Mudanças climáticas oferecem sério risco às espécies marinhas mais pescadas na Europa até o fim do século

Por Flavia Correia, editado por Rafael Rigues 27/01/2022 20h42, atualizada em 28/01/2022 09h54
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Imagem: Alexey Masliy - Shutterstock
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Uma pesquisa publicada na revista Frontiers in Marine Science aponta que mais de 25% das 20 espécies marinhas mais pescadas da Europa estarão sob extrema pressão até 2100, se nada for feito para combater três fatores simultaneamente: as mudanças climáticas, a sobrepesca e a poluição por mercúrio.

Sobrepesca (atividade pesqueira excessiva) é um dos três principais fatores que podem comprometer seriamente as espécies mais pescadas na Europa. Imagem: Wanida Tubtawee – Shutterstock

“Se as emissões de carbono continuarem a aumentar no ritmo atual, a resiliência às mudanças climáticas das espécies de frutos do mar que são os pilares do mercado da União Europeia (UE), como a grande vieira atlântica, a tainha vermelha e o polvo comum, serão enfraquecidas pelas ações combinadas de sobrepesca, aquecimento dos oceanos e poluição por mercúrio”, disse o autor principal do estudo, Ibrahim Issifu, pós-doutorando do Instituto de Oceanos e Pesca (IOF) da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC). “A população dessas espécies será reduzida a uma fração do seu tamanho atual até o final do século”.

Esse estudo é um dos primeiros a examinar os efeitos combinados do aumento das temperaturas, da sobrepesca e da poluição por mercúrio sobre os peixes nas águas da UE. 

Algumas espécies podem ser contaminadas com até 50% mais mercúrio

Segundo Issifu, a equipe de pesquisa selecionou 20 espécies marinhas europeias que têm o maior valor médio anual de captura e desembarque, e determinaram a faixa de tolerância a altas temperaturas para cada uma, usando estimativas anteriores de seus níveis de temperatura mais aceitos. 

Assim, os autores compararam essa faixa com aumentos de temperatura previamente projetados nas águas da UE ao longo do século em cenários de alta e baixa emissão de carbono

Finalmente, diferentes níveis de concentrações de mercúrio, bem como graus insustentáveis de pesca, foram incorporados ao modelo.

Os resultados mostraram que os impactos nos estoques de peixes da Europa vão oscilar amplamente dependendo da tolerância média à temperatura de cada espécie, sendo que a lagosta norueguesa, o linguado comum, a grande vieira atlântica, a tainha vermelha e o pescado europeu podem diminuir tanto em abundância quanto em distribuição à medida que as temperaturas da água atingirem níveis letais para estas espécies.

Segundo estudo, espécies maiores, como o peixe-espada, provavelmente seriam contaminadas com até 50% mais mercúrio em relação às concentrações atuais Imagem: KIM MINHO – Shutterstock

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Além disso, algumas espécies maiores e de vida longa, como o peixe-espada, provavelmente seriam contaminadas com até 50% mais mercúrio em relação às concentrações atuais, tornando-as inseguras para consumo e causando transtornos aos próprios animais, como problemas reprodutivos que diminuirão ainda mais as populações de peixes.

“A combinação desses fatores está trabalhando sinergicamente para criar um ambiente desfavorável para os peixes, assim como reduzir os esforços de pesca, minimizar a poluição e reduzir as emissões de carbono trabalharia em conjunto para ajudar a sobrevivência dos peixes”, disse Vicky Lam, uma das coautoras do estudo e pesquisadora associada ao IOF. “As espécies mais pescadas e altamente exploradas são severamente impactadas pelas mudanças climáticas e pelas altas concentrações de mercúrio. É uma situação crítica”.

Mudanças climáticas, sobrepesca e poluição por mercúrio são agentes complementares do desastre

“Tanto as mudanças climáticas quanto a sobrepesca têm o potencial de amplificar a quantidade de mercúrio consumida por peixes mais no topo da cadeia alimentar, como atum azul e tubarões”, disse o coautor do estudo Juan Jose Alava, pesquisador associado do IOF e principal pesquisador da Unidade de Pesquisa em Poluição Oceânica da UBC.

“Estressores cumulativamente causados pelo homem, poluição por mercúrio, aquecimento dos oceanos e sobrepesca conspiram juntos para debilitar a resiliência da pesca”, declarou Alava. “Um acordo internacional vinculativo para reduzir as emissões de dióxido de carbono e mercúrio das indústrias que consomem carvão e de combustíveis fósseis e atividades antropogênicas é de suma importância para evitar que os piores resultados aqueçam os oceanos”. 

Segundo ele, “um esforço internacional deve ser fomentado em conjunto com a eliminação de subsídios nocivos à pesca para erradicar a pesca excessiva”.

“Para que a sociedade se dê conta dos efeitos combinados dos múltiplos estressores que impactam o oceano identificados nesse estudo, governos e sociedades devem aprender a ser mais proativos do que reativos em lidar com os efeitos incapacitantes das mudanças climáticas, da sobrepesca e da poluição marinha”, disse Rashidila Suma, coautor e professor do IOF e da Escola de Políticas Públicas e Assuntos Globais da UBC. “Uma maneira de ser proativo é ouvir cientistas e membros da comunidade que normalmente soam alarmes sobre os perigos iminentes bem antes”.

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Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.

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Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital