Diferentemente do que se previa, a geleira Thwaites, um dos maiores e mais instáveis mantos de gelo do mundo, pode correr pouco risco de colapso repentino. Isso é o que diz um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Michigan (UM), nos EUA, publicado na revista científica Science.

A geleira Thwaites é conhecida como “Geleira do Apocalipse” ou “Geleira do Juízo Final”. Imagem: Robert Larter / Atmos

Por meio de uma simulação, os cientistas analisaram um hipotético fim da geleira, que fica na Antártica Ocidental. A equipe modelou o colapso de várias alturas de penhascos de gelo – formações quase verticais que ocorrem onde geleiras e plataformas de gelo encontram o oceano. 

Eles concluíram que a instabilidade nem sempre leva à rápida desintegração. “O que descobrimos é que em escalas de tempo longas, o gelo se comporta como um fluido viscoso, como uma espécie de panqueca se espalhando em uma frigideira”, disse Jeremy Bassis, professor associado de ciências climáticas e espaciais e engenharia da UM.

“Portanto, o gelo se espalha e afina mais rápido do que pode falhar e isso pode estabilizar o colapso”, afirma Bassis. “Mas, se o gelo não pode afinar rápido o suficiente, é aí que você tem a possibilidade de um colapso rápido da geleira”.

publicidade

Os pesquisadores combinaram as variáveis ​​de falha e fluxo de gelo pela primeira vez, descobrindo que o alongamento e afinamento do gelo, bem como o reforço de pedaços de gelo presos, podem moderar os efeitos da instabilidade do penhasco de gelo marinho induzida por fratura.

Essas descobertas adicionam nuances a uma teoria anterior chamada instabilidade do penhasco de gelo marinho, que sugeria que se a altura de um penhasco de gelo atingir um certo limite, ele pode se desintegrar repentinamente sob seu próprio peso em uma reação em cadeia de fraturas de gelo. 

Geleira Thwaites está próxima do limite de desintegração

Sabe-se que a geleira Thwaites – às vezes chamada de “Geleira do Juízo Final” – está se aproximando desse limite e pode contribuir com quase um metro para o aumento do nível do mar no caso de um colapso total. 

Com cerca de 120 mil quilômetros quadrados, tem aproximadamente o tamanho da Coreia do Norte, ou do estado da Flórida, nos EUA,  e é particularmente suscetível às mudanças climáticas e oceânicas.

Leia mais:

Outra descoberta da equipe de pesquisa é que os icebergs que quebram e caem da geleira principal em um processo conhecido como “formação de icebergs” podem, na verdade, evitar, ao invés de contribuir para um colapso catastrófico. 

Isso porque, se os pedaços de gelo ficarem presos em afloramentos no fundo do oceano, eles podem exercer uma contrapressão na geleira, ajudando a estabilizá-la.

É importante conhecer a velocidade de derretimento das geleiras 

Está muito claro que Thwaites e outras geleiras estão derretendo, mas saber a velocidade com que isso ocorre é de grande importância para as áreas costeiras, à medida que desenvolvem estratégias de adaptação e resiliência.

Mas, prever o recuo das geleiras é extremamente complexo, pois elas são afetadas pela interação de uma infinidade de fatores – o estresse e a tensão de bilhões de toneladas de gelo em movimento, temperatura do ar e da água em mudança e os efeitos do fluxo de água líquida no gelo, para citar apenas alguns.

Como resultado, as previsões para o colapso da geleira Thwaites variam de algumas décadas a muitos séculos. De acordo com Bassis, “o novo estudo é um passo importante para a produção de previsões precisas e acionáveis”.

“Não há dúvida de que o nível do mar está subindo e que isso continuará nas próximas décadas”, disse o pesquisador. “Mas, acho que este estudo oferece esperança de que não estejamos nos aproximando de um colapso completo – de que existem medidas que podem mitigar e estabilizar as coisas. E ainda temos a oportunidade de mudar os fatos tomando decisões sobre coisas como emissões de energia – metano e CO2”.

Com informações do Phys.org.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!