Análises feitas durante o primeiro ano de trabalho do rover Perseverance em Marte apontam que as inesperadas descobertas de rochas vulcânicas no chão da Cratera Jezero pelo veículo podem trazer muitas informações sobre o planeta.

Perseverance encontrou rochas vulcânicas no chão da Cratera Jezero, como esta rocha basáltica (ao centro), batizada de “Rochette”, da qual o rover coletou tirou uma amostra. Imagem: NASA/JPL-Caltech

Os cientistas acreditam que os achados podem revelar a história climática de Marte, principalmente dizendo quando a água pode ter existido por lá e se o planeta já foi potencialmente habitável.

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“Ficamos muito animados em encontrar rochas ígneas”, disse Ken Farley, professor de geoquímica do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e cientista do projeto na missão Mars 2020 ao site Space.com. Ele é autor principal de um dos estudos que analisam as rochas vulcânicas da Cratera Jezero, publicado nesta quinta-feira (25) na revista Science Advances.

Ele explica que a descoberta de rochas vulcânicas (também chamadas de ígneas) foi uma completa surpresa, já que a expectativa era de que o Perseverance estaria navegando por rochas sedimentares formadas a partir de lama e detritos estabelecidos pelo antigo lago que encheu o local de pouso do rover de Marte há cerca de 3,7 bilhões de anos.

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“A maioria de nós esperava estar analisando rochas depositadas no lago. Levamos um bom tempo para chegar a um acordo com o fato de que as rochas no chão da cratera são ígneas”, disse Farley.

O rover Perseverance pousou em Marte em 18 de fevereiro de 2021, e a Cratera Jezero, de 45 quilômetros de largura, foi escolhida como local de pouso por acomodar um antigo delta extremamente proeminente de um outrora rio marciano.

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Uma vista da órbita da espaçonave Mars Express, da Agência Espacial Europeia (ESA) mostra o antigo delta de um rio que teria derramado sedimentos na Cratera Jezero, local de pouso do rover Perseverance em Marte. Imagem: ESA/DLR/FU-Berlin

Cientistas planetários e astrobiólogos acreditam que esse ambiente tenha sido propício à vida bilhões de anos atrás. De fato, algumas das rochas encontradas na Cratera Jezero têm uma composição semelhante às rochas do manto profundo da Terra, onde a oxidação do ferro proveniente de interações com a água pode produzir hidrogênio molecular (fonte de energia potencial para a vida microbiana), além de hidrocarbonetos como o metano, que podem atuar como os blocos de construção de alguns dos compostos bioquímicos mais complexos.

“A origem das rochas ígneas no local permanece um mistério, já que não há características vulcânicas óbvias dentro ou perto da cratera”, disse Farley. 

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Segundo o cientista, o rover vem estudando duas formações distintas de rochas ígneas: Séítah, rica em olivina, um mineral vulcânico comum feito de silicato de ferro de magnésio, e Máaz, que pode ter se formado a partir da lava que fluiu da primeira.

Em um segundo artigo, publicado no mesmo periódico científico e liderado por Svein-Erik Hamran, professor de sensoriamento remoto na Universidade de Oslo, na Noruega, foram analisados dados do radar de penetração terrestre do rover, que apontam que toda a unidade geológica de Séítah e Máaz se estende no subsolo e emergiu parcialmente, de forma levemente inclinada.

“Estamos realmente intrigados sobre isso”, disse Farley. “É uma característica muito distinta. Um cume de rocha de quase 1 km de comprimento que é inclinado por cerca de 10 graus”.

Esta descoberta é surpreendente porque, segundo o cientista, levantar unidades geológicas como essa requer forças tectônicas excepcionais, mas Marte não tem placas tectônicas, nem há fortes evidências de já ter tido. “É seguro dizer que as rochas foram inclinadas depois que foram depositadas por algum fenômeno ainda a ser descoberto”, acrescentou.

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Ele diz que o lago encheu a cratera algum tempo depois que Séítah e Máaz se estabeleceram, e a lama que as cobriu acabou formando uma camada profunda de rocha sedimentar. 

À medida que o clima de Marte mudava, o lago foi secando, acabando por expor os sedimentos. “Desde então, eles estão lá, sendo corroídos, principalmente pelo vento”, disse Farley. “Três bilhões e meio de anos de vento soprando areia podem realmente esculpir uma paisagem”.

Farley faz parte do imenso número de cientistas que não veem a hora de ter em mãos as rochas coletadas pelo rover, para que, assim, possam estudá-las de perto, compreendê-las melhor e confirmar (ou não) suas teorias. Isso deve acontecer a partir de 2033, quando está previsto o envio das amostras à Terra.

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