Originalmente projetado para trabalhar na missão de retorno à Terra de amostras coletadas pelo rover Perseverance em Marte, o veículo explorador Mars Sample Fetch (Buscador de Amostras Marcianas, em tradução livre) pode ser aproveitado para investigar o solo lunar.
Segundo a Airbus, responsável pelo conceito e desenvolvimento do rover, o equipamento vem sendo testado nas últimas semanas em um terreno que simula a superfície de Marte, em uma pedreira perto de Londres, no Reino Unido, embora seu uso no Planeta Vermelho já tenha sido descartado dos planos da NASA.
De acordo com a gigante aeroespacial europeia, o Fetch, que pode andar até duas vezes mais rápido que o rover Perseverance, apresenta um design de roda exclusivo inspirado nos rovers lunares das missões Apollo.
As rodas são envoltas em pneus protetores feitos de malha metálica que se adequa à superfície e permite que o rover passe sobre obstáculos de forma mais eficiente.

Durante os recentes testes na pedreira de Milton Keynes, uma cidade a cerca de 80 km a noroeste da capital britânica, os engenheiros da Airbus instalaram o sistema de navegação autônomo que permite ao rover planejar sua rota de forma independente e evitar obstáculos com segurança.
“Estamos extremamente felizes com o desempenho neste falso ambiente de Marte”, disse Warren Hamilton, arquiteto de sistemas de orientação, navegação e controle do projeto Fetch na Airbus, em entrevista ao site Space.com. “Fizemos o mais parecido com Marte possível, espalhando rochas por toda parte e garantindo que o ambiente seja cheio de obstáculos interessantes”.
Segundo Hamilton, o maior desafio para fazer a tecnologia funcionar é a necessidade de usar hardwares espaciais qualificados para fazer com que o rover não apenas se desloque sozinho como consiga também parar para avaliar o terreno a cada dois metros antes de executar a próxima manobra e seguir sua jornada. “Os computadores com classificação espacial são muito lentos, uma espécie de tecnologia dos anos 1990”.
Ele admitiu que a equipe ficou surpresa com a decisão da NASA de substituir o rover de busca por dois helicópteros na missão de retorno à Terra das amostras coletadas pelo Perseverance, mas espera que a tecnologia tenha outra chance em uma das próximas missões de exploração lunar como parte do programa Artemis.
“A tecnologia que desenvolvemos e ainda estamos desenvolvendo para o sistema de navegação para evitar obstáculos e travessias autônomas é aplicável a qualquer ambiente realmente”, disse Hamilton. “Nós o trouxemos para uma pedreira, e funcionou perfeitamente aqui.”
Ben Dobke, gerente integrado de pranchas no projeto Fetch na Airbus, disse que, embora o sistema de navegação pudesse mudar para a Lua sem muitas dificuldades, o design do rover em si exigiria uma revisão técnica significativa.
“Os picos de temperatura são mais extremos na Lua”, disse Dobke. “Marte tem um dia típico como os da Terra, de cerca de 24 horas, mas a Lua tem 14 dias de sombra. Construir um sistema que possa operar por lá pode, portanto, ser desafiador. Isso é algo que vamos olhar em estudos futuros”.
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Enquanto isso, a Agência Espacial Europeia (ESA), que financiou o desenvolvimento do Fetch, está trabalhando para mapear o futuro do rover ExoMars Rosalind Franklin. Construído para procurar sinais de vida sob a superfície do Planeta Vermelho usando uma broca de 2 metros de comprimento, o explorador deveria ter sido lançado no mês passado do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, administrado pela Rússia.
No entanto, o lançamento foi primeiramente suspenso pela ESA e, depois, cancelado em razão do rompimento da União Europeia com o governo russo em resposta à invasão da Ucrânia.
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