A hidroxicloroquina, medicamento usado contra a malária, e que se mostrou ineficaz no tratamento da Covid-19, teve bons resultados em testes em modelos animais no tratamento de cânceres de cabeça e pescoço resistentes à quimioterapia. O medicamento foi utilizado em conjunto com a cisplatina.
De acordo com os pesquisadores, a hidroxicloroquina foi eficaz em diminuir a resistência dos tumores ao tratamento com a cisplatina. Esta é uma das drogas mais importantes, além de mais utilizada em tratamentos quimioterápicos de cânceres de cabeça e pescoço.
“Ao cuidar de pacientes com cânceres de cabeça e pescoço, muitas vezes vejo a quimioterapia falhar”, declarou o co-autor sênior do estudo, Umamaheswar Duvvuri. Segundo ele, a resistência dos tumores à cisplatina é um grande problema no tratamento desses tipos de câncer.
Proteína “expulsa” cisplatina das células
Duvvuri e sua equipe já haviam descoberto que a resistência à cisplatina estava ligada à uma proteína chamada TMEM16A. A superexposição a essa proteína ocorre em mais ou menos 30% dos cânceres de cabeça e pescoço e está diretamente ligada à diminuição da sobrevida dos pacientes.
A TMEM16A promove a expulsão da cisplatina dos lisossomos, que agem como uma espécie de sistema de reciclagem e descarte de resíduos celulares. Ou seja, esses compartimentos celulares quebram moléculas para reutilização e expelem os detritos celulares.
Em tumores com alta quantidade de TMEM16A, a proteína conduz uma nova via de sinalização, o que aumenta a produção de lisossomos, que sequestram e expulsam a cisplatina das células. Isso significa que as células cancerosas têm um mecanismo para descartar as drogas quimioterápicas.
Hidroxicloroquina parceira da cisplatina
A hidroxicloroquina, por sua vez, inibe a ação dos lisossomos, portanto, foi considerada pela equipe de Duvvuri como uma candidata a parceira da cisplatina. Para testar seu efeito, células cancerígenas humanas foram implantadas na membrana que envolve o embrião em ovos de galinha fertilizados.
Os pesquisadores então descobriram que os ovos tratados com hidroxicloroquina e cisplatina tiveram maior morte de células tumorais do que os que foram tratados apenas com a cisplatina. Em uma etapa posterior dos estudos, o mesmo ocorreu em testes realizados com camundongos.
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Esses experimentos sugerem que a hidroxicloroquina tem um efeito sinérgico com a cisplatina”, explicou Duvvuri. “Isso é relevante para os pacientes porque o reaproveitamento da hidroxicloroquina, nos permitirá traduzir essas descobertas para a clínica muito mais rápido do que poderíamos com um novo composto”.
Agora, o próximo passo é levar os testes com a combinação entre hidroxicloroquina e cisplatina para pacientes humanos com cânceres de cabeça e pescoço. No entanto, os ensaios clínicos de fase dois ainda estão sendo desenhados e não têm data para começar.
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