante blackouts como do de Los Angeles, temos a oportunidade de contemplar um céu realmente estrelado, assim como nossos ancestrais enxergavam todas as noites.

Ao desligarmos todas as luzes artificiais à nossa volta, nossa pupila se dilata tornando nossa visão ainda mais sensível. Isso nos permite enxergar facilmente incontáveis estrelas no céu e o brilho leitoso da Via Láctea, além de algumas nebulosas e galáxias distantes.

Céu da zona rural do Município de Maturéia, Sertão da Paraíba
Céu da zona rural do Município de Maturéia, Sertão da Paraíba. Foto: Marcelo Zurita

Agora, gostaria de deixar uma dica: quando for planejar suas próximas férias, considere a possibilidade de, ao invés de ir para uma praia badalada, procurar um hotel ou pousada numa área rural, afastada das grandes cidades. De noite, apague todas as luzes e contemple toda a beleza de um céu verdadeiramente estrelado.

Ao fazer isso, talvez você sinta como muitos angelinos se sentiram durante o blackout de 1994. Como se tivessem dormido moradores de Los Angeles, e acordado cidadãos de um belo e infinito, Universo.

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