O mundo tem visto um aumento acelerado de casos de varíola dos macacos, doença causada pelo vírus monkeypox e que chegou a ser erradicada há algumas décadas. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), os diagnósticos positivos já passam de 11 mil e, conforme adiantou a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a tendência é que os números aumentem ainda mais. 

Por que os casos de varíola dos macacos estão aumentando? 

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, uma combinação de fatores pode explicar o motivo da disparada dos casos, mas o principal está no fato de a situação ainda não ter sido declarada como uma emergência internacional de saúde. 

“A falta de uma declaração de emergência nos deixa sem coordenação global, sem que o dinheiro e os recursos necessários sejam estabelecidos”, disse a médica Kavita Patel, especialista em políticas de saúde pública e ex-assessora da Casa Branca durante a presidência de Barack Obama, à BBC

Varíola dos Macacos
Varíola dos macacos: por que os casos dispararam? Imagem: Shutterstock/Tatiana Buzmakova

Aguardando resposta da OMS 

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No fim de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que a varíola dos macacos não era, no momento, uma emergência, mas reconheceu uma crescente preocupação com a doença. Na semana seguinte ao comunicado o órgão divulgou uma nota pedindo uma ação “urgente e coordenada” para conter a propagação do vírus. Em seu anúncio mais recente, no entanto, a agência disse que vai reunir seus especialistas novamente para decidir sobre o agravamento do surto. 

A demora da OMS em estabelecer emergência ocorre devido ao baixo risco de mortalidade da doença – embora deva ser acompanhada de perto. Para o professor de saúde pública da Universidade George Washington, Carlos Rodríguez Díaz, a falta de uma resposta de ação da entidade máxima de saúde pode fazer com que os cidadãos não entendam o risco que o vírus pode representar. 

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Os primeiros casos de varíola dos macacos foram registrados em maio deste ano, no Reino Unido. A doença, considerada zoonótica (passada entre animais e humanos), é transmitida por contato físico e tem crescido, principalmente, entre a comunidade gay. No entanto, vale ressaltar que a doença não deve ser associada à orientação sexual, já que qualquer pessoa é suscetível ao vírus

“Isso me lembra os primeiros dias do HIV, quando o identificamos como uma doença relacionada a pessoas homossexuais… ainda estamos lidando com as consequências disso no mundo”, disse Patel, se referindo à divergência de informações sobre a transmissão do HIV em outros grupos. 

Problemas na detecção e com as vacinas 

Outros dois pontos a serem discutidos são as dificuldades na detecção da doença e na distribuição das vacinas. Ainda de acordo com reportagem da BBC, os testes para identificar o vírus não são muito acessíveis à população e os imunizantes têm reservas limitadas. Entenda mais sobre as vacinas contra a varíola aqui

“Isso nos deixa expostos a pessoas que, sem saber, têm varíola dos macacos e podem transmitir a doença a outras pessoas. Mesmo que tenham uma erupção cutânea e alguns sintomas, podem pensar que é um resfriado, porque os sintomas às vezes são parecidos”, comentou a especialista. 

vacina varíola
Varíola dos macacos: por que os casos dispararam? Imagem: Viacheslav Lopatin/shutterstock

Varíola dos macacos já é uma pandemia? 

Para Patel, sim! A médica, juntamente com o ex-professor de Harvard Eric Feigl-Ding e o fundador do New England Complex Systems Institute, Yaneer Bar-Yam, argumentaram em uma coluna do The Washington Post que a varíola dos macacos já é uma “pandemia”. 

“Há pessoas infectadas que não têm histórico de contato sexual ou viagens. Isso é para mim é muito relevante. Temos que começar a falar sobre isso”, concluíram. 

Para alguns cientistas, há duas hipóteses para a volta da varíola: mutação do vírus ou redução da cobertura vacinal para a varíola (que é considerada erradicada no mundo desde 1980).

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