Um artigo publicado no Journal of Archaeological Science: Reports descreve uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Finlândia que encontraram pingentes da Idade da Pedra que foram produzidos com um material surpreendente: ossos humanos.

Representação artística de um homem adulto enterrado na ilha de Yuzhniy Oleniy Ostrov com pingentes de ossos e dentes dos mais variados animais, inclusive seres humanos. Créditos: Tom Björklund/Universidade de Helsínquia

Esses ornamentos pequenos e esguios descobertos em túmulos da Idade da Pedra há mais de 80 anos, em uma ilha localizada num lago russo, foram novamente examinados usando técnicas químicas de impressão digital.

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“Para nossa surpresa, a matéria-prima de alguns dos espécimes acabou por ser osso humano”, relatou a arqueóloga Kristiina Mannermaa, da Universidade de Helsínquia, na Finlândia, que liderou a equipe responsável pelo novo estudo. Ela acredita que essas descobertas sugerem que as pessoas daquela época consideravam suas vidas igualmente importantes às dos animais ao seu redor.

Os pingentes de ossos foram encontrados em Yuzhniy Oleniy Ostrov, uma ilha no Lago Onega, no noroeste da Rússia, sede do maior cemitério do norte da Europa da última parte da Idade da Pedra, com 177 locais de sepultamento registrados.

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Esse cemitério foi escavado pela primeira vez na década de 1930, mas somente com esta última análise os pesquisadores identificaram as origens de fragmentos ósseos transformados em pingentes encontrados em seis túmulos, entre dentes ornamentais de alces, castores e ursos pardos.

De acordo com a nova abordagem, 12 dos 37 pingentes enviados para reanálise foram feitos de ossos humanos, com outros dois de origem questionável e seis de natureza não identificável. Estima-se que eles tenham 8,2 mil anos de idade.

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Visão próxima de pingentes de ossos humanos mostra seus pequenos sulcos. Imagem: Mannermaa et al., J. Archaeol. Sci. Rep.2022

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores usaram espectrometria de massa, que revelou vestígios de proteínas preservadas nos ornamentos escavados, permitindo distinguir quais pingentes foram fabricados a partir de ossos humanos daqueles que seriam feitos de ossos de alces e bovinos.

Segundo o site Science Alert, a evidência mais antiga de ossos humanos sendo usados para produção de acessórios de moda é uma coleção de dentes perfurados encontrados na França, datados de cerca de 35 mil anos atrás, provavelmente deixados por aurignacianos que migravam pela Europa na época. 

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Pingentes de dentes humanos de tempos mais recentes também foram encontrados espalhados por toda a Dinamarca, Alemanha, Turquia, Letônia e República Tcheca.

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Embora os pingentes ósseos de Yuzhniy Oleniy Ostrov estivessem mal preservados, fragmentados e desgastados nas bordas, fraturas em espiral revelaram que eles foram feitos de osso fresco e não de cadáveres mais antigos. Nenhuma evidência de canibalismo ritual foi encontrada, mas não é uma hipótese totalmente descartada.

Mannermaa acredita que exista uma simbologia por trás da utilização de ossos humanos como matéria-prima para ornamentos. “Usar ossos de animais e humanos juntos no mesmo ornamento ou roupa pode ter simbolizado a capacidade dos seres humanos de se transformarem em animais em suas mentes, além do que eles acreditavam que os animais eram capazes de tomar forma humana”. 

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