Cientistas usaram dados da missão DART (sigla em inglês para “Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo”), da NASA, para criar uma imagem detalhada das rochas espaciais Didymos e Dimorphos, com o objetivo de entender melhor a formação e evolução desses asteroides binários. 

A espaçonave DART foi projetada para colidir com Dimorphos, o menor dos dois corpos do sistema, que orbita Didymos, o maior. O impacto foi realizado para observar o efeito em ambos os asteroides, com o intuito de coletar dados cruciais para planejar futuras missões de defesa planetária, que possam desviar rochas em rota de colisão com a Terra.

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Conforme noticiado pelo Olhar Digital, o impacto se deu no dia 26 de setembro de 2022. Dias antes da colisão, a espaçonave conseguiu tirar fotos detalhadas dos dois asteroides. Além disso, ejetou o pequeno satélite italiano LICIACube, para registrar o impacto. Dados desses dois bancos permitiram aos cientistas analisar as características geológicas e físicas de Didymos e Dimorphos. 

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Três estudos analisaram os asteroides Didymos e Dimorphos

Liderada por Olivier Barnouin, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, uma equipe de pesquisadores estudou a superfície de Didymos e descobriu que, em altitudes elevadas, ele é áspero e repleto de grandes pedras e crateras. Em altitudes mais baixas, a superfície torna-se mais lisa, com menos rochas grandes e crateras.

Dimorphos, por sua vez, apresenta uma superfície variada, com rochas de diferentes tamanhos, poucas crateras, mas muitas rachaduras ou “falhas”. Essas observações sugerem que a pequena “lua” se formou a partir de material ejetado de Didymos, que se reuniu sob a influência da gravidade. 

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Uma imagem de Didymos e Dimorphos composta por dados coletados pelas missões DART (NASA), Hayabusa (JAXA), Hayabusa-2 (JAXA) e OSIRIS-REX (NASA). Crédito: A. Duchene e C. Robin (ISAE-SUPAERO)

Os cientistas usaram o número de crateras em ambos os asteroides para estimar suas idades, determinando que Didymos tem cerca de 12,5 milhões de anos, enquanto Dimorphos é muito mais jovem, com aproximadamente 300 mil anos. Esses resultados foram publicados nesta terça-feira (30), na revista Nature.

O mesmo periódico científico, também nesta data, traz outro estudo sobre o sistema. Liderado por Maurizio Pajola, do Observatório Astronômico de Pádua, que pertence ao Instituto Nacional de Astrofísica da Itália (INAF), analisou o tamanho e a distribuição das rochas em Dimorphos e concluíram que elas se formaram em diferentes momentos, reforçando a ideia de que Dimorphos herdou material de Didymos. Esse processo também explica uma crista distinta no equador de Didymos. 

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Fraturas mais ousadas na superfície de Dimorphos capturadas pela espaçonave DART pouco antes do impacto. Crédito: A. Lucchetti et al., Nature

Uma terceira equipe, liderada por Naomi Murdoch, da Université de Toulouse, na França, estudou os rastros de pedregulhos na superfície de Didymos e descobriu que o material é muito disperso, suportando menos peso que a areia seca na Terra ou o solo lunar. Seus resultados constam na mesma edição da revista Nature.

Segundo esse estudo, as rochas em Dimorphos estão se fraturando por um processo chamado “fadiga térmica”. Esse fenômeno ocorre devido às mudanças de temperatura que causam microfraturas nas rochas ao longo de aproximadamente 100 mil  anos, um período relativamente curto em termos geológicos. 

Colas Robin, da Université de Toulouse, que participou dessa investigação, comparou 34 pedregulhos em Dimorphos com rochas de outros asteroides como Itokawa, Ryugu e Bennu. As semelhanças sugerem um mecanismo comum de formação e evolução para esses corpos celestes.

Uma comparação das pedras das superfícies de Dimorphos, Itokawa, Ryugu e Bennu. Crédito: A. Duchene e C. Robin (ISAE-SUPAERO)

As descobertas das três equipes oferecem uma visão detalhada do sistema Didymos antes do impacto da DART. Essas informações serão valiosas para a próxima missão Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA), que será lançada em outubro e chegará ao sistema em setembro de 2026. Essa espaçonave vai capturar dados de alta resolução que permitirão um exame mais abrangente dos asteroides após o impacto da DART, ajudando os cientistas a entender melhor as consequências dessa colisão.