Fóssil de dinossauro levado ilegalmente do Brasil volta ao Ceará

Após quase 30 anos, fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus retorna ao Ceará para fazer parte do acervo do Museu de Paleontologia do Cariri
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Flavia Correia 15/06/2023 16h14, atualizada em 16/06/2023 13h12
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Duas placas de pedra Cariri nas quais ficaram impressas marcas do dinossauro Ubirajara jubatus. Crédito: Raul Vasconcelos (ASCOM/MCTI)
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Depois de quase três décadas longe de casa, o fóssil do dinossauro Ubiraja jubatus finalmente retornou ao Ceará, onde foi encontrado pela primeira vez. A peça, que estava ilegalmente na Alemanha desde 1995, desembarcou em Fortaleza na quarta-feira (14), onde foi recebida com solenidade no Palácio da Abolição, sede do governo do estado.

Leia mais:

Trajeto do Ubiraja jubatus desde que chegou ao Brasil

  • Em 4 de junho, o fóssil chegou ao Brasil em um avião oficial do governo alemão e, no dia seguinte, foi analisado por representantes dos dois países;
  • Na segunda-feira (12), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) realizou uma cerimônia de repatriação da peça;
  • Na quarta-feira (14), o fóssil finalmente desembarcou em sua terra natal, o Ceará, onde vai fazer parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, administrado pela Universidade Regional do Cariri (Urca).
Representação artística do dinossauro Ubirajara jubatus. Crédito: Bob Nicholls / Paleocreations.com 2020

Importância do resgate histórico para o Brasil

Durante a cerimônia de recepção do fóssil, o governador do Ceará, Elmano de Freitas, falou sobre a importância do resgate histórico da relíquia para o país.

O local desse fóssil é onde ele viveu, e ele viveu no Cariri cearense. Em uma época onde tem gente que acha que a Terra é plana, isso (resgate histórico) vai criando em nós cultura e valorização do patrimônio. Aqui neste canto temos a capacidade de construir conhecimento. É um primeiro passo: outros fósseis serão recuperados.

Elmano de Freitas, governador do Ceará

Freitas agradeceu os profissionais envolvidos na recuperação da peça e enalteceu o papel do item na cultura local. Ele ainda revelou que o estado está em negociação com a França para a repatriação de outro fóssil. “Autoestima para o nosso povo. Uma peça que representa 110 milhões de anos da nossa história. Recuperar esse fóssil é muito importante”.

Após 28 anos, o fóssil carinhosamente chamado de “Bira” retornou ao lar. Crédito: Joédson Alves/Agência Brasil

No Twitter, o paleontólogo Juan Cisneros, pesquisador da Universidade Federal do Piauí (UFPI) que teve total envolvimento com a recuperação do fóssil, destacou que a peça é um divisor de águas.

Relembre o caso

  • O fóssil da espécie Ubirajara jubatus foi descoberto na região da Bacia do Araripe, no interior do Ceará, e data do período Cretáceo, há cerca de 110 e 115 milhões de anos;
  • O animal é a primeira espécie não aviária de dinossauro encontrada com penas preservadas na América Latina;
  • O fóssil foi retirado do Brasil em 1995, com autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão que não existe mais;
  • A Sociedade Brasileira de Paleontologia garante que o documento que autorizou a exportação era genérico e teria sido assinado por um funcionário criminoso, condenado por fraudar laudos para extração de esmeraldas;
  • Por isso, a entidade passou a questionar a validade do documento;
  • Soma-se a isso a Convenção da Unesco sobre Medidas para Proibir e Prevenir a Importação, Exportação e Transferência Inadmissível de Propriedade de Bens Culturais, documento de 1973;
  • Há 17 anos, a relíquia passou a fazer parte do acervo do Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha;
  • Em sua defesa, a instituição argumentou que o governo alemão estabeleceu uma lei, em 2016, que legaliza todo material levado para lá antes de 26 de abril de 2007;
  • Diante da situação, a comunidade científica e a mobilização popular do Brasil se empenharam em mudar a decisão, solicitando medidas da embaixada brasileira na Alemanha para que o fóssil fosse repatriado;
  • Em meados de maio, o MCTI anunciou que as tratativas entre Alemanha e Brasil foram concluídas a nosso favor, e que a peça chegaria este mês, para fazer parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (MPPCN), em Santana do Cariri, no Ceará;
  • Com a chegada de “Bira” à terra onde foi encontrado, os paleontólogos dizem que, finalmente, ele pode “descansar em paz”, expressão delicadamente representada nesta ilustração do artista digital André Martins:
Ilustração do artista digital André Martins, representando o retorno do dinossauro brasileiro Ubirajara jubatus. Crédito: Reprodução Twitter @kadeauxmartins

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Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.