Foram precisos 14 anos de negociações e trâmites burocráticos, mas, por fim, o Brasil passou a integrar o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN, na sigla em francês), localizado em Genebra (Suíça).

É lá que se encontra o Grande Colisor de Hádrons (maior acelerador de partículas do mundo que confirmou a existência do Bóson de Higgs) e onde surgiu a World Wide Web (WWW), que deu o pontapé à internet que possuímos hoje. O CERN é considerado o maior centro de pesquisas físicas do mundo.

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Segundo o UOL, o anúncio foi promovido pela entidade nesta sexta-feira (22). O CERN destacou, ainda, que a adesão do Brasil transforma o País na primeira nação latino-americana a fazer parte da instituição como membro-associado.

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Contudo, para formalizar a associação, o Brasil precisará pagar em torno de US$ 12 milhões (R$ 59,96 milhões, na conversão direta) anualmente.

Como Estado-Membro Associado, o Brasil tem o direito de indicar representantes para participar das reuniões do Conselho do CERN e do Comitê Financeiro. Seus cidadãos podem se candidatar a cargos de duração limitada e aos programas de pós-graduação do CERN, e sua indústria tem o direito de concorrer a contratos do CERN, aumentando as oportunidades de colaboração industrial em tecnologias avançadas.

CERN, em comunicado

Brasil adere ao CERN: o que muda?

  • O governo brasileiro estima que o acordo abrirá portas para intercâmbio maior de pesquisadores e envolvimento e organizações brasileiras em projetos do exterior;
  • Espera-se, ainda, que o acordo valha para o setor produtivo, pois as empresas poderão fornecer equipamentos para as expansões do Centro e manutenções previstas;
  • O investimento alocado deverá ser recuperado a partir da venda de produtos das empresas brasileiras no mercado global.

Histórico da negociação

A possível adesão do Brasil ao CERN ganhou força durante o governo de Dilma Rousseff (PT). À época, diplomatas brasileiros passaram a mediar assinatura de carta de intenções entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e a instituição suíça.

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Em 2010, o CERN deu sinal verde para uma possível associação. O então ministro da Ciência, Aloizio Mercadante, visitou Genebra (Suíça) e disse que iria acelerar o processo.

Já em 2012, uma equipe do CERN foi encaminhada ao Brasil para analisar a situação do País e confirmar (ou não) sua elegibilidade. Houve a aprovação.

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No ano seguinte, muitas falhas de comunicação com o governo brasileiro foram registradas, e o CERN deixou claro que estava insatisfeito com a situação. “Você sabe o que é um buraco negro? É incompreensível a demora do Brasil”, ironizou o então diretor do Cern e cientista Rolf Heuer, ao responder uma pergunta sobre a falta de resposta do Brasil.

Contudo, após esse impasse e desconforto, o País acelerou o processo e encaminhou as documentações que a instituição solicitava. Entre eles, um inventário sobre a ciência e a capacidade de pesquisa nacionais.

A seguir, a documentação foi considerada que “atendia aos critérios” pelo CERN, permitindo assim o ingresso do Brasil. O acordo foi costurado e enviado ao País para assinatura e confirmação, mas, segundo a instituição suíça, mais uma vez, o silêncio do lado brasileiro se manteve até pouco tempo atrás.

Por fim, o acordo final se deu em 2022. À época, o CERN estabeleceu que o País precisava ratificar sua adesão junto ao Congresso até março de 2023, mas a troca de comando presidencial adiou a decisão para este ano. A instituição estrangeira aceitou a situação.

Imagem: Shutterstock

Ainda no ano passado, a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, repetiu a atitude de Mercadante dez anos antes e visitou o Centro, ao lado de alguns deputados. Sua intenção era sensibilizá-los e permitir a aceleração da ratificação da adesão do Brasil na Câmara.

Em coletiva realizada após a visita, a ministra respondeu às críticas sobre financiar projetos fora do País, afirmando que a adesão ao CERN permitirá que a indústria nacional entre em mercado milionário e forneça tecnologia.

Santos indicou que o CERN oferece, atualmente, US$ 500 milhões (R$ 2,49 bilhões) em contratos, com o Brasil querendo parcela desse valor. 70% do que o País enviar na condição de investimento deve ser revertido em contratos do CERN com nossa indústria.

Como dito mais acima, o governo quer encaminhar US$ 12 milhões (R$ 59,96 milhões) de seu fundo nacional para pesquisas, avaliado em R$ 10 bilhões. Para a ministra, o valor proposto para investimento “não seria um custo exorbitante para as vantagens que o País adquire”. Ela também ressaltou que a adesão ao CERN “não compromete” o financiamento à ciência nacional, sendo que o valor seria “insignificante” ante o custo-benefício do processo. “Ele gera renda, empregos e adquirimos conhecimentos”, defendeu.

A política também defendeu que outra vantagem do acordo seria a transformação tecnológica brasileira no setor de nióbio. Ela entende que o Brasil não pode seguir apenas fornecendo matéria-prima, mas, sim, adquirir tecnologia suficiente para a construção de ligas para supercondutores, cuja matéria-prima essencial é o nióbio.