Novas pesquisas descobriram que nuvens interestelares podem ter desempenhado papel significativo na criação das condições que ajudaram a criar os blocos de construção da vida.

Os aminoácidos, ingrediente-chave da vida, podem ter sido originalmente produzidos em nuvens moleculares interestelares como aquela a partir da qual o sistema solar se formou, antes de acabar em asteroides que mais tarde caíram na Terra, trazendo os aminoácidos com eles.

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Os meteoritos condritos carbonáceos são ricos em aminoácidos e aminas (estes últimos são compostos orgânicos portadores de nitrogênio) que são componentes cruciais de proteínas e células biológicas na vida na Terra. Portanto, entender onde e como os aminoácidos se formaram é importante para entender melhor a origem da vida.

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Cientistas liderados por Danna Qasim, do South-west Research Institute (SwRI), em San Antonio, Texas, EUA, e Christopher Materese do Goddard Space Flight Center da NASA deram grande passo para descobrir onde os aminoácidos e aminas se formam no espaço, criando-os em laboratório em “condições relevantes para asteroides”.

Muitos estudos têm se concentrado em tentar simular a formação de aminoácidos em condritos carbonáceos, os quais são meteoritos de asteroides ricos em carbono que se formaram no início do sistema solar, há 4,5 bilhões de anos.

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A pesquisa de Qasim e Materese leva as coisas ainda mais longe no tempo para a nuvem interestelar de gás molecular e poeira a partir da qual o Sol e os planetas eventualmente se formaram.

A composição dos asteroides se originou da nuvem molecular interestelar parental, que era rica em matéria orgânica. Embora não haja evidência direta de aminoácidos nas nuvens interestelares, há evidência de aminas. A nuvem molecular poderia ter fornecido os aminoácidos em asteroides, que os transmitiram aos meteoritos.

Danna Qasim, em declaração do SwRI

Qasim começou a replicar as condições em nuvens interestelares para tentar formar aminoácidos. Ela usou gelos, como amônia, dióxido de carbono, metanol e água, comumente encontrados em nuvens interestelares, e os bombardeou com prótons de alta energia de um gerador Van de Graff para replicar os gelos sendo irradiados no espaço por raios cósmicos.

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O bombardeio de prótons quebrou as moléculas de gelo, as partes componentes então se remontando como moléculas orgânicas mais complexas, incluindo aminas e aminoácidos, como etilamina e glicina, no que Qasim chama de “resíduo orgânico” – espécie de lodo pegajoso.

Quando o Sistema Solar se formou a partir da nuvem molecular, essas aminas e aminoácidos teriam sido transferidos para asteroides carbonáceos e eventualmente trazidos para a Terra por meio de impactos de asteroides e quedas de meteoritos. No entanto, as abundâncias de aminas e aminoácidos que Qasim criou não correspondem às suas abundâncias em condritos carbonáceos.

Imagem: SwRI

Materese se perguntou se haveria um estágio extra em que mais aminas e aminoácidos são formados dentro dos asteroides, que ainda estavam quentes e continham água líquida no momento logo após sua formação.

A equipe de Qasim e Materese processou ainda mais as amostras de resíduos orgânicos em condições como as dos asteroides. Eles descobriram que não apenas as proporções de aminas e aminoácidos da nuvem interestelar permaneceram intactas, mas também que a abundância de alguns dos aminoácidos, como a glicina, dobrou após sete dias de alteração aquosa no calor e na água.

O importante é que os blocos de construção da vida têm forte ligação não apenas com os processos no asteroide, mas também com os da nuvem interestelar-mãe.

Danna Qasim, em declaração da NASA

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Há uma ressalva, no entanto. Mesmo com o processamento de asteroides contabilizado, as abundâncias de aminas e aminoácidos ainda não correspondem às abundâncias encontradas em meteoritos condritos carbonáceos.

É possível que, tendo caído na Terra, os meteoritos tenham se contaminado com matéria orgânica terrestre, alterando suas abundâncias de aminoácidos. Como tal, Qasim e Materese, com muitos de seus colegas, aguardam ansiosamente o retorno de amostras do asteroide carbonáceo Bennu, visitado pela missão OSIRIS-REx da NASA.

Essas amostras cairão de pára-quedas de volta à Terra em sua cápsula em 24 de setembro de 2023 e representarão material intocado não contaminado pela vida na Terra que remonta ao nascimento do Sistema Solar.

Com informações recém-detalhadas sobre a composição do gelo das nuvens interestelares do JWST, os cientistas podem finalmente determinar com certeza se os aminoácidos se formaram em nosso sistema solar ou no espaço interestelar.

No primeiro caso, é possível que a vida seja exclusiva do nosso Sistema Solar. Nesse último caso, os aminoácidos devem estar espalhados por toda a galáxia da Via-Láctea, aumentando o potencial de vida em planetas ao redor de outras estrelas.

Via Space.com

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