Coberto por uma espessa camada de nuvens de dióxido de carbono, Vênus apresenta uma das temperaturas mais escaldantes de todo o Sistema Solar. O planeta é tão quente que todas as espaçonaves que a humanidade já enviou para estudá-lo de perto foram basicamente derretidas e pulverizadas. 

Ilustração artística simula a atmosfera hostil de Vênus. Imagem: Aphelleon – Shutterstock

Para sobreviver às condições infernais de Vênus, qualquer equipamento projetado para visitá-lo deve ser composto por materiais capazes de suportar pressões atmosféricas esmagadoras — semelhantes às pressões a quase 2 km abaixo do nível do mar aqui na Terra — e suportar a chuva de ácido sulfúrico que desaba sobre o segundo planeta mais próximo do Sol (gotículas tão altamente concentradas que poderiam facilmente abrir buracos na pele de uma pessoa).

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Uma solução para isso pode estar em um novo conceito de missão espacial que poderia permitir que os cientistas explorem Vênus como nunca antes — tudo sem nem tocar no solo do planeta hostil. A ideia envolve emparelhar um pequeno satélite com um balão robótico aéreo (ou aerobot), de pouco mais de 10 metros de diâmetro. 

Embora Vênus seja frequentemente chamado de “irmão gêmeo” da Terra, devido às suas semelhanças em tamanho e estrutura, os dois não poderiam ser mais diferentes. Nosso planeta é um mundo repleto de vida, enquanto Vênus poderia escaldar qualquer chance que tivesse de organismos vivos. Assim, podemos dizer que ele é nosso planeta irmão sim, mas não gêmeo, definitivamente.

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Mantendo-se no alto nos níveis superiores da atmosfera de Vênus, o orbitador usaria os poderosos ventos do planeta para circunavegá-lo, fazendo medições científicas constantes do planeta. Esses experimentos iriam desde a análise das composições químicas de suas nuvens até o monitoramento da atmosfera para ondas acústicas que poderiam dizer aos cientistas mais sobre os terremotos venusianos.

Paul Byrne, professor associado da Universidade de Washington em St. Louis e colaborador científico de longa data no conceito, está entusiasmado com essa possibilidade. Ele diz que um orbitador equipado com um balão poderia potencialmente operar por vários meses terrestres — uma grande evolução em relação a outras tentativas de explorar nosso vizinho mais próximo. 

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Protótipo do aerobot (em escala de um terço) projetado para suportar os produtos químicos corrosivos na atmosfera de Vênus. Voos de teste no deserto de Nevada, nos EUA, deram à equipe confiança de que um modelo maior de balão robótico poderia operar no planeta hostil. Crédito: Near Space Corporation

“Conforme o aerobot for se deslocando pelo céu venusiano, ele se moverá mais alto à medida que for transportado para o norte pelos ventos predominantes do planeta, o que significa que não apenas cobriremos uma enorme quantidade de área, como também seremos capazes de entender como é a atmosfera em diferentes momentos do dia”, explicou Byrne ao site Popular Science

Segundo o cientista, coletar dados em diferentes momentos seria útil para criar uma imagem mais detalhada da atmosfera de Vênus, além de tentar compreender características misteriosas do planeta como a falta de um campo magnético intrínseco.

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Embora o uso da tecnologia de balões possa parecer uma novidade, outra superpotência espacial usou esses dispositivos flutuantes para explorar Vênus décadas atrás. Nos anos de 1980, os soviéticos revelaram o programa Vega: naves gêmeas que foram projetadas para entregar cargas de aterrissadores avançados e balões à superfície. Os dados enviados pela missão permitiram que os cientistas analisassem o complexo sistema climático do planeta.

Agora, quase 40 anos depois, a equipe do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA e da Near Space Corporation recentemente completou dois testes de voo bem sucedidos de um protótipo conceitual no estado norte-americano de Nevada. O modelo tem cerca de um terço do tamanho real que a espaçonave teria se a ideia se concretizasse.

“O objetivo deste teste foi medir a dinâmica de voo do balão”, diz Jacob Izraelevitz, tecnólogo em robótica da JPL. “Uma das razões pelas quais escolheram Nevada é por abrigar o maior leito seco de lago nos EUA continental. A vasta paisagem aberta facilitaria a recuperação da embarcação e evitaria acidentes em obstáculos, como edifícios ou torres”.

Segundo Izraelevitz, os voos também revelaram muitas informações práticas. Com base na estimativa atual das capacidades do balão robótico, eles descobriram que o equipamento seria capaz de transportar cerca de 100 kg de carga, o suficiente para embalar painéis solares, bem como tecnologia de comunicação necessária para transmitir dados de volta à Terra. 

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Caleb Turner, engenheiro de projetos aeroespaciais da empresa, diz que a tecnologia teve um desempenho ainda melhor do que o esperado. “Esses testes de voo expuseram o aerobot às suas condições mais extremas até agora, embora nada comparado à atmosfera dura de Vênus, e demonstrou uma resiliência que estava além das expectativas”.

Turner revelou que o aerobot foi capaz de suportar sem problemas a inflação do balão, o lançamento, o voo para vários níveis de altitude e o pouso. E eles puderam fazer um segundo teste apenas um dia depois. “A facilidade de repetição é um feito notável que dá a todos os envolvidos um impulso de confiança de que este trabalho está se posicionando para estar pronto para uma missão de Vênus”, disse o engenheiro.

Embora possa levar anos até que a NASA envie essa missão de balão robótico para as estrelas, a agência já prometeu visitar Vênus com as próximas missões VERITAS e DAVINCI, ambas previstas para 2028. 

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