Vênus atualmente não apresenta movimentação tectônica, mas um novo estudo sugere que isso nem sempre foi assim. Logo após a sua formação, o planeta pode ter tido placas tectônicas semelhantes às da Terra – um cenário que levanta a possibilidade de vida primitiva por lá.

O que você vai ler aqui:

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  • Na Terra, as placas tectônicas foram responsáveis por formar continentes e montanhas, além de conduzir reações químicas que tornaram o planeta propício à vida;
  • Os cientistas sempre consideraram que o ambiente extremamente hostil de Vênus era devido à falta de movimentação tectônica, como se houvesse uma “tampa estagnada” na crosta;
  • Isso significa que a superfície de Vênus tem apenas uma única placa com quantidades mínimas movimentação e gases sendo liberados na atmosfera;
  • No entanto, as altas concentrações de azoto e dióxido de carbono na atmosfera venusiana indicam que o planeta já apresentou tectonismos entre 4,5 e 3,5 bilhões de anos atrás, logo após ter se formado.

O segundo planeta do Sistema Solar é conhecido por sua atmosfera densa e quente, capaz de derreter até chumbo. Uma nova pesquisa, publicada quinta-feira (26) na revista Nature Astronomy, diz que essas condições só são possíveis com movimentações de placas tectônicas.

Vênus pode ser tectonicamente mais ativo do que se pensava anteriormente. A superfície do planeta rochoso é mostrada aqui em uma imagem da sonda Magellan, da NASA. Crédito: Centro de Ciências de Astrogeologia da USGS

Inicialmente, a intenção dos pesquisadores era encontrar uma forma de mostrar que as atmosferas de exoplanetas (mundos de fora do Sistema Solar) podem conter informações importantes sobre as origens desses corpos.

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Os cientistas resolveram usar dados atuais da atmosfera de Vênus como ponto de partida para produzir modelos computacionais. A partir de tais simulações, rapidamente eles perceberam que o que se sabia sobre nosso vizinho mais próximo estava errado.

Uma das conclusões gerais é que muito provavelmente tínhamos dois planetas ao mesmo tempo no mesmo sistema solar (Vênus e Terra) operando num regime de placas tectônicas – o mesmo modo de tectônica que permitiu a vida que vemos hoje na Terra.

Matt Weller, autor principal do estudo, em comunicado

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Tectonismo e a evolução planetária

Esta descoberta reacende a possibilidade de vida microbiana no planeta primitivo e mostra que no passado Vênus e Terra poderiam ter sido muito parecidos. Além disso, a pesquisa sugere que o tectonismo pode não ser uma constante nos planetas, podendo sair e entrar em diferentes estados de movimentação.

Os pesquisadores ainda não sabem bem porque o planeta parou seu tectonismo, mas a teoria apresentada por eles é de que Vênus acabou ficando muito quente e sua atmosfera muito espessa, Essas novas condições secaram os ingredientes necessários para a movimentação das placas tectônicas.

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Essa hipótese será útil para os pesquisadores compreenderem melhor a origem e a evolução de luas próximas e exoplanetas à medida que esses corpos forem estudados em futuras missões espaciais. Os cientistas também dizem que os detalhes de como as coisas aconteceram em Vênus podem ter implicações importantes para a Terra.

“Esse será o próximo passo crítico para entender Vênus, sua evolução e, finalmente, o destino da Terra”, disse Weller. “Que condições nos forçarão a nos mover em uma trajetória semelhante à de Vênus e quais condições poderiam permitir que a Terra permanecesse habitável?”.

Investigações complementares podem trazer respostas.