Umas das principais dificuldades no processo de doação de órgãos é encontrar um doador compatível e minimizar os riscos do órgão ser rejeitado pelo corpo que recebeu o transplante. Para isso, geralmente é necessário uma compatibilidade entre o tipo sanguíneo das duas partes (o grau de compatibilidade pode variar de acordo com órgão). Pensando em facilitar esse procedimento, pesquisadores conseguiram alterar o tipo sanguíneo de um pulmão que era do tipo A para O, transformando em “doador universal”.

Isso ocorre pois o tipo sanguíneo O é compatível com todos os outros, o que pode facilitar a doação, já que o tipo correspondente é uma das principais barreiras desse processo. A pesquisa foi desenvolvida na University Health Network, no Canadá e publicada no último dia 16 de fevereiro na revista Science Translational Medicine.

Compatibilidade para doação de órgãos

“Com o sistema de correspondência atual, os tempos de espera podem ser consideravelmente maiores para pacientes que precisam de um transplante, dependendo do tipo sanguíneo”, explica o Dr. Marcelo Cypel, Diretor Cirúrgico do Centro de Transplantes Ajmera e autor sênior do estudo, em comunicado.

“Ter órgãos universais significa que podemos eliminar a barreira de correspondência de sangue e priorizar pacientes por urgência médica, salvando mais vidas e desperdiçando menos órgãos”, completa o especialista.

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O tipo sanguíneo é determinado pela presença de antígenos na superfície dos glóbulos vermelhos, o sangue tipo A tem o antígeno A, o B tem o antígeno B, o sangue AB tem ambos os antígenos e o O não tem nenhum. Os antígenos podem desencadear uma resposta imune se forem estranhos ao nosso corpo. É por isso que para transfusões de sangue só podemos receber sangue de doadores com o mesmo tipo sanguíneo que o nosso, ou universal tipo O.

Se alguém que é do tipo O (o que significa que tem anticorpos anti-A e anti-B na corrente sanguínea) recebeu um órgão de um doador tipo A, por exemplo, o órgão provavelmente seria rejeitado. 

“Isso se traduz em mortalidade”, diz o Dr. Aizhou Wang, outro membro do estudo. “Os pacientes que são do tipo O e precisam de um transplante de pulmão têm um risco 20% maior de morrer enquanto esperam que um órgão compatível esteja disponível”.

Estudo com pulmão

Para mudar o tipo sanguíneo do pulmão, os pesquisadores utilizaram um sistema de Ex Vivo Lung Perfusion (EVLP), um equipamento raro no mundo que, segundo o comunicado, “bombeia fluidos nutritivos através dos órgãos, permitindo que sejam aquecidos à temperatura corporal, para que possam ser reparados e melhorados antes do transplante”.

Com isso, pulmões de doadores humanos não adequados para transplante de doadores do tipo A foram colocados no circuito EVLP. Enquanto um foi tratado com enzimas para limpar os antígenos do órgão, o outro ficou no mesmo estado em que foi retirado.

Dr. Aizhou Wang
(Foto: UHN)

Após isso, os cientistas adicionaram sangue do tipo O em ambos os órgãos.Os resultados demonstraram que os pulmões tratados foram bem tolerados enquanto os não tratados apresentaram sinais de rejeição. Como próximo passo, a equipe de pesquisadores está trabalhando em uma proposta para um ensaio clínico nos próximos 12 a 18 meses.

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