Invasão da Rússia à Ucrânia pode afetar toda a economia espacial

Por Flavia Correia, editado por Rafael Rigues 24/02/2022 11h42, atualizada em 25/02/2022 16h17
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Imagem: fetrinka - Shutterstock
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Nas últimas semanas, a Rússia posicionou pelo menos 100 mil soldados ao longo da fronteira com a Ucrânia, com reprovação dos EUA e de outros membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

De acordo com a revista Vice, na terça-feira (22), após o presidente russo, Vladimir Putin, receber sinal positivo do parlamento do país para enviar tropas adicionais à Ucrânia, o presidente dos EUA, Joe Biden, descreveu a ação como “o início de uma invasão russa da Ucrânia”, e decidiu autorizar novas sanções econômicas e enviar tropas americanas para os países Bálticos para proteger contra possíveis incursões.

Uma imagem feita por satélite das unidades de defesa aérea na Bielorrússia. Imagem: Maxar Technologies

Toda essa situação reflete de forma sensível e complicada no mundo espacial, haja vista que a Rússia é um parceiro-chave na Estação Espacial Internacional (ISS), embora os efeitos ainda não tenham sido vistos. Além disso, o país também fornece peças-chave de foguetes para duas empresas de lançamento de alto perfil dos EUA.

Motores de foguetes americanos são fornecidos pela Rússia

O foguete Antares, da norte-americana Northrop Grumman, é conhecido por lançar as missões de reabastecimento robótico Cygnus para a ISS, tendo a mais recente sido lançada no sábado (19), chegando ao laboratório orbital na segunda-feira (21). O primeiro estágio do foguete usa dois motores RD-181 projetados pela Rússia e fabricados na Ucrânia.

“Estamos obviamente monitorando a situação”, disse Kurt Eberly, diretor de lançamento espacial da Northrop Grumman, durante uma coletiva de imprensa. 

Comboio de equipamentos blindados na Crimeia, península localizada ao sul da região ucraniana de Kherson. Imagem: Maxar Technologies

Eberly acrescentou que todo o hardware que a empresa precisa para as duas próximas missões Cygnus está disponível no local de lançamento, a Instalação de Voo Wallops, da Nasa, na Virgínia. Embora as datas para os próximos dois lançamentos ainda não tenham sido divulgadas, ele disse que a esperança é que os suprimentos sejam suficientes até que essas tensões possam diminuir, “e possamos voltar ao procedimento operacional normal”.

De qualquer forma, a ISS não ficará desamparada se o fluxo de RD-181s parar. A Nasa planeja mais duas operações de reabastecimento de carga financiadas pela agência no segundo trimestre do ano e tem, obviamente, a opção de usar cápsulas Cargo Dragon, da SpaceX, que já entregam carga para a estação. 

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Menos certo é a situação com a nave de carga Progress, da Rússia, que é em grande parte destinada a abastecer o lado russo da estação. A Progress também impulsiona regularmente a ISS, para evitar que a estação perca altitude em órbita baixa da Terra. Segundo o site Space.com, a nave Cygnus também vai, pela primeira vez, fazer uma manobra de impulso operacional em algum momento durante sua missão atual.

Também potencialmente afetada por interrupções das relações entre os países seria a United Launch Alliance (ULA), que usa motores RD-180 fabricados na Rússia para seu foguete Atlas V que envia inúmeras missões ao espaço todos os anos.

Um foguete Atlas V da United Launch Alliance (ULA) lançando dois satélites do Programa de Conscientização Situacional Espacial Geossíncronso para a Força Espacial dos EUA. Motores são fornecidos pela Rússia. Imagem: ULA

Entre os próximos lançamentos do Atlas V estão a missão de observação GOES-T Earth, que está programada para 1º de março, e o Teste de Voo Orbital-2 (OFT-2) da cápsula Starliner CST-100 da Boeing, agendado para o fim de maio.

A missão OFT-2 lançará a Starliner em um voo não tripulado para a ISS, em uma demonstração de que a cápsula está pronta para transportar astronautas para a Nasa. 

Como o nome já diz, OFT-2 será a segunda tentativa da Boeing nesta missão, após um teste falho que ocorreu em dezembro de 2019. Problemas técnicos, logísticos e de horários adiaram a data de decolagem do OFT-2 em várias ocasiões.

No entanto, a ULA não prevê quaisquer questões da cadeia de suprimentos relacionadas com a situação Rússia-Ucrânia, pois já tem todos os RD-180 que precisa. “A ULA fez a entrega dos últimos motores RD-180 projetados, e eles estão armazenados com segurança em nossa fábrica em Decatur, Alabama”, disse Jessica Rye, diretora de comunicações externas da ULA. “Estamos gerenciando o flyout dos motores RD-180 à medida que fazemos a transição para o nosso novo veículo de lançamento Vulcan.”

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Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.

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Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital