Muitos fenômenos celestes fascinantes esperam os apaixonados pelo céu noturno em agosto. Entre eles, merece destaque a Superlua do Esturjão, que será responsável por abrir o calendário astronômico, logo nesta terça-feira (1º). E o mais incrível é que o mês também se encerra com o mesmo evento: a chamada Superlua Azul. 

Mas, o que é uma Superlua? E o que significa “Lua do Esturjão”? Vamos entender:

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O que é uma Superlua?

De forma bem simples e resumida, uma Superlua ocorre quando o nosso satélite natural chega à fase completa praticamente ao mesmo tempo em que faz sua aproximação máxima com a Terra (ponto chamado de perigeu).

“Mas, sem saber o quão perto a lua cheia precisa estar da Terra, não dá para cravar se esta ou aquela lua cheia é uma Superlua”, explica o colunista do Olhar Digital Marcelo Zurita, que é presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA) e diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON).

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Imagens da Lua do Esturjão de 2022, em Liverpool, na Inglaterra, que foi considerada por alguns a última Superlua do ano passado, embora, em termos astronômico, não atendesse todos os requisitos.

Segundo Zurita, até existem algumas tentativas de criar uma definição científica, completa e definitiva para o termo, mas é difícil chegar a um consenso, e talvez isso tenha algo a ver com ele vir da astrologia. “Na astronomia, sua utilização é recente e tem se mostrado uma boa forma de popularizar a ciência, mas muita gente ainda ‘torce o nariz’ para o termo, por considerá-lo um nome mercadológico para ‘vender’ a Lua Cheia no perigeu, que, na prática, não tem nada de super, nem representa nenhum fenômeno de interesse científico”.

Talvez por isso a União Astronômica Internacional (IAU) não demonstrou, até hoje, nenhum interesse em normatizar o termo. “Tudo que temos são as definições informais para a Superlua”, explica o astrônomo.

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Pela definição do astrólogo Richard Nolle, “pai” do termo, pode-se chamar de Superlua quando a lua cheia está perto de (dentro de 90%) sua maior aproximação da Terra em uma determinada órbita (que, neste mês, será de 356.500 km). Assim, como a lua cheia desta terça-feira estará a cerca de 357 mil km do nosso planeta (de acordo com o guia de observação astronômica InTheSky.org), sim, enquadra-se como uma Superlua.

Zurita explica que, no meio científico, os astrônomos preferem o termo “perigeu-sizígia” ou simplesmente “Lua Cheia no Perigeu”, adotado para quando a Lua entra na fase cheia a menos de 24 horas do perigeu. “Neste critério, esta lua cheia é realmente uma Superlua, já que ela chega a essa fase cerca de 12 horas antes de atingir seu perigeu”.

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Sempre que a lua cheia acontece próxima ao perigeu, ela aparece até 14% maior e 30% mais brilhante, se comparada à lua cheia do apogeu (ponto mais afastado da Terra).

Imagem: Reprodução/Vox

A distância da Lua em relação à Terra varia porque sua órbita não é perfeitamente circular – é ligeiramente oval, traçando um caminho chamado uma elipse. À medida que ela atravessa esse caminho elíptico ao redor do nosso planeta a cada mês, sua distância varia entre 356.500 km no perigeu e 406.700 km no apogeu (ponto mais distante).

Lua do Esturjão

De acordo com o Old Farmer’s Almanac (Almanaque do Velho Fazendeiro), uma das publicações mais tradicionais dos EUA voltadas à vida no campo, a lua cheia de cada mês do ano tem seu próprio nome.

Luas cheias de 2023:

  • 6 de janeiro: Wolf Moon (Lua do Lobo)
  • 5 de fevereiro: Snow Moon (Lua de Neve)
  • 6 de março: Worm Moon (Lua de Minhoca)
  • 6 de abril: Pink Moon (Lua Rosa)
  • 5 de maio: Flower Moon (Lua das Flores)
  • 4 de junho: Strawberry Moon (Lua de Morango)
  • 3 de julho: Buck Moon (Lua dos Cervos)
  • 1 de agosto: Sturgeon Moon (Lua do Esturjão)
  • 30 de agosto: Blue Moon (Lua Azul)
  • 29 de setembro: Harvest Moon (Lua da Colheita)
  • 28 de outubro: Hunter’s Moon (Lua do Caçador)
  • 27 de novembro: Beaver Moon (Lua do Castor)
  • 26 de dezembro: Cold Moon (Lua Fria)

Esturjão é um tipo de peixe, e essa denominação foi dada em razão da época em que essa espécie é encontrada em grande quantidade e pescada mais facilmente nos Grandes Lagos da América do Norte, entre o Canadá e os EUA.

A Lua do Esturjão recebeu esse nome em razão da época em que essa espécie de peixe é encontrada em grande quantidade e pescada mais facilmente nos Grandes Lagos da América do Norte. Crédito: CSNafzger – Shutterstock

Quando um mês tem duas luas cheias, a segunda é chamada de Lua Azul (sendo ou não “super” – e esse nome não tem nada a ver com a coloração do astro), e isso vai acontecer em agosto. Como, desta vez, ambas se darão próximas do perigeu, agosto terá duas Superluas em 2023.

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Para o astrônomo amador Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital, os nomes da lua cheia adotados por aqui deveriam ser outros. “Poderíamos valorizar nossa cultura ancestral lembrando as referências que os indígenas utilizavam para identificar cada lua”.

Para a lua cheia de agosto, por exemplo, ele sugere o nome de Lua de Kuarup. “A lua cheia do mês de agosto marca o período da Festa do Kuarup, que é um ritual realizado pelos indígenas do Alto Xingu para despedida dos mortos e encerramento do período de luto. Neste ritual, cada morto celebrado é representado por um tronco de madeira kuarup, que é pintado, ornamentado e jogado no rio Kuluene ao final da cerimônia”, explica Zurita.

Registro da dança em frente aos troncos, ritual presente na Festa do Kuarup, na aldeia Kamayurá. Crédito: Marcello Casal Jr. – Agência Brasil/Creative Commons

Dicas para observar a primeira Superlua de agosto

A Lua alcança a fase cheia às 15h31 de terça-feira (horário de Brasília). Ela aparecerá no céu a partir das 17h40, permanecendo visível até às 7h30 de quarta-feira (2). 

Esses horários têm como referência um observador baseado em São Paulo. O momento exato em que o astro nasce em sua localidade pode ser consultado em aplicativos como Stellarium, Star Walk, Star Chart, Sky Safari ou SkyView.

Para ver a Lua, basta olhar para a direção leste, que é o lado oposto em que o Sol estiver se pondo. A primeira hora após a aparição é o momento mais propício para observá-la, pois ela está maior e pode apresentar belas variações de tonalidade (amarelada, alaranjada e até avermelhada), devido à interação com a atmosfera. Conforme for ficando mais alta no céu, ela continuará igualmente ou até mais brilhante, mas nos parecerá menor e bem branca. 

Embora não seja necessário qualquer instrumento especial, quem tiver binóculos, telescópio ou uma boa câmera com zoom pode observar mais detalhes, como as crateras da superfície lunar, por exemplo.

Se o seu ponto de observação não for conveniente (caso o céu esteja nublado, ou o frio desanime a sair de casa para contemplar o fenômeno), é possível acompanhar tudo pela internet. 

O Virtual Telescope Project (Projeto Telescópio Virtual), um serviço prestado pelo Observatório Astronômico Bellatrix, com sede em Roma, na Itália, vai realizar uma transmissão em tempo real a partir das 15h40 pelo YouTube

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