A sonda DART deixou a Terra na madrugada da última quarta-feira (24) em direção ao asteroide binário Didymos, em um encontro que deve acontecer somente daqui um ano. Mas até lá, a nave criada pela NASA para testar a nossa proteção planetária não ficará apenas “de rolê” pelo espaço, e vai realizar diversos feitos ao longo da viagem.
Basicamente, a premissa da missão DART é testar uma manobra de defesa que, até então, nós só poderíamos conceber em filmes de ficção científica: a NASA quer descobrir se a força cinética dispersada por um impacto forte contra um asteroide serviria para desviá-lo de sua rota, efetivamente nos defendendo caso alguma rocha espacial errante viesse a ameaçar a Terra.
Leia também
- Físicos sugerem novo sistema de defesa contra asteroides: “cortar e fatiar”
- Telescópio do ESO capta imagens dos maiores asteroides do sistema solar
- Cientistas encontram no espaço objeto que é um asteroide, mas também é um cometa; entenda

Entretanto, assim como em quase toda viagem espacial de longa distância, os controladores da missão têm pequenos objetivos menores que eles buscarão ao longo de um ano. No caso da DART, são três diretrizes específicas.
A sonda está agora em um estágio de verificação sistêmica: basicamente, o controle da missão vai aproveitar o próximo mês – coisa de 30 dias, aproximadamente – para garantir que todos os sistemas e componentes estejam não só funcionando na hora, mas que continuem funcionando como devem de forma continuada.
Isso inclui a DRACO (ou “Didymos Reconnaissance and Asteroid Camera for Optical navigation”), a câmera principal da sonda, que vai registrar imagens do impacto da DART com o asteroide Dimorphos – a rocha menor que acompanha a grande Didymos. Nos próximos sete ou oito dias, a NASA vai comandar a abertura da câmera pela primeira vez, para que sejam produzidas as primeiras imagens da missão no espaço, de acordo com Elena Adams, a engenheira de sistemas do projeto.
Adams não informou se a DRACO será aberta e fechada repetidas vezes ou se, uma vez aberta, ela permanecerá assim até o choque.
Um segundo objetivo – do qual nós já falamos aqui no Olhar Digital – é o teste do NEXT-C, um sistema de propulsão por íons que a NASA instalou na sonda, e que será disparado repetidas vezes ao longo do próximo ano. Basicamente, é uma forma que a agência espacial encontrou de testar uma tecnologia que, segundo ela, gera até três vezes mais aceleração do que os métodos convencionais. O primeiro disparo deve acontecer com 20 dias após o lançamento.
Vale lembrar que o NEXT-C não é o método primário de propulsão da DART (a sonda conta com 12 motores que usam um composto químico propelente chamado “hidrazina”). Entretanto, o sistema de íons é mais limpo e requer muito menos combustível, então é bem provável que a sua adoção para missões futuras esteja em consideração pela NASA.
Muito tempo depois, o controle começará um processo de análise bastante técnico: isso porque, 30 dias antes do impacto, a DART fará os primeiros registros fotográficos do asteroide binário. Segundo Adams, essas fotos tiradas pela câmera DRACO serão importantes para refinar a trajetória da sonda e garantir que o teste siga os parâmetros estabelecidos à risca.
Avançando no tempo, 10 dias antes do impacto, a DART lançará uma pequena embarcação chamada “LICIAcube”. Essa nave menor viajará à frente da sonda em ritmo acelerado, passando ao lado do Didymos momentos após o impacto, registrando os primeiros efeitos.
E aqui temos um ponto extremamente importante: ao colidir com a rocha espacial, a DART estará a uma velocidade aproximada de 24 mil quilômetros por hora (km/h), com o asteroide a uma distância de 11 milhões de km da Terra – a distância mais próxima dele com o nosso planeta. E esse momento foi cuidadosamente escolhido pela NASA:
“Esse timing permitirá que cientistas usem observações de alta qualidade feitas por telescópios para analisar o Didymos após a colisão”, disseram Adams e a equipe de engenharia da DART. “A última vez que o asteroide esteve tão perto da Terra foi em 2003, e a próxima será somente em 2062”.
Mas ainda tem mais um ponto crucial: tudo o que listamos nos parágrafos acima remetem aos efeitos imediatos do impacto. Mas e daqui a alguns anos? Nesta parte, entra a agência espacial europeia (ESA) com a missão HERA – outra que já mencionamos aqui no site -, que vai lançar uma nave homônima para bem perto do asteroide, permitindo que nós façamos a análise do “estrago” causado pelo choque.
O interessante é que boa parte desse progresso provavelmente será compartilhado pela NASA. É praxe da agência, por exemplo, divulgar fotos tiradas por suas espaçonaves e roboôs – especialmente se a câmera da DART registrar algo incomum em sua lente. Assim, nós poderemos acompanhar toda a evolução da missão até seu objetivo primário.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!