Tenho falado com frequência aqui sobre empreendedorismo feminino. O tema é parte fundamental de minha história já que, desde o início da minha carreira, tenho trabalhado diretamente com o empreendedorismo: seja apoiando pessoas a construir seus próprios negócios, seja como eu própria sendo empreendedora social de diversos projetos.

Tive a oportunidade de fundar o BrazilLAB, primeiro hub brasileiro de aceleração de startups que trabalham com governos, as GovTech. Essa experiência trouxe uma outra dimensão para o tema do empreendedorismo: pude perceber o quanto precisamos avançar para garantir a equidade de gênero, já que são poucas as mulheres atuando como lideranças de negócios em tecnologia.

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Em 19 de novembro comemora-se o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, uma iniciativa das Nações Unidas em parceria com diversas instituições globais de incentivo às mulheres que criam e comandam seus próprios negócios. A data é simbólica e faz parte de uma campanha contra a desigualdade de gênero no mercado de trabalho. E mais do que isso: trata-se de um convite para refletirmos sobre os avanços e os desafios que ainda persistem no caminho de mulheres que desejam empreender seus próprios negócios.

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De acordo com uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2018, 43% dos lares brasileiros são sustentados por mulheres. A pesquisa aponta que apenas o número de empreendedoras nascentes — com até três meses de atividade — subiu. Já o de novas empreendedoras, que têm de 3 meses a 3,5 anos de operação, caiu 35%.

Os desafios para o empreendedorismo feminino

As mulheres passam por dificuldades para serem reconhecidas em um mercado majoritariamente masculino. Isso acontece também quando precisam acessar crédito para manter suas ideias e projetos.

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De acordo com o Sebrae, as mulheres têm um nível de inadimplência ligeiramente mais baixo do que os homens (3,7% contra 4,2%). Apesar disso, elas tendem a ter mais dificuldade de acessar crédito para os seus negócios. o valor médio de empréstimos concedidos às empreendedoras é de cerca de R$ 13 mil a menos que a média dada aos homens.Além disso, também pagam taxas anuais de juros 3,5% maiores do que os homens

Há também um grande desafio em relação à natureza dos empreendimentos liderados por mulheres. Embora tenha havido um aumento no número de negócios, grande parte deles se concentra na chamada economia de subsistência. São iniciativas voltadas para o consumo ou serviços, mas pouco intensivas em tecnologia ou inovação. É o que mostra a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Segundo o estudo, 55% das empreendedoras trabalham em suas próprias casas, em atividades como beleza, moda e alimentação. Áreas com participação feminina em ciência, tecnologia, engenharia e matemática ainda são baixas.

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Muitas ideias de várias mulheres passam despercebidas pela simples falta de oportunidade e investimento. Esta é uma barreira que precisamos quebrar se queremos que o empreendedorismo feminino avance.

Exemplos para se inspirar

Durante as inscrições do Programa de Aceleração do BrazilLAB 2021, pudemos observar a força feminina. Neste ano, 25% das startups, pequenas ou médias empresas que tinham alguma solução tecnológica para os desafios lançados eram lideradas por mulheres. Esse número é 7% maior do que no ano de 2019.

Além disso, temos hoje importantes figuras que inspiram o caminho de mulheres no empreendedorismo. É o caso da Luiza Helena Trajano, fundadora do Magazine Luiza, Ana Fontes, criadora da Rede Mulher Empreendedora e Camila Farani, sócia-fundadora da G2 Capital, premiada duas vezes como melhor investidora-anjo no Startup Awards.

Que o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino possa ser um momento de reflexão sobre todas as conquistas que tivemos, mas também uma oportunidade para a construção de ações concretas para reduzir as desigualdades de gênero que ainda assolam o país. Não tenho dúvidas que todos nós só teremos a ganhar com esse esforço.

*Letícia Piccolotto é Presidente Executiva da Fundação BRAVA (www.brava.org.br) e fundadora do BrazilLAB – primeiro hub de inovação GovTech que conecta startups com o poder público.

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