Pesquisadores do Observatório de Leiden, na Holanda, usando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), no Chile, detectaram éter dimetil em torno da jovem estrela Oph-IRS 48. Com nove átomos, essa é a maior molécula já identificada em um disco formador de planetas até o momento. 

Esta imagem do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) mostra poeira presa no disco ao redor do sistema Oph-IRS 48. Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/Nienke van der Marel

Segundo o artigo científico publicado nesta terça-feira (8) na revista Astronomy and Astrophysics que descreve a descoberta, o dimetil é um precursor de moléculas orgânicas como o metano, que, em alguns casos, pode ser indicativo de vida. 

Ainda de acordo com o estudo, o éter dimetil (CH3OCH3) é uma molécula orgânica comumente vista em nuvens formadoras de estrelas, mas nunca havia sido encontrada em um disco formador de planetas. Os pesquisadores também fizeram uma detecção provisória de formato de metil (CH3OCHO), uma molécula complexa semelhante ao éter dimetil que também é considerada um “bloco de construção” para moléculas orgânicas ainda maiores.

Renderização artística mostra o disco formador de planetas ao redor da estrela Oph-IRS 48. Crédito: Observatório Europeu do Sul (ESO)

Localizada a 444 anos-luz de distância da Terra, na constelação de Ophiuchus, a estrela Oph-IRS 48 tem sido objeto de inúmeros estudos porque seu disco contém uma “armadilha de poeira” assimétrica em forma de castanha de caju. Tal região detém um grande número de milimétricos grãos de poeira que podem se unir e crescer em objetos de tamanhos quilométricos, como cometas, asteroides e até mesmo planetas em potencial.

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Reações químicas entre moléculas simples e grãos de poeira resultam em moléculas mais complexas

“A partir desses resultados, podemos aprender mais sobre a origem da vida em nosso planeta e, portanto, ter uma ideia melhor do potencial para a vida em outros sistemas planetários”, disse a autora principal do artigo, Nashanty Brunken, estudante de mestrado no Observatório de Leiden, em comunicado divulgado pelo European Southern Observatory (ESO). “É muito emocionante ver como essas descobertas se encaixam no quadro geral”.

“É realmente emocionante finalmente detectar essas moléculas maiores em discos. Por um tempo pensamos que não seria possível observá-los”, diz a coautora Alice Booth, também pesquisadora do Observatório de Leiden.

Acredita-se que muitas moléculas orgânicas complexas, como o éter dimetil, surgem em nuvens formadoras de estrelas, mesmo antes das próprias estrelas nascerem. Nesses ambientes frios, átomos e moléculas simples como monóxido de carbono grudam em grãos de poeira, formando uma camada de gelo e sofrendo reações químicas que resultam em moléculas mais complexas.

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Pesquisadores descobriram que a armadilha de poeira no disco de Oph-IRS 48 também é um reservatório de gelo, abrigando grãos de poeira cobertos com esse gelo rico em moléculas complexas. Como o aquecimento da jovem estrela sublima o gelo ao gás, as moléculas de éter dimetil herdadas das nuvens frias são liberadas e se tornam detectáveis.

“O que torna isto ainda mais excitante é que agora sabemos que essas moléculas complexas maiores estão disponíveis para alimentar os formadores de planetas no disco”, explica Booth. “Isso não era conhecido antes, pois na maioria dos sistemas essas moléculas estão escondidas no gelo”.

Descoberta pode dar pistas da formação de moléculas prebióticas na Terra

A descoberta do éter dimetil sugere que muitas outras moléculas complexas que são comumente detectadas em regiões formadoras de estrelas também podem estar à espreita em estruturas geladas de discos formadores de planetas. Essas moléculas são os precursores de moléculas prebióticas, como aminoácidos e açúcares, que são alguns dos blocos básicos de construção da vida.

Ao estudar sua formação e evolução, os pesquisadores podem, portanto, obter uma melhor compreensão de como moléculas prebióticas se estabelecem em planetas, incluindo o nosso. “Estamos incrivelmente satisfeitos por agora podermos começar a seguir toda a jornada dessas moléculas complexas desde as nuvens que formam estrelas, até discos formadores de planetas e cometas. Espero que com mais observações possamos chegar um passo mais perto de entender a origem das moléculas prebióticas em nosso próprio Sistema Solar”, diz Nienke van der Marel, pesquisador do Observatório de Leiden que também participou do estudo.

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