Um artigo publicado nesta quinta-feira (24), na revista Nature Astronomy relata a primeira vez que um telescópio baseado em solo foi capaz de observar uma mancha escura em Netuno, que fica a mais de 4,5 bilhões de km da Terra.

Usando o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), localizado no Chile, os astrônomos detectaram uma grande mancha escura na atmosfera do gigante gasoso azul.

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Grandes manchas são características comuns nas atmosferas de planetas gigantes, sendo a mais famosa a Grande Mancha Vermelha de Júpiter. Em Netuno, uma mancha escura foi descoberta pela primeira vez pela sonda Voyager 2, da NASA, em 1989, antes de desaparecer alguns anos depois. 

Captura feita em 1989 pela sonda Voyager-2, da NASA, mostra uma mancha escura na atmosfera de Netuno. Crédito: NASA/JPL

Desde a primeira descoberta de uma mancha escura, sempre me perguntei o que são essas características de curta duração e evasivas.

Patrick Irwin, professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e principal investigador do estudo, em um comunicado do ESO.

Irwin e sua equipe usaram dados do VLT para descartar a possibilidade de que manchas escuras sejam causadas por “vãos” nas nuvens. As novas observações indicam, em vez disso, que as manchas escuras são provavelmente o resultado de partículas de ar escurecendo em uma camada abaixo da camada principal de névoa visível, conforme gelo e névoa se misturam na atmosfera de Netuno.

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Como as manchas escuras não são características permanentes da atmosfera do planeta, os astrônomos nunca haviam sido capazes de estudá-las com detalhes suficientes. A oportunidade apareceu quando o Telescópio Espacial Hubble descobriu várias delas, incluindo uma no hemisfério norte, notada pela primeira vez em 2018.

Um novo tipo de nuvem é descoberto em Netuno

Agora, usando o Explorador Espectroscópico Multi-Unidades (MUSE) do VLT, eles conseguiram dividir a luz solar refletida de Netuno e sua mancha em suas cores componentes – ou comprimentos de onda – e obter um espectro 3D. 

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Dessa forma, eles poderiam investigar o local com mais detalhes do que era possível até então. “Estou absolutamente emocionado por ter sido capaz não apenas de fazer a primeira detecção de uma mancha escura do solo, mas também registrar pela primeira vez um espectro de reflexão de tal característica”.

Como diferentes comprimentos de onda sondam diferentes profundidades na atmosfera de Netuno, ter um espectro permitiu aos astrônomos determinar melhor a altura em que a mancha escura fica. O espectro também forneceu informações sobre a composição química das diferentes camadas da atmosfera, o que deu à equipe pistas sobre por que a mancha parecia escura.

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Quatro imagens de Netuno capturadas em diferentes comprimentos de onda pelo VLT, no Chile. Em duas delas, é possível notar um ponto brilhante nos arredores da mancha, que se refere a um novo tipo de nuvem. Crédito: ESO/P. Irwin et al.

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Outro resultado surpreendente foi a descoberta de um tipo totalmente único de nuvem. “No processo, descobrimos um tipo raro de nuvem brilhante profunda que nunca havia sido identificado antes, mesmo a partir do espaço”, diz o coautor do estudo Michael Wong, pesquisador da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos EUA.

Este tipo de nuvem rara apareceu nas imagens como um ponto brilhante ao lado da mancha escura principal. Os dados do VLT mostraram que a nova “nuvem brilhante profunda” estava no mesmo nível na atmosfera que a mancha. Isso significa que é um tipo completamente novo de recurso em comparação com as pequenas nuvens “companheiras” de gelo de metano de alta altitude que foram observadas anteriormente.

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