O mais novo meteorito brasileiro foi oficializado no último dia 29 pela Meteoritical Society. Trata-se do meteorito Conceição do Tocantins, encontrado em outubro de 2020, cuja primeira identificação foi feita através de uma postagem no Facebook.

O meteorito foi encontrado por um garimpeiro em uma fazenda na zona rural de Conceição do Tocantins (TO). Ele utilizava um detector de metais para procurar por ouro e acabou encontrando uma estranha peça metálica, com quase meio quilo, enterrada a cerca de 30 cm no solo. 

publicidade

História

Desconfiada que se tratava de um meteorito, uma familiar do garimpeiro procurou ajuda nas redes sociais e encontrou o grupo Caçadores de Meteoritos no Facebook. Ela postou algumas fotos do objeto no grupo, que acabou chamando a atenção de Gabriel Gonçalves, doutorando da USP (Universidade de São Paulo) e estudioso dessas rochas espaciais. Segundo Gabriel, ele ficou na dúvida se aquela amostra poderia ou não ser um meteorito. Por isso, achou que valeria a pena que o material fosse testado.

Para que uma análise daquele possível meteorito fosse feita, seria necessário conseguir uma amostra, mas o proprietário da peça não estava disposto a aguardar e queria vendê-la quanto antes. Foi então que o colecionador, pesquisador e entusiasta André Moutinho foi acionado. Ele realizou os testes químicos que confirmaram sua origem espacial e adquiriu a peça, que seria analisada no Canadá. 

publicidade

Entretanto, uma articulação em parceria com pesquisadores da Universidade de Alberta (Canadá) possibilitou que a análise fosse feita em conjunto no Brasil, por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e que também incluiu André Moutinho. Foi a primeira vez que análises químicas necessárias à classificação de um meteorito de ferro foram feitas no Brasil.

Análise e classificação do meteorito Conceição do Tocantins

O meteorito Conceição do Tocantins é um meteorito metálico, composto basicamente por ferro e níquel, além de outros materiais em menor concentração. Ele foi classificado como um hexaedrito IIAB. Os meteoritos IIAB têm a menor concentração de níquel entre os meteoritos metálicos. 

publicidade

Coincidentemente, existe um outro hexaedrito IIAB que foi encontrado em 2015, no município de Arrais, TO, a menos de 100 km de Conceição do Tocantins. Isso levantou a suspeita de que aquela rocha encontrada pelo garimpeiro poderia não ser um novo meteorito, e sim, um fragmento do meteorito Arrais.

Entretanto, a análise geoquímica mostrou que a concentração de Irídio na rocha encontrada em 2020 é 15 vezes maior que no Arrais, o que foi determinante na comprovação que aquele era, de fato, um novo meteorito. 

publicidade
Amostras do meteorito Conceição do Tocantins utilizadas para análise geoquímica — Créditos:  André Moutinho 

Leia mais:

Passado violento

Os meteoritos metálicos, como o Conceição do Tocantins, se formaram no núcleo metálico de seu corpo parental que, provavelmente, era um protoplaneta que acabou não dando certo. Não deu certo porque, se há pedaços do seu núcleo atingindo a Terra hoje, certamente no passado esse material foi arrancado do seu interior por um violento impacto. 

De acordo com análise dos isótopos de meteoritos semelhantes, esses “momentos desagradáveis” teriam ocorrido a cerca 4,5 bilhões de anos, ou seja, no período de formação do Sistema Solar. Desde então, estes fragmentos vagam pelo Sistema Solar na forma de pequenos asteroides e meteoroides e, eventualmente, alguns deles atingem a Terra

Ainda não se sabe há quanto tempo o meteorito Conceição do Tocantins chegou ao nosso planeta. Mas devido ao intemperismo observado nele, é provável que o meteorito tenha permanecido enterrado por algumas centenas, talvez milhares de anos até ser encontrado pelo garimpeiro em Tocantins e ser revelado ao mundo. 

Redes Sociais 

A forma como esse meteorito foi inicialmente identificado, através das redes sociais, não é inédita, mas é uma tendência que vem se estabelecendo a cada dia nesta área. Gabriel Gonçalves, que fez a primeira identificação do Conceição do Tocantins e também participou do grupo de pesquisadores que trabalhou na classificação do meteorito, conta que este foi o terceiro a ser identificado por ele pelas redes sociais. 

Anteriormente, Gabriel já havia identificado o meteorito Tocache, encontrado no Peru, e o Dunas de la Soledad, do México. Ambos foram identificados visualmente através de fotos postadas no Grupo Meteoritos.BR no Facebook. De fato, as redes sociais vem sendo uma importante ferramenta que facilita o contato dos cientistas com o público em geral. 

Gabriel Gonçalves segura o meteorito Tocache, identificado através das redes sociais em 2017.
Imagem: Reprodução / Facebook

Entretanto, alerta Gabriel, é preciso ter muita disposição para analisar todas as rochas candidatas a meteoritos que aparecem nesses grupos. Na imensa maioria dos casos, é possível descartar a origem espacial da rocha apenas pelas fotos. Somente algumas poucas merecem uma análise mais detalhada.

Gabriel estima que para identificar estes três meteoritos precisou analisar cerca de 2.000 amostras nos grupos que faz parte. Ainda assim, é um trabalho que vale a pena, pois sem ele, talvez essas rochas estariam perdidas até hoje e não poderiam contribuir com nossa ciência.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!