NASA vai precisar de mais astronautas para missões interplanetárias, diz relatório

Pesquisa feita pela própria agência diz que, conforme cria projetos mais ambiciosos de exploração, mais viajantes serão necessários
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 13/01/2022 12h19, atualizada em 13/01/2022 15h23
shutterstock_1581145465
Imagem: galacticus/Shutterstock
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

A NASA não tem astronautas suficientes para contemplar todos os seus projetos de exploração do espaço, de acordo com levantamento feito pela divisão de investigação da própria agência. Segundo o documento, a administração espacial norte-americana precisará recrutar mais candidatos se quiser ter sucesso em missões interplanetárias.

O relatório foi produzido levando em consideração o avanço de projetos mais grandiosos – como o Programa Artemis que levará o homem de volta à Lua até 2024 ou, mais para frente, a chegada de uma tripulação humana a Marte.

Leia também

Imagem de um astronauta pousando na Lua
Missões futuras da NASA envolvem o envio de astronautas de volta à Lua e até a Marte, mas atual contingente de tripulantes da agência espacial é pequeno demais para projetos grandiosos, sugerindo a necessidade de maior recrutamento (Imagem: Castleski/Shutterstock)

Atualmente, as únicas missões tripuladas da NASA são aquelas rumo à Estação Espacial Internacional (ISS). Lá, a agência mantém uma presença constante com uma tripulação rotativa de três viajantes. Entretanto, o avanço das tecnologias e programas de exploração espacial devem forçar a agência espacial a abrir mais vagas para candidatos a viajantes interplanetários.

“Após atingir o seu pico de quase 150 astronautas no ano 2000, o tamanho do corpo de viajantes diminuiu com o fim dos ônibus espaciais, em 2011, agora marcando 44 tripulantes – um dos menores conjuntos nos últimos 20 anos”, diz trecho do relatório divulgado na última terça-feira (11).

“Conforme a NASA entra em uma nova era de voos humanos ao espaço, incluindo o retorno à Lua e, eventualmente, o pouso em Marte, o gerenciamento eficaz de seu corpo de astronautas — as pessoas que voam em suas missões espaciais — será essencial para o sucesso da agência”, o documento afirma.

É importante ressaltar que, embora o termo “astronauta” evoque a percepção de ”viajar para o espaço”, o termo é bem mais abrangente em suas funções, incluindo também especialistas de comunicação que ficam aqui na Terra, mas em constante contato com sondas e outros veículos autônomos. Basicamente, qualquer pessoa aprovada no treinamento “para astronautas” é, por definição, um astronauta – ainda que ele ou ela não necessariamente faça uma viagem tripulada.

O problema é que, desde meados de 2011, com o fim do programa que criou os ônibus espaciais, a NASA tem visto, em média, cerca de 10 astronautas se aposentando todo ano. Os ônibus espaciais eram, até então, a principal oportunidade de viajar para o espaço e, com o fim do programa, as possibilidades de voo foram ficando mais e mais escassas: as viagens à ISS obedecem a parâmetros bastante específicos, e levam apenas um número limitado de pessoas.

Há ainda um outro fato levantado pelo relatório: os astronautas não são substituíveis. As decisões que levam um astronauta “X” a ser convocado para um voo “Y” são baseadas em fatores que consideram desde a experiência de voo daquela pessoa, até seu campo de estudo e até mesmo a sua familiaridade com o veículo a levá-lo na viagem. Isso, contudo, ficará ainda mais complicado conforme os mesmos astronautas voam em diferentes tipos de missões.

“Com um volume [de astronautas] assinalado para uma única missão, como é hoje com a ISS, o Escritório de Astronautas da NASA está em uma posição de rapidamente remanejar seus astronautas, pois todos os seus 44 oficiais já foram selecionados e treinados para a mesma missão”, diz o relatório. “Contudo, conforme a agência aceita novas missões, com novas necessidades e novos veículos, menos astronautas estarão treinados e disponíveis para cada uma delas”.

Na última chamada para seleção de astronautas, em dezembro de 2021, 10 candidatos foram selecionados e vão agora começar o treinamento físico — que dura cerca de dois anos. O curso anterior, em janeiro de 2020, formou 11 candidatos. No caso de missões para a ISS, o treinamento após a formação do curso costuma durar cerca de 18 meses, e os graduados mais recentes já estão na estação: Raja Chari e Kayla Barron.

Trocando em números: a classe mais recentemente formada provavelmente não vai voar antes de 2025.

Foto mostra 12 candidatos formados no curso da NASA para novos astronautas
Os 10 candidatos a astronautas aprovados no curso mais recente da NASA, além de dois representantes dos Emirados Árabes: todos eles agora serão encaminhados ao treinamento físico de formação (Imagem: NASA/Divulgação)

No caso do Programa Artemis, o tempo de treino é mais ou menos o mesmo, mas embora a NASA já tenha determinado quais astronautas trazer para a primeira missão, ela ainda não determinou os assentos a serem ocupados por eles, nem tampouco desenvolveu o treinamento específico para as missões na Lua. Ou seja, o entendimento do relatório é o de que o tempo está passando.

“Embora o Escritório de Astronautas estime que o treinamento para a missão Artemis 3 e todas as subsequentes leve em torno de dois anos, mesmo com os atrasos já esperados para os lançamentos das missões Artemis 2 e Artemis 3, a agência pode estar superestimando a disponibilidade de tempo e implementação na necessária grade de treino por todos os sistemas essenciais do Programa Artemis”, diz o texto.

Com base nessas conclusões, o relatório fez uma série de recomendações, como ampliar o leque demográfico de pesquisa de candidatos – a fim de incluir outras especializações (por exemplo: pessoas com formação em Geologia, para missões que vão tocar a superfície de outro planeta – atualmente, somente quatro dos 44 astronautas no quadro entendem do assunto).

A administradora associada de operações espaciais da NASA, Kathy Lueders, recebeu o relatório e, em comentário oficial, disse que a agência concorda com todas as recomendações feitas e tem intenção de executá-las “em novembro”, sem dizer se a estimativa é “a partir de” ou “até” o fim deste ano – o que dá uma grande variação de tempo.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital