Há pouco mais de uma semana, o Olhar Digital noticiou que orcas vêm atacando embarcações no largo da costa ibérica e ensinando filhotes a fazer o mesmo. Agora, cientistas suspeitam que golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops spp) estão ensinando uns aos outros a “implorar” por restos de peixes em barcos de pesca na Austrália.

Tal comportamento, relatado em um artigo publicado esta semana no eSpace da Universidade de Queensland (UQ Library), foi notado pelo pesquisador Léonie Huijser enquanto ele observava um grupo de golfinhos em Moreton Bay ao longo de três anos – entre 2017 e 2020 – para sua tese de doutorado sobre as estruturas sociais desses animais.

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“Dentro da sociedade dos golfinhos, encontrei um aglomerado que patrulhava constantemente barcos atracados, esperando que os pescadores recreativos lhes jogassem iscas descartadas ou capturas”, conta Huijser ao site Science Alert. “A pesca é popular naquela baía, e parece que alguns golfinhos aprenderam a explorá-la”.

Alimentar golfinhos é ilegal nessa região da Austrália

Atualmente, é ilegal alimentar golfinhos em Moreton Bay, mas a fiscalização é difícil quando os barcos de pesca estão na água, longe da costa. As penalidades para quem descumprir a lei podem chegar a US$11.252 (algo em torno de R$54,7 mil, na cotação atual).

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Isso pode parecer uma punição desproporcional para um ato bem-intencionado, mas alimentar golfinhos pode ser seriamente prejudicial para esses animais. Especialistas alertam que jogar peixes para eles os coloca em maior risco de mudanças comportamentais e colisões com barcos.

De fato, Huijser percebeu que alguns dos golfinhos que se aproximam dos barcos têm sinais de ferimentos causados por hélices e emaranhamento da linha de pesca. “Durante um dos meus primeiros dias de trabalho de campo perto de North Stradbroke Island, um golfinho apareceu ao lado do nosso barco, mas desapareceu quando percebeu que não iríamos alimentá-lo. Sua barbatana havia sido gravemente esmagada anteriormente, indicando que pode ter ficado presa em uma linha”.

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A barbatana danificada de um golfinho-nariz-de-garrafa em Moreton Bay, possivelmente de um barco. (Léonie Huijser)

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O pesquisador diz estar preocupado que o comportamento de mendicância esteja se espalhando. Os golfinhos, como as orcas, têm culturas complexas que podem evoluir e se adaptar ao longo do tempo por meio do aprendizado social. Se um golfinho que não pede comida vê um companheiro maior fazendo isso, ele pode imitar esse comportamento. Especialmente se o golfinho pedinte for bem-sucedido em persuadir os humanos a alimentá-lo.

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“Nem todas as adaptações são positivas, e a mendicância é um exemplo de estratégia adaptativa que pode ter ganhos de curto prazo, mas riscos de longo prazo”, explica o biólogo marinho Michael Noad, que supervisionou a tese de Huijser. “Os golfinhos correm o risco de se tornarem dependentes de peixes doados, o que é como junk food para eles – rápido e fácil, mas insalubre. Pode levar a intoxicação alimentar ou a desequilíbrios nutricionais”.

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