Todo medicamento tem uma lista de possíveis efeitos colaterais. E eles estão lá, descritos em detalhes na bula. Então, é de se esperar que uma vacina vá causar reações em um grupo de pessoas. James Gallagher, repórter de ciência e saúde da BBC, é um dos indivíduos que teve efeitos adversos depois de receber a Covishield, a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Ele conta que estava empolgado para tomar o imunizante, mas que não imaginava que ficaria como ficou. Mesmo assim, reforça que faria tudo de novo. “Vale lembrar que ninguém morreu ou ficou em estado grave por causa de vacinas contra a covid-19”, diz.

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Os efeitos da fórmula em Gallagher começaram no mesmo dia da aplicação da primeira dose de Covishield. À noite, ele começou a se sentir mal e assim ficou nos três dias seguintes. Ele teve enxaqueca, vômitos, dores, calafrios e cansaço.

Vacina contra a Covid-19 pode causar mal-estar
Vacina contra a Covid-19 pode provocar mal-estar nos pacientes. Foto: martin-dm/iStock

Por que há reações?

Tudo isso não ocorre à toa: há explicações. Para começar, é importante lembrar que as vacinas contra a Covid-19 inserem o novo coronavírus ou parte dele no organismo humano para que o sistema imunológico desenvolva anticorpos contra o microrganismo.

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É comum que a primeira reação apareça no braço em que o imunizante foi aplicado (a mais comum é dor local). Depois, ela pode (ou não) progredir e afetar o resto do corpo. Nesse caso, provoca sintomas semelhantes aos da gripe, como febre, calafrios e náuseas.

Segundo Eleanor Riley, professora de imunologia e doenças infecciosas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, isso ocorre em razão da resposta inflamatória. “Ela envia células imunológicas para o tecido ao redor da aplicação no braço para descobrir o que está acontecendo.”

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Essa mesma ação do organismo pode fazer o paciente se sentir mal temporariamente. “Os efeitos colaterais costumam ocorrer nos primeiros minutos da aplicação até, no máximo, seis semanas”, avisa Gregory Poland, professor da Clínica Mayo e referência no estudo de vacinas.

Mesmo assim, não são todos os vacinados que apresentam efeitos colaterais. E por quê? O professor Andrew Pollard, pesquisador que liderou os testes da Covishield, conta que um elemento muito importante é a idade. “Quanto mais velho, menos efeitos colaterais. As pessoas com mais de 70 anos quase não têm essas reações.”

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Ilustração de coronavírus e vacina contra a Covid-19
Reações ao imunizante são variadas entre diferentes indivíduos. Foto: drasa/Shutterstock

Além disso, os sistemas imunológicos de cada indivíduo são muito diferentes. Isso significa que alguns têm reações mais agressivas. “Quem apresenta sintomas semelhantes aos da gripe é porque reage de forma exagerada”, avalia Eleanor, da Universidade de Edimburgo.

E tem mais: quem já foi infectado pelo novo coronavírus pode ter uma resposta imunológica mais forte após a vacinação. Mesmo assim, em nenhum dos casos, o paciente vai ter algo grave como a doença em si.

Resposta imunológica forte?

Todos que recebem a vacina contra a Covid-19 têm aproximadamente a mesma proteção. Ou seja, ter efeitos colaterais fracos ou fortes não traz vantagens após a imunização. “Isso é fascinante porque os idosos, embora tenham poucos efeitos colaterais, têm exatamente a mesma resposta imunológica”, conta disse Pollard, da Universidade de Oxford.

Isso porque o sistema imunológico é composto por duas respostas distintas, mas que trabalham juntas. A primeira é a resposta inata (natural do organismo) e a segunda é a resposta adaptativa que aprende a combater infecções – ela envia células B (para produzir anticorpos) e células T, que podem atacar células infectadas.

Segundo Eleanor, a fase inata da resposta imunológica varia com a idade e entre as pessoas. “Ela determina a dimensão dos efeitos colaterais.” A professora conta que basta um pouco dessa resposta inata para despertar a resposta adaptativa e as células B e T que vão proteger o organismo.

Para quem teve de lidar com os efeitos colaterais da Covishield após a primeira dose, é natural querer saber se isso vai acontecer novamente depois da segunda aplicação. E a boa notícia é que, não, não devem ocorrer as mesmas reações. “O impacto da segunda dose é bem brando em comparação ao da primeira”, diz Pollard.

Ele destaca, entretanto, que dados apontam que a segunda dose da vacina da Pfizer pode levar a efeitos colaterais mais fortes. Mesmo assim,  sem gravidade. Segundo a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA), os levantamentos indicam que os efeitos colaterais mais comuns do imunizante da Pfizer foram dor no braço (84%), cansaço (63%), dor de cabeça (55%), dor muscular (38%), calafrio (32%) e febre (14%).

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Seguro é diferente de inofensivo

Toda a discussão acerca dos efeitos colaterais se tornou ainda mais presente depois que indivíduos vacinados com Covishield na Europa desenvolveram coágulos sanguíneos. A quantidade de atingidos, no entanto, ainda é muito pequena e novos estudos precisam ser conduzidos. Até o momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sugerem que a vacinação com a fórmula da AstraZeneca prossiga normalmente.

Quando se fazem testes de medicamentos em humanos, a intenção é justamente descobrir que tipo de reação os pacientes podem ter. Assim, é possível informá-los para que eles estejam preparados para aqueles efeitos quando receberem a medicação.

É por isso que, na medicina, é preciso esclarecer que seguro não é necessariamente inofensivo e que risco é diferente de arriscado. “Todo medicamento eficaz tem efeitos indesejados. Quando falamos que é seguro, falamos do peso dos efeitos indesejados em comparação com o benefício”, explica Stephen Evans, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Fonte: BBC

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