Kate Beckinsale sabe fazer bons filmes de luta e isso é fato. Os quatro episódio de ‘Anjos da Noite’, ‘Van Helsing’ e ‘Contrabando’ são alguns exemplos, então, faz sentido que o Amazon Studios e a Millennium Media tenham escolhido a inglesa como a protagonista de ‘Jolt‘. No entanto, quando produções do gênero incluem humor no meio, talvez seja difícil encontrar um produto em meio ao repertorio da atriz que a considere “a escolha certa” para o papel. Mas, venhamos e convenhamos: a nova adição ao catálogo do Prime Video é uma comédia de ação, então, por que não relaxar com os detalhes e deixar ser impressionado com 91 minutos de perseguições, “superpoderes”, cenas de tirar o fôlego e clichês?

Verdade seja dita: Beckinsale é incrível como Lindy, uma mulher com problemas de controle de raiva que só consegue controlar seus impulsos homicidas com um colete forrado de eletrodos – ou seja, tomando choques que lhe permitam recuperar a razão. Aos 47 anos (fator que parece inacreditável, pois não aparenta a idade), a atriz permite-se divertir atuando em cenas intensas regada a piadas sobre o quão badass ela é e que ditam o tom do longa o tempo inteiro, ao mesmo tempo que aplica sua experiência com o gênero de ação em lutas bem coreografadas, momentos de explosões e etc. Afinal, estamos falando da eterna e fatal Selene… não poderia dar errado neste aspecto.

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‘Jolt’: Kate Beckinsale interpreta mulher com uma condição rara: esporadicamente, ela sente impulsos de raiva assassina. Imagem: Prime Video/Divulgação

Porém, nem os movimentos incríveis e a presença femme fatale da protagonista de ‘Anjos da Noite’ conseguiram lidar perfeitamente com certos problemas do roteiro escrito pelo estreante Scott Wascha. A trama de vingança clichê – e com uma conclusão ainda mais batida – não incomoda tanto, visto que é algo costumeiro em comédias de ação, tipo ‘Os Mercenários’ e ‘Anjos da Lei’, e é aplicada de forma firme e coesa. Mas, infelizmente, o filme relapsa na motivação contraditória da personagem principal, que é desenvolvida de forma muito rápida e com pouco embasamento, e finalizada com uma transformação ainda mais “da água para o vinho”. Vamos ser sinceros, talvez possa soar errado nos tempos atuais uma protagonista se apegar a um cara tão prontamente a ponto de, bem, vingá-lo.

Por outro lado, o argumento acerta na apresentação dos “superpoderes”. Com os impulsos de raiva assassina, Lindy ganha uma força sobrenatural e se torna a perfeita arma de combate, chamando quatro homens de uma vez para uma luta ou mesmo escalando um prédio gigante com as próprias mãos. Para o início do que pode vir a ser uma ótima sequência, há um diferencial pouco visto em filmes introdutórios de, bem, super-heróis: ela já sabe do que é capaz e, por mais que tenha medo, não se limita quando o público pede por uma cena insana de ação. Sem treinamentos e sem explicações detalhadas, apenas o carisma e a experiência de Beckinsale cumpre bem o objetivo de conquistar quem está assistindo e intrigar sobre o que ela fará a seguir.

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Motivação rasa e clichês afetam, mas não vencem carisma de Beckinsale em tela. Imagem: Amazon/Divulgação

Quanto ao restante do elenco, saiba que o marketing do Prime Video em cima da atriz não é somente por ela ser a protagonista de ‘Jolt’, mas sim porque Beckinsale é, praticamente, o filme inteiro. Diferente de comédias de ação como ‘Dupla Explosiva’ e ‘Red: Aposentados e Perigosos’, que abrem espaço para coadjuvantes terem o momento de brilhar, a produção dirigida por Tanya Wexler (‘Histeria’) quer personagens secundários que cumpram determinada função na história e deem o foram para a estrela voltar ao foco.

Bobby Cannavale (‘Homem-Formiga’) e Laverne Cox (‘Orange Is The New Black’) talvez sejam os únicos em ‘Jolt’ que forneçam ao público uma sensação de não estarem assistindo a um monólogo de Beckinsale, e eles se saem muito bem como os policiais que se afeiçoam a personagem principal, mas inicialmente a consideram suspeita de ter matado Justin (Jai Courtney), o homem que amava (após um encontro e meio, diga-se de passagem). De resto, apenas espere por participações especiais de luxo que aparecem brevemente para influenciar a jornada de Lindy – um desperdício de grandes atores como Stanley Tucci (que pouco aparece), David Bradley (menos ainda) e Susan Sarandon (literalmente 90 segundos, eu contei).

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Kate Beckinsale (Lindy) e Jai Courtney (Justin) em cena quente de ‘Jolt’. Imagem: Prime Video/Divulgação

E como todo bom filme de ação, ‘Jolt’ conta com todos os deslumbres possíveis: explosões, cenas de perseguição rápidas, lutas frenéticas, momentos de combate em meio ao caos e etc. A Amazon Studios, felizmente, se atentou isso de forma correta e chamou a Millennium Media para estar à frente da produção. Tal qual fez com ‘Dupla Explosiva’ e a trilogia ‘Os Mercenários’, a empresa conhecida no mercado por longas do gênero com certeza investiu pesado (os valores exatos não foram revelados) na construção de cenários e efeitos especiais, junto à boa trilha sonora e a uma ótima fotografia, feitas por Dominic Lewis (‘The Man In The High Castle’) e Jules O’Loughlin (‘Invasão ao Serviço Secreto’), respectivamente.

Por fim, a direção de Wexler é segura, sem mostrar originalidade, mas também sem comprometer o filme. Curiosamente, o tom típico de comédia lembra muito outro longa comandado por ela: o divertido ‘Histeria’, lançado em 2011. Contudo, as doses de humor foram aplicadas na medida e sem exageros na produção envolta de ação – primeira investida da cineasta no gênero, inclusive -, que tem começo, meio, fim e uma (grande) ponta solta no final.

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Em quesito técnico, ação é o que não falta em ‘Jolt’. Imagem: Amazon Prime Video/Divulgação

‘Jolt’ é bom filme de ação que pode ser o primeiro de uma sequência (ou universo)

Comparado a ‘Adrenalina’ (2006), em que Jason Statham precisava de doses constante de adrenalina para ficar vivo, ‘Jolt’ traz Kate Beckinsale com uma condição rara chamativa e que certamente é capaz de formar uma trama com três propósitos: entreter, conquistar e (se tudo der certo) fazer mais. Embora o enredo seja extremamente previsível, a intensidade do filme e da atuação da protagonista, a diversão e a violência sangrenta frequente tornam a comédia de ação do Prime Video uma escolha legal para assistir.

A produção tem “choques” suficientes para manter o público entretido por noventa minutos e é capaz de surpreender com um gancho solto no fim para uma sequência ou até a criação de um universo de super-heróis da plataforma de streaming (pois é). No entanto, tal como ‘Mundo em Caos’, não tenho certeza se o público ficará tão interessado para mais filmes – o que seria uma pena, pois apesar dos deslizes no roteiro de Wascha, há potencial para explorar ainda mais a história da carismática e fatal protagonista.

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Universo de super-heróis do Prime Video? ‘Jolt’ pode ser o passo inicial, talvez. Imagem: Prime Video/Divulgação

Quer assistir ao filme? Saiba que ‘Jolt’ chega ao Amazon Prime Video nesta sexta-feira, 23 de julho. Confira mais detalhes com a sinopse oficial e o trailer logo abaixo:

“Lindy (Beckinsale) é uma mulher bonita e sarcasticamente engraçada com um segredo doloroso: devido a um raro distúrbio neurológico ao longo da vida, ela tem impulsos assassinos esporádicos cheios de raiva que só podem ser interrompidos quando ela se choca com um eletrodo especial. Incapaz de encontrar amor e conexão em um mundo que teme sua condição bizarra, ela finalmente confia em um homem por tempo suficiente para se apaixonar, e o encontra morto no dia seguinte. Com o coração partido e enfurecido, ela embarca em uma missão cheia de vingança para encontrar o assassino, enquanto também é perseguida pela polícia como principal suspeita do crime”.

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