A polêmica em torno da escolha do nome do ex-administrador da Nasa, James Webb, para o telescópio espacial que promete revolucionar a astronomia ganhou novo capítulo nesta terça-feira (12). Lucianne Walkowicz, astrônoma que fazia parte do Comitê Consultivo de Astrofísica (APAC) da agência, divulgou uma carta aberta por meio da qual renuncia ao cargo em protesto à homenagem ao antigo gestor, acusado de praticar homofobia.

James Webb teria permitido que a segurança da agência espacial americana interrogasse funcionários no passado por serem homossexuais.
“Em 28 de setembro – o mesmo dia em que a Nasa decidiu enviar discretamente a alguns jornalistas selecionados sua patética posição de uma linha sobre a renomeação do JWST – fui atropelada por um carro enquanto caminhava”, relata Walkowicz na carta. “Estou de licença enquanto me recupero de meus ferimentos, mas deixe-me ser clara: estou renunciando à APAC não porque preciso de tempo para me recuperar, mas porque a forma como a Nasa lidou com as questões relativas à escolha de James Webb como nome de sua próxima missão principal ridicularizou este comitê”, escreveu a agora ex-conselheira.

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Homofobia de James Webb motivou mais de 1,2 mil pessoas a protestarem contra homenagem
De acordo com o administrador da agência, Bill Nelson, a investigação realizada chegou à conclusão de que não há motivos para a troca do nome. “Não encontramos evidências, neste momento, que justifiquem a mudança do nome do Telescópio Espacial James Webb”, afirmou Nelson à rádio norte-americana NPR.

No entanto, não foram divulgados maiores detalhes sobre a averiguação, para insatisfação de Walkowicz e dos demais quase 1,2 mil assinantes de uma petição que exigia a retirada da homenagem a Webb.
“É evidente, a partir dessa escolha, que quaisquer promessas de transparência e meticulosidade eram, na verdade, mentiras”, disse Walkowicz em seu documento de renúncia. “Também parece claro que a Nasa prefere um comitê de ‘Yes, Men’, um comitê que coassina coisas que ela já planejou fazer”.
Walkowicz diz que não participa de “coisas que considera ridículas” e acrescentou que nunca foi otimista de que a Nasa ouviria as críticas e tomaria medidas, mas que ainda acha que vale a pena “empurrar a agência na direção certa”. Ela terminou sua carta conclamando a comunidade científica a não usar o nome real do Telescópio Espacial James Webb.
Telescópio deveria homenagear negra abolicionista, sugerem os críticos
Para os signatários da petição, o nome do telescópio deve ser Harriet Tubman, em homenagem à única mulher a liderar homens na Guerra Civil dos Estados Unidos. Tubman era negra e lutou pela libertação de centenas de pessoas da escravidão. Existe um perfil do telescópio no Twitter já sendo tratado por esse nome.
“Mas eu não sou a primeira e não serei a última [pessoa] a sair um espaço da Nasa”, acrescentou Walkowicz, “onde, evidentemente, as opiniões das pessoas heterossexuais são valorizadas e levadas mais a sério do que as experiências das pessoas queer”, disse ela, que se enquadra nessa classificação.
Ao pé da letra, a palavra queer significa “estranho” e sempre foi usada como ofensa a pessoas LGTBQIA+. No entanto, a comunidade se apropriou do termo e hoje ele é uma forma de designar todas as pessoas que não se encaixam na heterocisnormatividade, que é a imposição compulsória da heterossexualidade e da cisgeneridade. De forma mais simples, essas pessoas se autoclassificam como pertencentes a um gênero fluido.
Com informações do Futurism.