Os dados sobre matéria escura de um telescópio estratosférico da NASA foram recuperados após ele ter perdido a comunicação com a Terra no início do ano e sofrer danos durante seu pouso na Argentina em junho. O resgate dos cerca de 200 gigabytes de imagens de aglomerados de galáxias foi uma missão em si, e envolveu até mesmo a ajuda da polícia local.

Os dados coletados haviam sido copiados para unidades de SD acopladas a pára-quedas para aterrissarem no chão com segurança. O estudo sobre a missão, publicado na revista Aerospace, mostra que a recuperação das imagens científicas, mesmo no pior cenário, pode ser realizada.

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  • O telescópio conhecido como Super Pressure Balloon Imaging Telescope (SuperBIT) foi lançado em abril deste ano a bordo de um balão do tamanho de um estádio de futebol;
  • Ele foi lançado a partir do aeroporto de Wānaka, na Nova Zelândia e ficou flutuando a cerca de 30 mil metros de altura, tendo circulado a Terra cinco vezes;
  • A previsão era que o telescópio ficasse em operação por cerca de 100 dias, no entanto, devido a ventos conflitantes, a missão foi encerrada depois de 40 dias;
  • Após encerrada, a missão retornou ao local de pouso alvo, uma colina remota no interior da Argentina.

O problema é que as coisas não funcionaram como planejado no pouso do telescópio. Após a aterrissagem, os pára-quedas não se desprenderam da carga útil devido a falhas no equipamento. Ventos fortes acabaram arrastando o SuperBIT por quilômetros, o que acabou danificando os equipamentos.

Nosso telescópio chegou ao ponto em que foi completamente destruído e perdemos comunicações de alta largura de banda.

Ellen Sirks, principal autora do estudo, em comunicado

Coletando dados

SuperBIT sendo lançado com um balão de hélio a partir da Nova Zelândia (Crédito: NASA/Bill Rodman)

Geralmente os dados coletados por telescópios em balões são transferidos para satélites e depois enviados para a Terra. No entanto, esse sistema exige comunicações em linha de visão, além do processo precisa ser rápido, o que nem sempre é possível. 

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No caso do SuperBIT, eram muitos dados coletados em única noite e transferi-los por meio de satélites seria extremamente lento e caro. Assim, a melhor maneira de fazer isso, foi copiar as informações para um SD e soltá-los na Terra, presos a um pára-quedas.

Para que desse certo, Sirks, junto de pesquisadores da Austrália, Reino Unido, Estados Unidos, Europa, Canadá e Tawian se juntaram para criar “pacotes de recuperação”. Esses pacotes consistem em microcomputadores com cartões SD armazenando dados, um link de satélite caseiro para comunicação com o telescópio e pára-quedas, tudo isso envolto em sacos à prova d’água, como os utilizados para assar frangos.

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Os pacotes da missão já vêm sendo desenvolvidos a cerca de 5 anos e essa foi a primeira vez que a versão final foi testada. Sua utilização não só foi um sucesso, como se tornou essencial para a recuperação dos dados coletados pelo telescópio, a ponto da NASA querer utilizá-los em outras missões científicas.

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Investigando matéria escura em aglomerados de galáxias

O telescópio custou cerca de 10 milhões de dólares para ser produzido e foi enviado para a estratosfera para que mapeasse a matéria escura em torno de aglomerados de galáxias, medindo como esses objetos celestes distorcem o espaço e o tempo ao seu redor. 

Ele fez capturas em luz visível até quase o ultravioleta. Algumas das regiões observadas são formação estelar da Nebulosa da Tarântula, a 161 mil anos-luz da Terra, as duas galáxias Antenas em colisão, a 60 milhões de anos-luz, e a galáxia espiral Catavento.