Quando falamos da radiação solar normalmente nos referimos aos raios ultravioletas, que nos afetam diretamente na Terra e são combatidos com protetor solar. Entretanto, o Sol também dispara fortes rajadas de raios gama, que são absorvidas pela atmosfera e, por isso, nem sempre lembradas. Um novo estudo, entretanto, mostra que rastrear essa energia pode ser bem importante.

Os dados são de uma pesquisa da Universidade de Lisboa, que utilizou a medição de raios gama do Sol para prever o comportamento solar. Essa previsão é útil para, por exemplo, detectar com mais antecedência explosões solares, que podem ter consequências nos satélites e comunicações aqui na Terra.

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Atividade solar é algo incerto aqui na Terra

Medir o comportamento do Sol não é algo muito preciso. Sabemos que cada ciclo solar dura onze anos e neste momento, o máximo do atual ciclo está perto, podendo acontecer entre este ano e o próximo. A margem é grande e não permite prever eventos solares com grande antecedência.

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Mas o estudo descobriu algo curioso: algumas partes do Sol emitem mais raios gama do que outras. Isso vai contra modelos anteriores que indicam que o astro emite a radiação de forma uniforme.

Sondas Solar Orbiter e Parker, da ESA e da NASA, estudam juntas o vento solar esta semana. Créditos: Solar Orbiter: ESA/ATG medialab; Parker Solar Probe: NASA/Johns Hopkins APL

Aliás, a pesquisa descobriu que os pólos do Sol emitem a maior radiação durante os momentos em que os campos magnéticos norte e sul do Sol mudam, ou seja, quando acontece uma mudança no ciclo.

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“Trata-se de ter melhores ferramentas para prever a atividade solar”, explica Bruno Arsioli, coautor e investigador da Universidade de Lisboa e da Universidade de Trieste ao The Washington Post. “Talvez pudéssemos usar esta nova informação de energias muito elevadas para ajudar os nossos modelos a prever o comportamento do Sol”, completa ainda.

Esses raios gama são lançados por supernovas e estrelas de nêutrons, atingem o Sol e são disparados para fora. Essa troca, entretanto, acontece entre 100 a 1.000 quilômetros abaixo da superfície solar, o que pode ajudar os cientistas a entenderem o que acontece na parte mais profunda da estrela, auxiliando a previsão de eventos solares.

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Filamento magnético explodiu no Sol. Crédito: AIA/SDO/NASA

Como essas medições podem ajudar?

“Este estudo ajuda a ampliar o nosso conhecimento sobre onde exatamente na superfície do Sol se originam os raios gama”, disse o físico de partículas Mehr Un Nisa, que não esteve envolvido no estudo, ao jornal americano.

O cientista explica que, se as medições estiverem corretas, ferramentas futuras poderiam medir o clima espacial e atividade solar com a mesma eficiência que fazemos previsões do tempo aqui na Terra através das condições da atmosfera.

“Os mesmos campos magnéticos responsáveis ​​pela modulação das partículas de alta energia que produzem estes raios gama são também responsáveis ​​pelos altos e baixos do clima espacial”, completa Nisa. “Independentemente de a vida ser perturbada pelo clima espacial, acertar a física da nossa estrela mais próxima apenas aumentará o nosso conhecimento sobre o nosso lugar no universo”, finaliza.