Com a proximidade dos lançamentos de missões teste de turismo espacial, essa atividade, que antes poderia ser totalmente inimaginável, já começa a se tornar possível. Mas, será mesmo? Como a corrida comercial para o espaço suborbital esquentou nos últimos anos, surge a pergunta: onde, de fato, começa o espaço sideral?

Esse não é apenas um debate filosófico. Isso tem implicações financeiras no mundo real, tendo em vista que uma empresa de turismo espacial está vendendo assentos em missões que podem não atingir a fronteira final, dependendo de onde realmente esteja esse limite. 

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Disputa entre as empresas que prometem turismo espacial levantam o debate de onde é o limite entre Terra e espaço sideral. Imagem: Blue Planet Studio – Shutterstock

Essa empresa é a Virgin Galactic, que deve lançar o fundador do Virgin Group, Richard Branson, e outras pessoas em uma missão de teste histórica neste domingo (11) a bordo do avião espacial VSS Unity.

O Unity atingiu o espaço suborbital três vezes até agora, mais recentemente durante um voo de teste pilotado em 22 de maio. Ou não?

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Richard Branson, fundador da Virgin Galactic (terceiro a partir da direita), fará o lançamento no primeiro voo totalmente tripulado da empresa no próximo domingo (11), como membro de uma tripulação de seis pessoas. Imagem: Virgin Galactic

Dados oficiais divergem sobre limite inicial do espaço sideral

Considerando que os três voos espaciais da Unity atingiram altitudes máximas de 82,7 km, 89,9 km e 89,2 km, a espaçonave já chegou alto o suficiente para aqueles a bordo ganharem suas asas de astronauta pelos padrões da Nasa, da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) e das Forças Armadas do país, que determinam o início do espaço sideral a 80 km acima da superfície da Terra.

Mas, está abaixo de outro marco amplamente conhecido – a Linha de Kármán, um limite convencionado que fica a uma altitude de 100 km acima da superfície terrestre, definindo a fronteira entre a atmosfera da Terra e o espaço exterior aceita pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI). 

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Linha de Kármán, que fica a 100 km da superfície terrestre, foi determinada como limite inicial do espaço sideral. Imagem: Shanvood – Shutterstock

E o principal concorrente da Virgin Galactic no mercado de turismo suborbital, a Blue Origin de Jeff Bezos, chamou a atenção para esse fato, observando que seu próprio veículo New Shepard ultrapassa a Linha de Kármán.

Em declaração ao The New York Times, Bob Smith, CEO da Blue Origin, desejou sorte à decolagem de Branson, mas alfinetou o concorrente: “Desejamos a ele um ótimo e seguro voo, mas eles não estão voando acima da linha de Kármán, e é uma experiência muito diferente”.

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Existe algo por trás desse ‘veneno escorrendo dos lábios’. A Blue Origin está se preparando para sua própria missão de alto perfil neste mês – o primeiro vôo tripulado da New Shepard, que levará Bezos, seu irmão Mark, a aviadora pioneira Wally Funk e a pessoa que pagou US$ 28 milhões por um assento em leilão, não identificada pela empresa. 

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Essa missão New Shepard está programada para lançamento em 20 de julho, dia do 52º aniversário do pouso da Apollo 11 na lua. A Blue Origin anunciou essa data no início de maio, quase dois meses antes de a Virgin Galactic revelar seus planos de lançamento de Branson e equipe. 

Virgin Galactic e Richard Branson negam que estejam tentando ofuscar a Blue Origin, afirmando que o Unity voará no domingo simplesmente porque está pronto para isso, e não por uma disputa. Acredite quem quiser.

Branson destaca que Nasa e FAA reconhecem o limite ultrapassado pela Virgin Galactic 

Nesta quarta-feira (7), durante uma entrevista à National Public Radio (NPR), Branson comentou sobre a observação de Bob Smith em relação à Linha Kármán, apontando que a Nasa e a FAA reconhecem o limite de 80 km.

“Além disso, a diferença real na experiência será quase inexistente”, disse Branson, observando que os passageiros terão aproximadamente a mesma quantidade de tempo sem peso na Unity e na New Shepard. A Virgin Galactic prometeu cerca de quatro minutos de ausência de peso em seus voos.

A linha de 80 km também tem outros apoiadores, incluindo Jonathan McDowell, um astrofísico e rastreador de satélite baseado no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, que defendeu sua adoção em um artigo de 2018.

Como foi definida a Linha de Kármán

Em meados do século passado, o físico húngaro-americano Theodore von Kármán propôs que o espaço começa onde as forças da dinâmica orbital excedem as da aerodinâmica.

Estabelecer essa linha em 100 quilômetros veio mais ou menos por meio de “um argumento grosseiro da ordem de magnitude”, escreveu McDowell no estudo de 2018. (Afinal, 100 km é muito mais perto da marca do que 10 km ou 1 mil km.) 

Mas, segundo calculou McDowell, o limite real, pela definição original de von Kármán, fica entre 70 km e 90 km. Portanto, 80 km é uma boa aproximação desse marcador incerto, especialmente considerando que ele representa uma espécie de ponto sem retorno para os satélites. 

“As naves espaciais cujas órbitas elípticas os levam a menos de 80 km não sobrevivem a mais do que uma volta adicional ao redor do nosso planeta”, afirmou McDowell, “enquanto as naves que ficam apenas alguns quilômetros acima podem permanecer no ar por dias ou semanas”.

O estudo de McDowell é influente entre pesquisadores e leigos, e a Nasa, a FAA e os militares dos EUA já adotaram. 

Então, estaríamos a caminho de uma aceitação universal de 80 km como o ponto onde o espaço começa? Ou o debate continuará por anos, com os dois lados se tornando cada vez mais entrincheirados? De qualquer maneira, será um passeio interessante.

Com informações da Space.com

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