Ao longo da história da humanidade, a Lua tem desempenhado papéis diversos, como calendário natural ou símbolo ritualístico, por exemplo. Seus ciclos mensais são meticulosamente observados e celebrados por culturas em todo o mundo desde tempos imemoráveis. 

Essas sequências recorrentes incluem as “grandes paralisações lunares” (também chamadas de lunistícios), quando a Lua chega em seu ponto mais ao norte ou mais ao sul durante o curso de um mês (especificamente, um mês lunar de 27,2 dias). 

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A Lua, satélite natural da Terra, tem representado papéis cruciais ao longo da história da humanidade. Crédito: JLStock/Shutterstock

Sobre os lunistícios:

  • A declinação (coordenada celestial análoga à latitude geográfica) no lunistício varia periodicamente em um ciclo de 18,6 anos, entre o mínimo de 18,134º (norte ou sul) e o máximo de 28,725º (norte ou sul), devido à precessão lunar;
  • Esses extremos são chamados de lunistícios maiores ou menores;
  • O último lunistício menor ocorreu em outubro de 2015, com o próximo sendo previsto para maio de 2034;
  • Já o último lunistício maior aconteceu em junho de 2006, com o próximo previsto para janeiro de 2025.

Humanidade deixa lixo na Lua

Desde 1972, quando os EUA conduziram a Apollo 17, última missão tripulada à Lua, apenas quatro países – União Soviética, China, Índia e Japão – conseguiram realizar pousos bem-sucedidos no satélite natural. 

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Nessas ocasiões, junto com equipamentos e pedaços de hardware espacial acidentados, os humanos deixaram ferramentas, experimentos científicos e até sacos de seus excrementos descartados em nosso mundo vizinho. Com isso, fica o questionamento: com a corrida espacial lunar ganhando força e cada vez mais pousos sendo feitos na Lua, como ela estará no início da década de 1940, após o próximo lunistício?

Em um artigo publicado no Space.com, Aparna Venkatesan, astrônoma e defensora do céu escuro no Departamento de Física e Astronomia da Universidade de São Francisco, e John Barentine, astrônomo, historiador, autor e comunicador científico, discorrem sobre o assunto.

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Buzz Aldrin, durante a atividade extraveicular da missão Apollo 11 na Lua, responsável pelo primeiro pouso humano na Lua. Desde aquela missão pioneira, a humanidade deixou muitos resíduos por lá, iniciando um possível “Antropoceno lunar”. Crédito: NASA

No texto, eles recordam que, na década de 1960, uma disputa espacial fervorosa envolveu EUA e União Soviética na busca pelo feito histórico de pousar um humano na Lua. O sucesso da Apollo 11 em 1969 foi tanto um “grande salto para a humanidade” quanto uma demonstração da superioridade do know-how tecnológico dos EUA e de seu sistema político-econômico.

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Agora, uma nova corrida lunar está se configurando, impulsionada por interesses comerciais, militares e uma urgência que ecoa o medo de uma guerra além da fronteira final da Terra.

Recentemente, testes antissatélites russos geraram temores renovados de ameaças nucleares no espaço, destacando a necessidade de uma abordagem colaborativa e moderna para garantir a segurança da órbita da Terra.

“Antropoceno lunar”

Desde 1959, a atividade humana provocou mudanças significativas na Lua, levando historiadores a argumentarem que nosso satélite natural entrou em uma nova fase geológica, batizada de “Antropoceno Lunar”. Segundo os autores, essa era reflete a modificação humana da Lua, superando a taxa de evolução devido a influências naturais.

Paralelamente, o ambiente espacial perto da Terra tem passado por transformações alarmantes. O número de objetos orbitando nosso planeta dobrou desde 2015, e a quantidade de detritos espaciais continua a crescer. Colisões entre esses detritos geram cascata de riscos, ameaçando não apenas o voo espacial humano, mas também a astronomia terrestre e outros fins científicos, econômicos e culturais.

A Lua, outrora um objeto celestial tranquilo, enfrenta desafios semelhantes. A crescente presença humana na órbita lunar resulta em aglomeração orbital, degradação ambiental e aumento da poluição luminosa e por radiofrequência. Venkatesan e Barentine destacam que esses desenvolvimentos comprometem a capacidade de realizar pesquisas científicas únicas na Lua, incluindo medições radioastronômicas sensíveis do lado oculto.

Lua: lugar sagrado na cosmologia

Além dos desafios científicos, questões éticas emergem com força. Iniciativas como a missão Astrobotic Peregrine, que tentou levar restos humanos para a Lua em janeiro deste ano, enfrentaram a condenação de comunidades indígenas e protestos internacionais por violação a crenças e uma profanação de “um lugar sagrado na cosmologia”, segundo alguns povos.

Diante desse cenário desafiador, a questão crucial é: como protegeremos a capacidade das futuras gerações de praticar tradições científicas e culturais na Lua, perto dela ou em relação a ela de maneira responsável e sustentável? 

À medida que mais iniciativas de exploração lunar se aproximam, é imperativo desenvolver uma ética lunar na Terra, garantindo que avanços científicos e a preservação do patrimônio cultural caminhem lado a lado.

Embora a corrida espacial lunar apresente oportunidades, também impõe desafios éticos e práticos que exigem coragem e visão para garantir que a exploração espacial beneficie toda a humanidade. 

A preservação do patrimônio lunar, a proteção contra ameaças espaciais e o respeito às crenças culturais devem ser prioridades enquanto buscamos compreender e explorar nosso companheiro cósmico.