Nosso vizinho Vênus pode estar escondendo uma atividade vulcânica intensa logo abaixo de sua superfície espessa e nublada. Recentes análises de dados da missão Magellan, da NASA, coletados no início dos anos 1990, sugerem que o vulcanismo em Vênus não só está ativo, como é mais frequente do que se pensava.

Nos anos 90, a sonda Magellan orbitou Vênus e mapeou sua superfície com radar de abertura sintética, penetrando a densa camada de nuvens. Durante um período de oito meses em 1991, os dados da missão revelaram mudanças significativas na superfície de duas regiões vulcânicas, Sif Mons e Niobe Planitia.

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O sinal de retroespalhamento de radar, que indica como as ondas de radar refletem na superfície, mudou de forma notável, sugerindo novos fluxos de lava. Uma equipe liderada pelo geólogo Davide Sulcanese, da Università d’Annunzio, na Itália, investigou essas mudanças e concluiu que elas são evidências de atividade vulcânica em andamento. 

Descartando outras explicações, como efeitos atmosféricos ou artefatos de imagem, os cientistas determinaram que a causa mais provável dessas alterações era a remodelação da superfície devido ao fluxo de lava.

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Vênus: um planeta vulcanicamente ativo

Essas descobertas reforçam a ideia de que Vênus é geologicamente ativo. Comparando a produção vulcânica de lá com a da Terra nos últimos 180 milhões de anos, os cientistas descobriram que Sif Mons tem uma vazão de 25,2 e o Niobe Planitia de 37,8 quilômetros cúbicos por ano. Em contraste, a Terra tem uma taxa média de fluxo de 26 a 34 quilômetros cúbicos por ano.

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À esquerda, mudanças na retrodifusão do radar no flanco oeste de Sif Mons. À direita, mudanças de retrodifusão atribuídas à alteração vulcânica na Planitia de Niobe. Crédito: Sulcanese et al., Nat. Astron., 2024

A descoberta de atividade vulcânica contínua em Vênus tem implicações significativas. Qualquer futura missão ao planeta precisa considerar como o vulcanismo pode influenciar a superfície e a atmosfera venusianas. Isso inclui a detecção de gases como a fosfina, que foi interpretada como uma possível bioassinatura em 2020.

Explorar Vênus é uma tarefa desafiadora. Suas condições extremas de temperatura e pressão, além da espessa atmosfera de dióxido de carbono que chove ácido sulfúrico, tornam difícil a exploração direta. Poucas sondas foram enviadas ao planeta, o que significa que os dados são limitados. No entanto, a missão Magellan, com suas capacidades de radar, nos forneceu perspectivas valiosas que ainda são úteis 30 anos depois.

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Novas missões no horizonte

Apesar dos desafios, há novas missões em desenvolvimento para explorar Vênus. Essas futuras missões poderão fornecer mais dados e ajudar a confirmar as descobertas da missão Magellan. Com tecnologias avançadas, os cientistas esperam entender melhor a atividade vulcânica em Vênus e sua influência na evolução do planeta.

A pesquisa liderada por Sulcanese, publicada nesta segunda-feira (27) na Nature Astronomy, é um passo importante nessa jornada, mostrando que mesmo planetas vizinhos aparentemente familiares podem guardar segredos impressionantes sob suas superfícies.