Um grupo internacional de paleontólogos das universidades de Alcalá, na Espanha, Bristol, na Inglaterra e Helsinque, na Finlândia, desafiou o entendimento de que os primeiros caçadores humanos foram os responsáveis pelo declínio e extinção de elefantes pré-históricos, mastodontes e mamutes. Segundo eles, foram as mudanças climáticas que mataram os últimos desses paquidermes.

Os pesquisadores examinaram a forma como 185 diferentes espécies de elefantes, mamutes e mastodontes se adaptaram a diferentes mudanças climáticas, abrangendo 60 milhões de anos de evolução, iniciada no norte da África. Para investigar toda essa história evolutiva, a equipe pesquisou diversas coleções de fósseis de museus de diferentes partes do mundo.

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Entre as características investigadas estão o tamanho do corpo, formato do crânio e a superfície de mastigação dos dentes. Com base nisso, a equipe descobriu que toda a ordem dos proboscídeos se enquadra em oito conjuntos de estratégias adaptativas. Com isso, durante 30 milhões de anos, apenas dois desses oito grupos evoluíram.

Elefantes gordos

Ilustração mostra fauna da África ocidental há 4 milhões de anos
Ilustração mostra a diversidade da fauna da África ocidental há cerca de 4 milhões de anos. Crédito: Julius Csotonyi/Phys

Um dos autores do estudo, Zhang Hanwen, da Universidade de Bristol, explicou ao Phys que a maior parte dos proboscídeos dessa época eram herbívoros indefinidos. Seus tamanhos variavam entre algo próximo a um cachorrinho pug até um javali, com algumas espécies crescendo um pouco mais, chegando ao tamanho de um hipopótamo moderno, todos eles não muito semelhantes aos elefantes.

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Essas linhagens, porém, entraram em algo que Hanwen chamou de “becos sem saída evolutivos”, o que fez a evolução dos proboscídeos mudar bastante há cerca de 20 milhões de anos. O ponto de virada foi a colisão entre as placas afro-árabe e euro-asiática, o que forneceu  um corredor migratório crucial para a diversificação dessa ordem de animais, até chegar nos mamutes.

Com as duas placas juntas, os proboscídeos começaram a migrar para a Eurásia. Essa saída da África auxiliou na evolução das espécies desses paquidermes, que, de acordo com os pesquisadores, ficou 25 vezes mais rápida, o que deu origem a uma gama bastante vasta de proboscídeos, permitindo a partição de nicho entre vários deles nos mesmos habitats.

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Elefantes magros

Há cerca de 3 milhões de anos, os elefantes e os stegodons da África e do leste da Ásia foram os proboscídeos que mais prosperaram. No entanto, as mudanças climáticas que culminaram na Idade do Gelo atingiram esses gigantes fortemente, fazendo com que os indivíduos que sobreviveram fossem forçados a se adaptar a novos habitats, bem mais austeros.

Ilustração mostra fauna da Europa há 2 milhões de anos
Ilustração mostra a diversidade da fauna europeia há cerca de 2 milhões de anos. Crédito: Tamura Shuhei/Phys

O exemplo mais extremo desse processo foi o ocorrido com os mamutes-lanosos, a espécie do Manny, da série de animação “A Era do Gelo”, que desenvolveu um pêlo bastante espesso e grandes presas, que permitiram que eles conseguissem sobreviver em uma vegetação coberta por grossas camadas de neve.

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As análises da equipe identificaram que os picos finais de extinção dos proboscídeos ocorreram há cerca de 2,4 milhões de anos na África, 160.000 anos da Eurásia e 75.000 nas Américas. Os especialistas ponderam, porém, que essas datas não marcam o momento exato das extinções, mas indicam o ponto em que eles ficaram mais ameaçados em cada um dos continentes.

Papel dos humanos

Porém, ao contrário do que se pensa, essas datas não têm correlação com a expansão das primeiras colônias humanas com capacidade de caçar animais dessa magnitude. Ao que parece, o padrão global da extinção dos proboscídeos poderia ser perfeitamente reproduzido com a retirada dos humanos dessa equação.

Segundo Hanwen, os dados da pesquisa refutam as alegações de que os humanos arcaicos foram os responsáveis pelo extermínio de mamutes, mastodontes e elefantes pré-históricos. Os pesquisadores deixam claro, porém, que isso não significa uma refutação conclusiva do envolvimento humano na extinção dessas espécies.

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Porém os pesquisadores garantem que quando os humanos se estabeleceram nas áreas que esses gigantes viviam, o risco de extinção dos proboscídeos já havia aumentado substancialmente. Com isso, e a presença de um predador social inteligente, como era o caso dos hominídeos ancestrais, formou-se uma tempestade perfeita para o fim dessas espécies na Terra.

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