SpaceX ignorou alerta da FAA pouco antes de explosão da Starship, em dezembro de 2020

Tentativa de lançamento da espaçonave da empresa de Elon Musk teve sucesso, mas acabou em explosão de consideráveis proporções
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 16/06/2021 16h06, atualizada em 17/06/2021 12h09
Lançamento da Starship SN8
Lançamento da Starship SN8
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Em dezembro de 2020, um teste de um protótipo da espaçonave Starship resultou em uma imensa explosão após o veículo pousar com muita força em seu retorno ao solo. Segundo um novo relatório divulgado pela imprensa norte-americana, a SpaceX, de Elon Musk, ignorou alertas enviados pela Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) que, em tese, deveriam ter parado o processo de lançamento.

Segundo o documento (via The Verge), a SpaceX estava em violação de sua licença de lançamento, com a FAA dizendo que a empresa era “inconsistente com uma forte cultura de segurança”.

“Apesar do relatório afirmar que todos os representantes da SpaceX acreditavam que o risco era suficientemente baixo para obedecer aos critérios regulatórios, a empresa usou métodos analíticos que pareciam ter sido desenvolvidos às pressas para obedecer ao prazo de lançamento”, afirma a FAA.

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O relatório é assinado por Wayne Monteith, chefe da Divisão Espacial da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos, que afirma ter repassado tais preocupações à presidente da SpaceX, Gwynne Shotwell, pelo menos duas vezes, minutos antes do lançamento da Starship SN8.

Vale lembrar que os testes dos protótipos SN9 e SN11 também acabaram em explosão: o primeiro foi destruído após um erro no pouso, enquanto o segundo explodiu no ar.

Apesar da violação, a SpaceX não recebeu nenhum tipo de sanção por parte da FAA, e voltou à execução de testes do programa Starship dois meses depois, em fevereiro de 2021.

A SpaceX goza de uma posição privilegiada no mercado privado de exploração espacial: como a líder de fato do setor, ela conseguiu assegurar contratos muito desejados por suas concorrentes.

Atualmente, a empresa de Elon Musk fornece para a Nasa o único meio norte-americano de transporte de astronautas à Estação Espacial Internacional (ISS), além de ter recentemente fechado um contrato de quase US$ 3 bilhões (R$ 15,23 bilhões) para a construção de um módulo lunar para a agência – este contrato, porém, está sendo contestado na justiça federal estadunidense.

Apesar da ausência de punição, porém, o relatório obtido pela imprensa mostra que a SpaceX preferiu velocidade à segurança, ignorando os avisos e chegando a afirmar que os softwares de supervisão e fiscalização das autoridades americanaseram “uma fonte de frustração” que se mostrava “comumente impreciso ou excessivamente conservador na maioria das vezes”.

Em janeiro, um mês depois da explosão, a SpaceX e Elon Musk ainda recusavam-se a comentar sobre o caso, mas a FAA confirmou a presença de violações à imprensa. Agora, com o novo documento, a situação fica mais intensa: a SpaceX – e Musk, que estava no local durante o lançamento – sabiam de antemão dos problemas citados, e escolheram continuar, apesar das ressalvas.

A SpaceX não comentou as novas informações divulgadas.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital