Um novo estudo conduzido por cientistas da Universidade da Anglia Oriental, na Inglaterra, indica que as nuvens da Terra podem piorar o problema do aquecimento global, impedindo que metas estabelecidas pelo Acordo de Paris sejam cumpridas por seus signatários.
De acordo com a pesquisa, uma nova análise de dados coletados de satélites – com 97,5% de precisão – analisou informações relacionadas à umidade, temperatura e condições de ventos das nuvens da Terra, indicando que, em um futuro próximo, o aumento na densidade delas fará com que elas reflitam menos radiação solar de volta ao espaço, ao mesmo tempo em que sua “cobertura” contribua para uma maior permanência de gases do efeito estufa dentro do nosso planeta.
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“O valor da sensibilidade climática não é exato, e isso se traduz para uma incerteza nas projeções futuras do aquecimento global e no restante do nosso ‘orçamento de carbono’, ou seja, o quanto ainda podemos emitir antes de chegarmos a metas de 1,5 °C ou 2 °C de aquecimento”, disse Paulo Ceppi, pesquisador do Instituto Grantham e coautor do estudo.
O Acordo de Paris estabeleceu aos seus países signatários a meta de reduzir entre 1,5 °C e 2 °C os níveis de emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, efetivamente baixando a temperatura da Terra para níveis anteriores ao da era industrial. O estudo, porém, argumenta que, no ritmo atual, isso pode não ser possível, e que as medidas tomadas por países apoiadores do acordo precisam ser engrandecidas/aceleradas para que o efeito seja satisfatório.
“Existe uma necessidade crítica de melhor quantificar como as nuvens vão afetar o aquecimento global no futuro. Nossos resultados podem significar que estamos mais confiantes nas projeções e que podemos ter um panorama mais aprofundado sobre a severidade das mudanças do clima”, disse Ceppi. “Isso deve nos ajudar a conhecer os nossos limites — e agir estando dentro deles”.
Céu em chamas
Não é a primeira vez que as nuvens da Terra entram para a lista de preocupações de quem combate o aquecimento global: no começo de julho, o Olhar Digital falou sobre as “pirocumulonimbus”, ou “nuvens cuspidoras de fogo”, e como a sua ação gera um ciclo de fortes queimadas em florestas e planícies nos EUA e adjacências.
Essas nuvens imensas e densas são originadas de queimadas em regiões florestais ou de planície. Basicamente, elas são mais fáceis de entender se você pensar nelas como “nascidas” do fogo, para trazer mais fogo. Inclusive, seu nome em latim — “cumulonimbus flammagenitus” — pode ser traduzido para “criado pela chama”.
Explicando em termos científicos: uma cumulonimbus comum traz consigo tempestades elétricas, sendo formada após o ar úmido e aquecido subir do chão para a atmosfera. Uma vez lá em cima, esse ar esfria e desce de volta à Terra, se reaquecendo e subindo novamente. Esse “sobe-e-desce” é o que gera nuvens que causam tempestades elétricas.
As pirocumulonimbus passam pelo mesmo processo: entretanto, o ar úmido e aquecido vem das chamas e fumaça de um incêndio, e não do chão — se você ver imagens de um incêndio florestal, por exemplo, e identificar nuvens grossas e densas, elas sempre serão pirocumulonimbus.
Embora elas também possam gerar tempestades elétricas como sua “irmã”, um efeito mais comum é uma “rajada” poderosa de ar seco que ela joga em direção ao solo. Quando esse ar seco toca o chão, em meio a um incêndio, o fogo e a fumaça aumentam e se espalham, gerando mais ar quente e umidade e novas nuvens do tipo, que jogarão novas rajadas ao solo — um círculo vicioso bem quente.
Com o aumento do aquecimento global, as queimadas naturais estão se tornando mais frequentes e fora de época, o que contribui para a geração de mais quantidade dessas nuvens, que por sua vez resultam em mais queimadas e assim por diante.
O novo levantamento foi publicado e aprovado no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences.
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