Um artigo publicado nesta quinta-feira (31) na revista Scientific Reports, pertencente ao grupo Nature, relata uma descoberta impressionante: o “cheiro da vida após a morte”. Fornecendo uma janela única para o passado, a pesquisa recriou o aroma do bálsamo que foi usado na mumificação de uma mulher de alto padrão social que viveu no Egito há mais de 3.500 anos, cujos restos mortais foram escavados em 1900.

Pesquisas anteriores descobriram que a senhora, que recebeu o nome de Senetnay, foi ama-de-leite do bebê que viria a ser coroado faraó Amenófis II e, por essa razão, recebeu o curioso título de “Ornamento do Rei”, tornando-se membro da alta sociedade.

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Como convém a uma pessoa que ocupa tão elevada posição na sociedade egípcia, os órgãos mumificados de Senetnay foram armazenados em jarros canópicos, depositados em um túmulo real no Vale dos Reis. 

Um dos jarros canópicos de calcário que abrigam os restos mumificados na nobre Senetnay. Crédito: Christian Tepper/Museu August Kestner, Hannover

Agora, uma equipe liderada por Barbara Huber, do Instituto Max Planck de Geoantropologia, na Alemanha, conduziu análises sofisticadas para revelar os ingredientes da substância de embalsamamento usada nesses órgãos.

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Descoberta revela relações comerciais no Egito Antigo

Os pesquisadores recuperaram seis amostras de bálsamo de dois jarros separados – aqueles que armazenavam os pulmões e o fígado de Senetnay, respectivamente – que agora estão no Museu August Kestner, em Hanover, capital do estado alemão da Baixa Saxónia.

A cumarina, que tem um aroma semelhante ao de baunilha, e o ácido benzoico – que conta com Nostradamus entre seus descobridores originais – foram encontrados em ambos os frascos.

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Dois compostos foram detectados exclusivamente no frasco que armazenava os pulmões de Senetnay. Um deles é o larixol, que é derivado da resina larch. Já o outro é um ingrediente perfumado que poderia ser dammar – substância obtida de árvores difundidas na Índia e no Sudeste Asiático – ou uma resina de árvores do gênero Pistacia, da família do cajueiro.

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Conforme destaca o site IFLScience, essa pesquisa não apenas dá uma noção sobre os diferentes métodos usados para embalsamar diferentes órgãos, como também lança uma nova luz sobre os laços comerciais que existiam no mundo antigo.

“Os ingredientes do bálsamo deixam claro que os antigos egípcios estavam adquirindo materiais de fora de seu reino desde cedo”, disse a pesquisadora sênior Nicole Boivin em um comunicado. “O número de ingredientes importados em seu bálsamo também destaca a importância de Senetnay como um membro-chave do círculo íntimo do faraó”.

Segundo Boivin, a possível presença de dammar particularmente interessante – se isso for confirmado, vai corroborar as descobertas de bálsamos que datam do primeiro milênio a.C., sugerindo que os antigos egípcios haviam estabelecido rotas comerciais com o Sudeste Asiático quase mil anos antes do que se pensava até agora.

“Perfume da eternidade”

Trabalhando com um perfumista especializado e museologista sensorial, a equipe conseguiu engarrafar a fragrância do bálsamo. O “perfume da eternidade”, como foi apelidado, em breve estará em exibição no Museu Moesgaard, na Dinamarca, para que os visitantes possam ter a chance de experimentar o aroma da antiguidade.

O perfume final, juntamente com pedaços de resina dammar – que, se confirmado estar presente no bálsamo, poderia mudar radicalmente nossa visão do comércio egípcio antigo. Crédito: Barbara Huber

“O ‘perfume da eternidade’ representa mais do que apenas o aroma do processo de mumificação”, disse Huber. “Ele incorpora o rico significado cultural, histórico e espiritual das práticas mortuárias do Egito Antigo”.

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